Os bispos católicos angolanos defenderam hoje que Angola precisa de um Governo competente, que “governe para todos e não apenas para aqueles que o elegeram e, pior ainda, para uma elite de privilegiados”.
Por Orlando Castro
Ao longo dos 41 anos de independência, mas sobretudo durante os 38 anos que José Eduardo dos Santos leva como Presidente da República, nunca nominalmente eleito, a maioria dos bispos católicos têm apoiado o Presidente da República (José Eduardo dos Santos) às segundas, quartas e sextas, o Titular do Poder Executivo (José Eduardo dos Santos) às terças, quintas e sábados e o Presidente do MPLA (José Eduardo dos Santos) aos domingos. A afirmação agora feita carece, por isso, de credibilidade.
A posição dos bispos foi expressa numa Mensagem Pastoral sobre as eleições gerais previstas para Agosto, lida no final da primeira assembleia plenária da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que terminou hoje na província de Benguela.
A mensagem dos bispos em ano de eleições visa “no mínimo” ajudar a “superar o cepticismo, a desconfiança e a indiferença, diante deste acontecimento importante, que marca a vida da sociedade, também da igreja de Angola”.
De acordo com os bispos, passados mais de 41 anos desde a conquista da independência de Angola, os angolanos continuam a “sonhar com um país próspero, democrático, sem corrupção, socialmente justo e economicamente sustentável”.
E o que fez a Igreja Católica durante todos esses anos para que o sonho dos angolanos se tornasse uma realidade? Regra geral foi forte com os fracos e fraquinha com os fortes, ajoelhando-se perante o dono do país mas, por outro lado, fazendo questão de estar de pé perante Deus. E deveria ser ao contrário.
Para os prelados, Angola precisa igualmente de uma oposição forte, que obrigue quem governa a dar o melhor de si em prol do bem de todos.
“As eleições são para este efeito o instrumento que permite aos cidadãos escolherem os seus representantes e o projecto político que querem ver implantado nos próximos anos, contribuindo com a escolha expressa pelo seu voto, para a construção de uma sociedade mais justa e um futuro melhor para todos”, referem os bispos.
Será que os bispos acreditam mesmo que os angolanos têm o poder de escolher? Nada saberão – nem que fosse pelo que se passou em outras eleições – sobre esse monumento do regime que dá pelo nome de fraude? Nada saberão sobre um Povo que, como sempre aconteceu, não decide com a cabeça mas com a barriga, regra geral vazia?
Na sua mensagem, os bispos da CEAST sublinham que a Igreja Católica “encara com simpatia o sistema da democracia”, mas ela não pode “favorecer a formação de grupos restritos de dirigentes, que usurpam o poder do Estado, a favor dos seus interesses particulares ou dos objectivos ideológicos”.
Mas se isto é o que sempre se passou, onde andavam os bispos católicos? A democracia não é um sistema político novo no mundo, se bem qua ainda não tenha chegado a Angola. E então, senhores bispos, onde andaram vocês durante estes anos em que o regime produziu 20 milhões de pobres, em que colocou o país no topo dos países mais corruptos, em que colocou Angola a liderar a mortalidade infantil no mundo?
Acrescentam os bispos que há eleições democráticas, quando o povo pode escolher “com liberdade e responsabilidade e sem intimidação, nem aliciamentos, aqueles que a seu ver têm qualidades necessárias para promoverem o bem comum”.
Pois é. Mais uma vez os nossos bispos católicos teimam em passar a mensagem de “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”. Mas assim não vale. Não podem estar do lado de Deus e do Diabo. Têm de escolher. Têm de estar clara e inequivocamente do lado dos que são, continuam a ser, gerados com fome, a nascer com fome e a morrer – pouco depois – com fome.
Os bispos, agra vestidos com batinas de seriedade, dizem que os partidos políticos que vão concorrer às eleições devem apresentar aos cidadãos os programas políticos, que pretendem implementar se forem eleitos.
“Não se limitando a apontarem meias frases ou metas vagas, como melhorar a educação, melhorar a saúde, combater a corrupção, mas esclarecendo que metas concretas se propõem a alcançar, como se propõem a alcançá-las, quais as pessoas competentes, com que cada partido conta, para pôr em prática o seu programa político”, refere a nota dos bispos.
Também é isso que os angolanos esperam, há 41 anos, que os bispos fizessem. Nada de meias frases, de metas vagas. Infelizmente foi mais fácil passar um elefante pelo buraco de uma agulha do que ver os bispos a defender o Povo.
Os bispos apelam, agora, à responsabilidade de todos para o bom curso do processo eleitoral, antes, durante e depois das eleições, e aos responsáveis políticos e partidários para que garantam a “máxima transparência de todas as fases do processo eleitoral para que decorra de forma pacífica e a sua credibilidade não seja colocada em questão”.
“Este apelo dirige-se de igual modo à sociedade civil. Se alguém detectar alguma irregularidade deve informar e reclamar imediatamente nos termos da lei, para que eventuais irregularidades sejam analisadas e tidas em conta antes da divulgação dos resultados. De modo a que estes não venham a ser questionados”, apelam os prelados.
E será que essa mesma sociedade civil pode contar com a denúncia dos bispos e restantes membros da hierarquia de Igreja Católica, caso detectem irregularidades? Ou, pelo contrário, vão fazer de conta que tudo está na santa paz do senhor, chame-se ele José Eduardo dos Santos ou João Lourenço?
“A igreja católica não se identifica com nenhum sistema político nem endossa algum candidato, todavia, a igreja encoraja e exorta todos os cidadãos a exercer o seu direito e dever de voto”, acrescentam.
Vamos ver para crer se, no fim de contas, os bispos não voltam a estar cegos ou, para azar dos angolanos, de olhos fechados.