Milhares de angolanos vão todos os dias para as ruas de Luanda para vender de tudo um pouco, desde armações para óculos ou telemóveis de 1.000 euros, reparando até calçado na via pública, tudo para levar alguns kwanzas para casa. A sobrevivência, sempre difícil (Angola tem 20 milhões de pobres) a isso obriga e, é claro, a necessidade aguça o engenho.
Numa ronda pelas ruas da capital angolana, a Lusa constatou esta realidade, que – conta o seu repórter – torna a cidade numa espécie de mercado ambulante global, marcada por todo o tipo de rendimentos que servem para garantir o sustento de milhares de famílias.
É o caso de Maravilha da Silva, uma das muitas mulheres que todos os dias vai para as ruas de Luanda vender telemóveis.
Em conversa com a Lusa, esta jovem de 30 anos diz que o negócio é rentável e que os telemóveis mais baratos são os que têm maior saída. Em pleno centro de Luanda, chega a vender 15 telemóveis por dia, a preços que variam entre os 6.000 e os 200.000 kwanzas (30 e 1.000 euros).
“Temos, sim, pessoas que compram os telefones digitais, mas são poucas. Aqui a opção recai muito para os telefones de 6.000 e 12.000 kwanzas [até 60 euros] e preferimos vender aqui na rua devido ao elevado número de transeuntes”, explica.
De acordo com a vendedora ambulante, os produtos são provenientes do Dubai e são poucas as pessoas que se arriscam a comprar um telemóvel topo de gama, devido aos preços: “Aparecem mesmo alguns clientes, fizemos descontos e com garantia de um mês nesses telefones mais caros”, acrescenta.
Noutro ponto da cidade, a Lusa encontrou Alberto José, de 32 anos, que passa o dia a percorrer Luanda a pé, a vender armações para óculos graduados, precisamente em frente a uma loja de óptica.
“Estarmos na rua é um bocado complicado e como se não bastasse, a crise também afectou muito o nosso negócio, com a procura a reduzir consideravelmente”, explica.
Há três anos nesta actividade, Alberto José conta que os preços dos produtos que comercializa são acessíveis e que todos os dias consegue levar para casa, de lucro, até 8.000 kwanzas (40 euros).
“Temos armação de 2.000 e de 4.000 kwanzas [10 a 20 euros], os nossos preços aqui são variáveis. Estamos a remediar-nos, para não faltar um pão em casa, assim vai a vida”, desabafa.
Ainda no centro da capital angolana, a Lusa encontrou o sapateiro Fernando Sebastião Fialho. É sapateiro profissional há 37 anos e assume que tem muitos clientes, devido, afirma, à qualidade do serviço que presta.
“Para reparar calçados eu cobro barato e os preços são a partir de 1.000 kwanzas [cinco euros], aliás no negócio não adianta alargar muito o preço e ter poucos clientes, daí que baixo para ter muitos clientes a assim a procura aumenta”, aponta.
Explica que o ofício é digno e rentável, por isso até é várias vezes solicitado para ir fazer trabalhos ao domicílio.
“Sou um sapateiro que também faz serviços ao domicílio, entre lavar, cozer, engraxar e aplicar outros adornos aos calçados. No máximo, diariamente, consigo ter um ganho de 10.000 kwanzas [50 euros]”, realça.
Face à demanda, “Chiquinho”, como é mais conhecido pelos clientes, adianta que precisa alargar o leque de ferramentas que usa e passar para uma reparação de sapatos com uma técnica mais apurada. Isto devido às dificuldades de trabalhar manualmente mais de sete horas por dia.
“Agora estou a precisar de formas e outras máquinas para alargar sapatos, porque à mão é muito cansativo”, relata, sublinhando que dedica 90% do seu tempo a reparar calçado e o restante a engraxar, pelo centro da cidade de Luanda.
Lusa com edição Folha 8
Um dos factores que influencia a venda de produtos nas ruas é o engarrafamento em algumas zonas da cidade. Uma vez que os vendedores aproveitam as longas filas de carros parados, ou com marcha lenta para poderem comercializar os seus produtos, já que os clientes (automobilistas) ficam mais minutos no trânsito do que deviam.
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