A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou hoje, em Luanda, que o surto de raiva provocou na capital angolana, em 2016, um total de 113 óbitos, das quais 24 eram crianças com menos de cinco anos.
A informação foi divulgada pelo representante da OMS em Angola, Hernando Agudelo, durante o lançamento de uma nova campanha de vacinação animal contra a raiva, que decorreu no município de Cacuaco, um dos mais populosos de Luanda e um dos mais afectados pelo surto em 2016.
“Neste momento, temos um grande incremento do número de mortes por raiva a nível do país, principalmente na província de Luanda, que conta já, no último ano, 2016, com 113 vítimas, das quais 24 foram crianças menores de cinco anos”, assinalou o representante da OMS.
A campanha de vacinação animal contra a raiva teve início hoje e decorre até ao dia 20 de Fevereiro mobilizando para toda a província 272 equipas, com o objectivo de vacinar aproximadamente 260.000 animais, sobretudo cães, mas também gatos e macacos.
O representante da OMS em Angola apelou na ocasião à participação massiva da população nos postos de vacinação animal, pelo facto de “as vacinas representarem um custo muito elevado” para a população.
“Uma família pode gastar 250 dólares para combater o surto, ao passo que a vacina para um animal custa apenas um dólar. Daí que é muito mais barato promover as campanhas de vacinação animal para fazer a prevenção da raiva nos cães”, alertou.
Promover campanhas de vacinação em massa para os animais, garantir que as pessoas mordidas por cães recebam tratamento imediato e a assegurar a participação das comunidades e das famílias dos doentes nas campanhas de prevenção são alguns dos mecanismos que constam do plano da OMS para eliminar a raiva nos seres humanos.
“Então, é necessário apoiar os esforços do Governo, que está a disponibilizar meios e vacinas para fazer face a esta alarmante situação, e encorajo a toda a população para se responsabilizar e levar todos os animais aos postos de vacinação”, acrescentou Agudelo.
Em 99% dos casos a raiva é transmitida através de mordeduras dos cães, doença que mata 59.000 pessoas por ano em todo mundo, sobretudo em África e na Ásia.
“O mais importante nessa luta é a vacinação dos animais”, concluiu o representante da OMS.
Raiva é problema recorrente
Em 2015, nos primeiros nove meses, já Angola contava com 19.073 casos de mordeduras de animais, dos quais 78 resultaram em mortes, na sua maioria crianças, situação que – supostamente – preocuparia as autoridades sanitárias. Supostamente porque estamos em 2017 e tudo continua na mesma ou, talvez, pior.
Em Outubro de 2015 (relembre-se), a chefe de departamento de inspecção da direcção provincial da saúde de Luanda, Paula Silva, disse que o número de mortes por raiva representa um aumento significativo, comparado com os 31 registados em 2014.
Adiantou que os municípios de Belas, Kilamba Kiaxi e Maianga apresentam o maior número de casos (15% dos casos cada), seguindo-se Cazenga (11%), Rangel (9%), Sambizanga (9%) e Viana (8%).
Relativamente às mortes por raiva registadas no período em referência (Janeiro/Outubro), o município de Viana liderava a lista dos casos, com um total de 27 óbitos, seguindo-se Cacuaco (14), Cazenga (13), Kilamba Kiaxi (10), Belas (7), Icolo e Bengo (3), Sambizanga (2) e Maianda e Samba com (1) cada.
Paula Silva admitiu que a situação era “preocupante”, salientando que continuavam as campanhas de sensibilização sobre os cuidados a ter com os animais, sobretudo as crianças, já que elas representam o maior número de vítimas.
De acordo com a responsável, crianças dos cinco aos nove anos aparecem nas estatísticas como a mais afectadas, sendo também os rapazes os mais atingidos.
O exemplo do Cacuaco
As autoridades sanitárias do município do Cacuaco estavam preocupadas (continuamos em 2015) com o elevado número de ataques por cães, com uma média semanal de mais de 50 casos, registados nesta circunscrição nos arredores de Luanda.
O director municipal de saúde pública do Cacuaco, Vítor Teca, classificava como “assustador” o número de casos registados, envolvendo estes ataques a pessoas.
Entre finais de 2008 e meados de 2009, um surto de raiva assolou a capital angolana, tendo vitimado mais de 100 pessoas, sobretudo crianças.
“Semanalmente, registamos cerca de 53 casos de mordeduras e o nosso apelo à comunidade tem sido encaminhar a pessoa mordida aos serviços de saúde municipal do Cacuaco e, antes de sair de casa, lavar a ferida com bastante água e sabão”, referiu o técnico.
A médica veterinária Aida Luís Vieira explicava que semanalmente eram vacinados entre 100 a 200 cães, considerando que é um número ínfimo face à população canina existente no Cacuaco.