Há numerosos programas nos sectores da agricultura, pescas e indústria, da iniciativa do Executivo de sua majestade o rei de Angola, que estão a merecer avaliação e acompanhamento para que os eventuais constrangimentos sejam eliminados. Constrangimentos? Isso não existe, mas…
Por Orlando Castro
Estruturantes na concepção da nova filosofia em que assenta a estratégia de aumento da produção de bens e a diversificação económica em geral, que chega ao nosso país com décadas de atraso, são programas ambiciosos (como tudo o que o regime elabora olhando para o seu umbigo) nas metas que se propõem.
Angola encontra-se numa fase (para onde foi levada pela inépcia do Governo) em que precisa de assegurar sustentabilidade a todos os projectos, sendo igualmente importante que os mesmos avancem sem os estrangulamentos burocráticos e financeiros que ainda se notam, segundo escreve o Pravda. Hum! Estaremos mesmo a falar de Angola?
“Na última sessão conjunta das comissões Económica e para Economia Real do Conselho de Ministros, que teve lugar quinta-feira, em Luanda, ficou manifesto a necessidade urgente de se ultrapassar os embaraços que os empresários e empreendedores enfrentam na prossecução dos seus afazeres. Urge fazer diagnósticos exactos e correcções profundas para o processo de produção de bens com o fim de reduzir as importações”, explica o Boletim Oficial do regime.
É estranho, confessamos. “Correcções profundas”? O pasquim deve estar a referir-se aos países democráticos pois, por cá, tudo quanto o regime fez ao longo dos 40 anos de independência não carece de qualquer tipo de correcção, muito menos profunda. Relembremos que o regime tem o maior índice mundial de peritos por metro quadrado.
Não nos podemos dar ao luxo da contínua dependência externa em matéria de produtos básicos com comprovada capacidade de produção interna. Capacidade interna que o país sempre teve e que está à disposição dos donos do país, sem constrangimentos, pelo menos desde 2002.
A garantia de segurança alimentar passa igualmente pela inversão da situação actual que, em função da implementação de numerosos projectos, já conhece gradualmente mudanças. Passou a ser uma questão de Estado a redução das importações a favor do aumento da produção interna, desafio que está a ser assumido pelo Executivo com a ajuda dos seus parceiros a todos os níveis.
Graças a Deus, ou melhor, graças ao Seu representante na Terra (José Eduardo dos Santos), o Estado (leia-se regime) descobriu agora o que todos sabemos há décadas. Tudo isto aconteceu porque, de facto, às segundas, quartas e sextas o rei olha para o umbigo e às terças, quintas e sábados o umbigo olha para o rei. Ao domingo vêem-se os dois ao espelho.
Numa altura em que Angola se encontra (isto é como quem diz!) num processo de diversificação da economia, urge limar as arestas que persistem sobretudo na produção dos bens essenciais programados, fundamentalmente os da cesta básica. Em tempo de crise, económica e financeira, não há dúvida de que as famílias com rendimentos mais modestos tendem a ser as mais pressionadas, razão pela qual a existência funcional de uma cesta básica se torna vital.
A escrever desta forma, o Pravda até parece um jornal que nunca comeu da manjedoura do regime. Mas a verdade é que, ao contrário do Povo, come à grande e à MPLA desde 1975.
“Os programas dirigidos, no âmbito da estratégia para a saída da crise derivada da queda do preço do petróleo no mercado internacional, estão em execução um pouco por todo o país. E atendendo à realidade por que passa as diferentes regiões do país, nem tudo corre com a eficácia e resultados que esperamos. Urge cumprir as regras de gestão e de implementação, bem como realizar as correcções que se impõem porque o país precisa definitivamente de sair da espiral deficitária em termos de produção de bens. Temos capacidade para implementar projectos que sirvam para agregar valores aos nossos produtos e, uma vez excedentários, servirem para a exportação. Mas é fundamental sobretudo que tenhamos capacidade para a auto-suficiência na produção de produtos para preencher a cesta básica”, escreve hoje a coisa impressa.
Deveria tê-lo feito há muitos anos? Deveria. Mas para isso precisava (como ainda precisa) de ser um jornal feito por Jornalistas e não por funcionários do regime, para além de ter um compromisso sagrado com a verdade, dando voz a quem a não tem. Mas isso é inexequível para quem suga o erário público para pagar chorudamente a mercenários.
Há todo o interesse da parte do Executivo, como ficou claro da sessão do Conselho de Ministros, que as linhas de crédito existentes e contraídas para fins públicos estejam viradas para financiar projectos privados de elevada rentabilidade, diz o Boletim Oficial numa bem elaborada campanha de marketing e propaganda eleitoral. Nada mais do que isso.
Recorde-se que, em Editorial, o pasquim escreveu recentemente: “A cruzada anti-angolana já não pode ser ignorada. O nível que atinge a ingerência portuguesa nos assuntos estritamente angolanos só encontra paralelo em duas ocasiões: quando Angola proclamou a sua independência em 1975 e quando se aproximava a derrota da UNITA de Jonas Savimbi, antes de 4 Abril de 2002″.
O director desse órgão oficial do regime escreveu também: “Durante o regime colonial, o Estado português mandou cortar a cabeça a muitos angolanos suspeitos de “subversão” e “terrorismo” quando lutavam pela liberdade e a dignidade do seu povo. Hoje Angola é um Estado de Direito. Quando se comemoram os 40 anos da independência de Angola, de Portugal continuamos a não poder esperar nada de bom.”
O que vale é que no massacre de 27 de Maio de 1977, onde foram assassinados muitos milhares de angolanos, a responsabilidade foi dos portugueses, mesmo considerando que Angola se tornara independente dois anos antes…