A CASA-CE ameaçou hoje recorrer a uma manifestação para ter tratamento igual ao dado pelos meios de comunicação social públicos angolanos ao cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais. A ideia não é má embora, mais uma vez, os eleitores possam perguntar onde estava a CASA-CE quando se realizaram manifestações da sociedade contra o nepotismo, a cleptocracia e a ditadura do regime.
Por Orlando Castro
Entende a CASA-CE, e tem razão, que existe uma total partidarização dos meios de comunicação social do MPLA, partido no poder desde 1975, e do seu cabeça-de-lista, João Lourenço. A Coligação deveria já ter entendido que esses não são órgãos públicos mas, apenas, correias de transmissão do regime/Estado. E sendo assim, estão apenas ao serviço do regime.
A CASA-CE denuncia o “tratamento desigual e discriminatório” desses órgão de propaganda (não se lhes pode, em bom rigor, chamar órgãos de comunicação social) às diferentes formações políticas. É chover no molhado, é querer que – sem “ordens superiores” do regime – os rios passem a nascer na foz.
Mas sendo a Coligação dirigida por Abel Epalanga Chivukuvuku uma organização política que, ao contrário do MPLA, prima pelo diálogo e pela crença quase sacerdotal de que é possível acossar a onça com vara curta, continua a acreditar que esses órgãos do regime irão um dia dar igualdade de tratamento aos principais partidos.
Talvez a fé da CASA-CE seja uma realidade. Só falta saber quando. Provavelmente depois das eleições. Talvez a TPA, a RNA e o JA venham um dias destes, quando já nada adiantar, ouvir a opinião da CASA-CE. Espanta, por não ser nada de novo, que a Coligação ainda não tenha percebido que é preferível caçar com uma azagaia própria do que pedir uma espingarda ao MPLA. O MPLA não terá problemas em emprestar a caçadeira. O problema estará quando se puxar o gatilho com a onça a poucos metros. Nessa altura se descobrirá que a arma foi fornecida sem munições…
O vice-presidente da CASA-CE, André Mendes de Carvalho “Miau”, considerou hoje não haver termo comparativo com a emissão de cerca de três horas sobre as actividades do candidato do MPLA à Presidência da República, com os cerca de cinco minutos conferidos às actividades da Coligação.
Porque será que, apesar da experiência e credibilidade da maioria dos seus dirigentes, a CASA-CE continua a julgar que Angola é aquilo que não é nem nunca foi – uma democracia e um Estado de Direito? Só esta ilusão, esta miragem, esta utopia, pode levar alguém de bom senso a estranhar o que os órgãos do regime fazem. É assim com os órgãos de propaganda do MPLA (TPA, RNA e JA), é assim com a Polícia Nacional do… MPLA, com os tribunais do… MPLA.
“Por outro lado, esta questão de pré-candidato (João Lourenço) não é uma figura que tenha cobertura na lei, essa coisa de pré-candidato não existe”, disse André Mendes de Carvalho “Miau”, sublinhando que estão a ser violadas a Constituição da República e a Lei dos Partidos Políticos, que impõem igual tratamento.
E pronto. Lá está a CASA-CE, mais uma vez, a pensar que somos uma democracia e um Estado de Direito. Esta infantilidade, importa reconhecer, está a desiludir grande parte do potencial eleitorado da Coligação. Os angolanos começam a estar fartos de quem, ingenuamente, teima em não dizer com todas as letras, em todos os locais, que às segundas, quartas, sextas e domingos o MPLA é um partido ditatorial e que às terças, quintas e sábados é um partido cleptocrático.
Sejam diferentes, sejam melhores
E por falar em manifestações. A CASA-CE (e no caso também a UNITA) não participaram institucionalmente na manifestação cívica contra a nomeação – pelo pai – de Isabel dos Santos para Presidente do Conselho de Administração da Sonangol.
Para o regime aceitar esta manifestação com a normalidade constitucionalmente estabelecida era preciso que Angola fosse o que não é, um Estado de Direito Democrático. Para que a CASA-CE (e a UNITA) participasse institucionalmente na manifestação era preciso ter o que não teve – coragem.
No entanto, diversas personalidades marcaram presença e defender a legalidade num país de ilegalidades. Lúcia da Silveira, presidente da AJPD, Justino Pinto de Andrade, presidente do Bloco Democrático, o antigo primeiro-ministro Marcolino Moco e o activista Luaty Beirão estiveram presentes. Mas também lá estiveram Sizaltina Cutaia, William Tonet, Filomeno Vieira Lopes, Manuel Victória Pereira, Fernando Macedo, Dago Nível, Nuno Álvaro Dala e Mbanza Hanza.
A CASA-CE (tal como a UNITA) não acredita na transparência e legalidade das grandes decisões tomadas por José Eduardo dos Santos, sendo que a nomeação da sua filha para PCA da Sonangol é apenas um exemplo, mas um exemplo paradigmático. Não acredita mas quando é chamada a agir… prefere reagir.
Fazendo fé nos inúmeros comentários e opiniões que chegam ao Folha 8, os angolanos começam a afirmar que, afinal, votar na CASA-CE (ou na UNITA) não significa uma perspectiva de mudança. Talvez acreditem que para pior… basta assim. E, portanto, o MPLA tem terreno livre para se manter no poder durante mais umas décadas.
Não admira que os angolanos gostem de ouvir a UNITA e a CASA-CE e nas próximas eleições vão votar no… MPLA.
Em que país vivem alguns os dirigentes da CASA-CE? Por outras palavras. A CASA-CE diagnostica com bastante precisão, reconheça-se, a enfermidade do doente com malária. Mas quando toca a ministrar a medicação… fecha os olhos e espeta a injecção no doente ao lado que ali está a tratar uma bitacaia.
A CASA-CE sabe que um país mudo não muda. Quando têm uma oportunidade de, na prática, mostrar aos angolanos que devem falar, que devem dizer o que pensam, ficam… mudos. Só o MPLA fala.
As teses de Abel Epalanga Chivukuvuku, apesar de correctas, correm o risco de ser ineficazes. Os angolanos continuam sem saber se qualquer reflexão que ultrapasse o círculo mediático interno serve para acordar aqueles que sobrevivem com mandioca ou, pelo contrário, apenas se destinam a untar o umbigo dos que se banqueteiam com lagostas em Luanda.
A CASA-CE parece ainda não ter percebido que está em cima de um tapete rolante que anda para trás. Por isso limita-se a andar. E, é claro, fica com a sensação de estar a ganhar terreno mas, no final de contas, está sempre no mesmo sítio.
Ninguém melhor do que Chivukuvuku para saber se a CASA-CE vai conseguir viver sem comer. Um dia destes, talvez já em Agosto deste ano, o MPLA virá dizer, com uma lágrima no canto do olho (sorridente) que exactamente quando estava mesmo, mesmo quase, a saber viver sem comer… morreu.