Ao que parece, os ortodoxos do regime angolano, agora capitaneados por João Lourenço, não conseguem deixar às gerações vindouras algo mais do que a pura expressão da cobardia que, entre outras coisas, faz com que milhões de angolanos tenham pouco ou nada, e poucos tenham muitos milhões.
Por Orlando Castro
João Lourenço acusou, no Bié, a UNITA, e as suas forças militares, de ter sido responsável pela destruição da capacidade industrial do país durante a guerra, o que cria dificuldades adicionais na criação de emprego para os jovens. Trata-se de, nesta altura, um paradigmático acto de cobardia do candidato do MPLA à Presidência do reino.
Talvez esses génios do MPLA, quase todos paridos nas latrinas da cobardia, pensem que não é necessário dar corpo e alma à angolanidade. É por isso que alimentam o ódio e a discórdia, o racismo, não reconhecendo que a liberdade deles termina onde começa a dos outros. Não aceitando que a reconciliação passa pela inclusão e não pela exclusão, não reconhecendo que numa guerra, como foi a nossa, ninguém tem razão.
Porque não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, permitimo-nos a ousadia (que esperamos – com alguma ingenuidade, é certo – compartilhada por todos os que responderam a esta chamada) de tentar o impossível já que – reconheçamos – o possível fazemos nós todos os dias.
Como jornalista, como angolano, como ser humano, entendo que a situação angolana ultrapassou durante a guerra todos os limites, mau grado a indiferença criminosa de quem, em Angola ou no Mundo, nada fez para acabar com a morte viva que 15 anos depois da paz caracteriza um povo que morre mesmo antes de nascer.
Ao reacender estas acusações, João Lourenço mostra que – afinal – pertence ao grupo que advoga a tese de que em Angola existem dois tipos de pessoas: os angolanos (os que são do MPLA) e os outros (os que não são do MPLA).
João Lourenço está-se nas tintas para os tais “outros” que morrem todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos. E morrem enquanto o MPLA (este MPLA) canta e ri. E morrem enquanto ele, em Luanda, come lagosta.
É que, quer o MPLA queira ou não, como na guerra, a vitória é uma ilusão quando o povo morre à fome. E nós temos 20 milhões de pobres. Tal como está a Angola profunda, a Angola real, a Angola construída à imagem e semelhança do MPLA e dos seus dirigentes, ninguém sairá vencedor das próximas eleições. Todos perdem. Todos perdemos.
Admitimos que o próprio José Eduardo dos Santos terá de vez em quando consciência de que a sua ditadura não é uma solução para o problema angolano, sendo antes um problema para a solução. No entanto, João Lourenço não pode ter esse benefício da dúvida. O seu comportamento mostra um índice de menoridade civilizacional e um nanismo intelectual que só tem um objectivo: instaurar o partido único, blindar a ditadura e negar qualquer direito aos escravos do reino.
Numa altura em que seria pequeno o passo que é preciso dar para que os angolanos, irmãos de sangue, se entendam para ajudar Angola a ser um país onde os angolanos sejam todos iguais e não, como agora acontece, uns mais iguais do que outros, João Lourenço volta a estragar tudo, volta a apelar à guerra.
Se há 15 anos todos nos entendemos para que Angola deixasse de ser uma gigantesca vala comum, não seria difícil que que nos entendêssemos no sentido de que a força da razão substitua a razão da força. Eis então que aparece João Lourenço a defender o contrário, desenterrando muitos fantasmas e mostrando que para ele a guerra só acabará quando deixarem se existir pessoas que pensem de maneira diferente.
Durante demasiados anos de guerra, os angolanos mataram-se uns aos outros. Acabada essa fase, os angolanos continuam a matar-se uns aos outros. Não directamente pela força das armas, mas pelo poder que as armas dão aos que querem – o MPLA – subjugar os seus irmãos que consideram de espécie inferior.
Mais do que julgar e incriminar, importava parar com as acusações. Parar definitivamente. João Lourenço e o MPLA assim não entendem. Aproveitaram o intervalo na guerra que acham que ainda não acabou para, no meio de palavras às vezes simpáticas e conciliadoras, ganhar tempo e continuar o processo de esclavagismo, ganhar tempo para formar novos milionários, ganhar tempo para sabotar eleições, ganhar tempo para enganar o Povo.
Quinze anos passados, Angola tem generais assassinos a mais e angolanos a menos. Angola tem feridas suficientes para ocupar os médicos (que não tem) durante décadas. Mesmo assim, João Lourenço não está satisfeito.
Convém, por isso, que a democracia, a igualdade de oportunidades, a justiça, o Estado de Direito cheguem antes de morrer o último angolano. Esperamos que disso se convença João Lourenço. É que se continuar a insistir na guerra, um dia destes alguém lhe fará a vontade.
Srs da Redação do Folha 8 postei um comentário ao vosso artigo “A Cobardia de João Lourenço” de autoria do sr. Orlando Castro a mais de duas horas. Não vejo o meu comentário publicado, sei que os srs o receberam pois preenchi todos os requisitos que exigem para o efeito.
Espero vossa imparcialidade e agradeço publicarem o meu comentário, pois se abrem este espaço é para o público se pronunciar e não para os agradar. Assim é a democracia, não é srs?!
Sr. Orlando Castro os seus artigos e de outros mais senhores ao serviço do Semanário Folha 8, continuam a ser um lamaçal de impropérios. Certo prelado hoje jubilado a determinada altura se pronunciou a respeito de comentários ou direito de resposta, tendo dito que o jornalista acaba por ter sempre a última palavra. Eles são os que por estarem onde estão formulam opinião contrária à quem se queira defender. Portando disse o prelado hoje jubilado que não valia a pena chatear -se em responder mesmo tendo sido ofendido na sua honra e dignidade. Sr Orlando onde terá o senhor sido parido? Aceitaria que alguém lhe dissesse ter tal ocorrência acontecido, salve a redundância, num prostíbulo com as latrinas mais imundas que se possa imaginar. Pois num lugar desses há camas e numa latina não. Escreva senhor para convencer da propriedade da sua palavra e argumentos. O candidato do MPLA assim se pronunciou, creio não se referindo especificamente ao Bié, mas ao País no seu global e garanto-lhe sr. Orlando Castro que ele o fez provavelmente pelos pronunciamentos de outros políticos que durante a campanha vão falando do que foi a governação de 40 Anos do MPLA. Agora pode crer que foi a UNITA que sabotou em 1986 a Barragem do Gove quase provocando uma catástrofe ambiental e humana de proporções não imagináveis com a detonação de explosivos nas galerias da barragem, tudo que estivesse no caminho da imensa água da albufeira seria destruído e arrasado, quantas vidas humanas se perderiam e quantas outras obras de engenharia seria afectadas. Foi a rápida intervenção do Governo da RPA que evitou o pior. A Barragem do Gove destinava-se e ainda se destina a regulação do caudal do Rio Cunene e ao fornecimento de energia eléctrica ao Planalto Central e não era para beneficiar as FAPLA ou o próprio MPLA. Quem destruiu a Barragem do Lumaun na Província de Benguela, quem destruiu a Barragem das Mabubas no Bengo depôs de ter sido reparada e quase pronta para entrar em funcionamento e fornecer energia eléctrica aos Municípios e Comunas dessa Província. Quem durante a guerra destruiu os postes e linhas da alimentação de energia eléctrica a cidade de Luanda, onde beneficiavam a população, hospitais, fabricas e escolas. Quem atacava indistintamente camiões na via de Kanjala e quem em último recurso protegia os indefesos camionistas que procuravam escoar produtos do campo e outras mercadorias do Centro-Sul para Luanda e desta levar produtos para o Centro-Sul. O mesmo se passava noutras direcções. Quem garantia e protegia o abastecimento alimentar e de outras necessidades as populações do Norte (Uíge) e Nordeste (Lundas Norte e Sul) e Leste (Moxico). Eu e outros mais, mas muitos mais estavam cá enfrentamos de frente essas situações e no terreno, por onde andava o senhor jornalista? Tem ou não o candidato do MPLA de se pronunciar durante a sua campanha para esclarecer e de viva voz dizer sempre como aqui chegamos. Não se quer repetir o passado, mas dele tem de se falar. Houve algum pacto para se omitir ou esconder o que vivemos no passado? Ele falou do que implicou em parte o atraso e não falou dos horrores que se viveu no passado. Os senhores estão na campanha, ou melhor na vanguarda da campanha de tudo vale para derrubar ou apear o MPLA de uma governação continuada, esse é o vosso propósito. Alguma vez se interessaram em saber como foi a governação da UNITA nas áreas que teve sob controlo durante a guerra 1975/1991 e de 1992/2002, onde certos dirigentes desse partido com vaidade afirmam terem em determinado momento controlado 70% do território Nacional. Talvez dirão que foi durante a guerra, pois os governos sustentados pelo MPLA governaram de 1975 até 2002 com País em guerra e só de 2002 até à data Agosto de 3017 em paz e com muitíssimos problemas quer de acomodação de ex-inimigos o preço da PAZ e a responsabilidade com os que por si lutaram como reconhecimento merecido. Tem sido fácil claro que não. Continuamos a viver com muitos problemas e por isso entendo que o MPLA em acto de autocrítica se propõe MELHORAR O QUE ESTÁ BEM E CORRIGIR O QUE ESTÁ MAL.!