O ministro do Interior de Angola disse hoje em Luanda, certamente com a bênção do putativo presidente emérito, que está agendado um encontro para Julho com os partidos políticos concorrentes às eleições gerais de 23 de Agosto, para abordar questões de segurança. Nem mais. Segurança.
Por Orlando Castro
 ngelo Veiga Tavares reiterou a prontidão para o asseguramento das próximas eleições gerais, para que “seja um processo sem tumultos”. Em caso de dúvidas e porque, segundo o MPLA, até prova em contrário todos somos… culpados, cá estarão a Polícia Nacional (do MPLA) e as Forças Armadas (do MPLA).
“Somos eternos sacrificados, estamos sempre preparados para lutar nas dificuldades, temos inúmeras dificuldades e é do domínio geral, mas vamos dizer mais uma vez e já temos estado a reiterar que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que esse processo seja um processo sem tumulto, um processo adequado”, disse Ângelo de Barros Veiga Tavares.
O governante apelou para o bom sucesso desse processo, o compromisso e envolvimento de todos os actores nestas eleições, nomeadamente cidadãos e partidos políticos que não se importem de fazer o papel de palhaços.
“Naturalmente para isso não basta as nossas forças, é preciso que todos os entes envolvidos, nomeadamente o cidadão comum e os partidos políticos tenham o sentido de responsabilidade, é preciso ter bastantes cautelas nos discursos, é preciso colocar o país acima dos interesses dos partidos e mantermos essa paz que foi alcançada com muita dificuldade”, frisou o ministro. É claro que há sempre uma excepção, há sempre quem esteja acima da lei. Nada disto, como sabemos por experiência própria se aplica ao MPLA que – é verdade – tem direitos de soberania e de excepção adquiridos nos últimos 42 anos.
Angola vai realizar eleições dentro de dois meses, e conta para o efeito com um número de 9.317.294 eleitores, segundo dados oficiais que o Ministério da Administração do Território entregou à Comissão Nacional Eleitoral. Refira-se que mais (muito mais) do que cinco milhões são filiados do MPLA, muitos dos quais já o eram mesmo antes de as mães engravidarem.
Para estancar esse tipo de acções “criminosas” não custa admitir que o MPLA resolva, um pouco na senda da estratégia usada contra Julino Kalupeteca, exortar a Polícia Nacional e “todos os órgãos de Defesa, Segurança e de Justiça” a tomarem medidas “que conduzam à responsabilização dos desordeiros”, apelando ainda às populações “a não segui-los, a manterem vigilância cerrada sobre eles e a denunciá-los, quando estejam a preparar acções subversivas”.
Acções subversivas que são todas, entendamo-nos, as que visem desmascarar a estratégia fraudulenta do regime.
Previsivelmente, na óptica do regime, qualquer pronunciamento fora dos cânones da cartilha do MPLA são o prenúncio do regresso à guerra civil pelo que o melhor seria (como o Folha 8 sugeriu em devido tempo ao putativo presidente emérito) decretar a ilegalização de todos os partidos da oposição, regressar ao partido único, e prender os responsáveis políticos que continuam a querer que Angola seja o que nunca foi nestes 42 anos de independência: uma democracia e um Estado de Direito.
Razão tinha, e pelos vistos continua a ter, Kundi Paihama (por sinal um governador para qualquer província) quando explicou ao país que os antigos militares do MPLA, “se têm armas”, não é para “fazer mal a ninguém” mas sim “para ir à caça”. Já quanto aos outros…
Quanto aos antigos militares da UNITA, Kundi Paihama disse na altura que a conversa era outra e lembrou que mais cedo ou mais tarde vai ser preciso falar sobre este assunto.
E então? Se calhar é chegada a altura.
Importa por isso perguntar: Então malta da UNITA? O que é que é isso? Têm para aí um arsenal de metralhadoras debaixo da cama para quê? Não é para caçar, com certeza. E julgavam vocês que o MPLA não descobria? Francamente!
Em abono da sempre divina tese do MPLA, reconheçamos que – por exemplo – Alcides Sakala tem na sua secretária de trabalho 925 Kalashnikov, para além de 423 mísseis Stinguer.
E Lukamba Gato? Da última vez que estivemos com ele trazia na mala aí uns 14 órgãos Staline (seriam katyushas?), para além de transportar no porta-bagagens do carro oito tanques Merkava de fabrico israelita.
“Eu tenho muitos dados na qualidade de Ministro da Defesa (…) mas não posso revelar publicamente”, indiciou Kundi Paihama, na altura o ministro da Defesa, que disse ainda acreditar que há dirigentes da UNITA interessados num regresso à guerra. Recordam-se?
Chegou mesmo a pensar-se que tinham regressado com o disfarce de serem membros da Kalupeteca.
Como diria Luvualu de Carvalho, João Pinto e outros sipaios ainda em formação, os serviços de informação do MPLA até descobriram que Isaías Samakuva nunca sai à rua sem levar no bolso três tanques ucranianos, modelo T-84. Não são grande coisa, mas quem não tem cão caça com gato.
Das duas, uma: Ou o MPLA acredita nas próprias mentiras ou tem em prontidão máxima as suas forças para justificar uma qualquer purga, até mesmo – como aconteceu a 27 de Maio de 1977 – dentro do próprio MPLA onde, apesar do medo, começam a aparecer algumas importantes vozes a discordar do dono do país, venha ele a ser ou não emérito.
E se os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram milhares de mortos, foram o resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder, será que o actual “querido líder” está, ou teme vir a estar, na mesma posição?
Será que, como há 38 anos, Angola tem algum Nito Alves, ministro ou não, político ou não, chefe militar ou não, disposto a protestar contra o rumo despótico do MPLA?
E se tem, voltaremos a ter, tal como em 12 de Julho de 1977, uma declaração oficial do Bureau Político do MPLA a falar de uma “tentativa de golpe de Estado”?
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