O vice-presidente do MPLA pediu (leia-se exigiu) hoje aos militantes mais trabalho para ganhar as eleições gerais previstas (saliente-se a palavra “previstas”) para Agosto de 2017, mas o partido no poder desde 1975 continua sem anunciar o candidato que poderá, ou não, substituir o líder que está no poder há 37 anos… sem nunca ter sido nominalmente eleito.
Por Orlando Castro
João Lourenço, o putativo substituto de José Eduardo dos Santos, discursava em Luanda, durante as cerimónias (inter)nacionais de comemoração dos 60 anos do MPLA, e no seu improviso (devidamente decorado) de mais de 60 minutos, contra as expectativas da última semana, voltou a não ser anunciado qualquer nome como cabeça-de-lista do partido à presidência da República nas próximas eleições.
A reunião do Comité Central do MPLA, realizada a 2 de Dezembro, em Luanda, indicou, segundo fontes do partido, mais ou menos anónimas, o nome do general João Lourenço, actual ministro da Defesa, para candidato a Presidente da República nas próximas eleições gerais, as tais “previstas” para 2017. Contudo, o nome – e tão pouco a não recandidatura de José Eduardo dos Santos – não foi anunciado oficialmente até agora pelo partido.
Com o favoritismo do MPLA mais do que garantido pelo domínio e manipulação de toda a máquina eleitoral, aquele dirigente preferiu exortar os militantes a “mais trabalho” para preparar as eleições de 2017.
“Precisamos de apanhar muito sol, precisamos de suar, de caminhar muito, de perder noites, de conversar muito com o povo, não apenas com os militantes, com o povo em geral e se o fizermos tenho a certeza que o povo angolano mais uma vez vai reiterar a sua confiança no partido, porque efectivamente só com o MPLA o povo angolano conhecerá dias melhores”, disse João Lourenço, numa intervenção anunciada para marcar o início da pré-campanha eleitoral e que em tudo foi uma cópia das directrizes habituais do “querido líder”.
Sobre o desenvolvimento do país, o vice-presidente do MPLA lembrou que Angola está a viver um momento particularmente difícil, “mas que é passageiro, é conjuntural”. Eduardo dos Santos, Manuel Vicente ou qualquer outros dos dirigentes do partido não diriam algo de diferente.
Segundo João Lourenço, alcançada a independência, a paz e a reconciliação nacional, chegou o momento de se encontrar “os soldados, os generais” do desenvolvimento.
Se a independência foi substituir os colonizadores portugueses pelos colonizadores do MPLA, João Lourenço tem razão. Se a paz é apenas e só a ausência de tiros, João Lourenço continua a ter razão. Se a reconciliação nacional foi formatar todos os angolanos a serem escravos, João Lourenço mantém a razão.
João Lourenço explicou que os soldados e generais do desenvolvimento “são aqueles talentos que vão gerir da melhor forma as nossas empresas, os nossos grandes conglomerados económicos”. Estava, com certeza, a pensar na general Isabel dos Santos e no general José Filomeno de Sousa dos Santos. Quanto aos soldados referia-se, certamente, aos 20 milhões de pobres que sentem e amam Angola como angolanos mas que, graças ao MPLA, não são propriamente angolanos. Isto porque os escravos não têm nacionalidade.
“Os generais que vão organizar a nossa economia, a tal ponto de passarmos a ter mais energia, água, educação, estradas, ensino, saúde. Em muitos casos, não podemos contar com os generais do passado, em muitos casos para esta nova fase de luta temos que descobrir outros generais-gestores”, disse João Lourenço, passando uma corrupta esponja sobre os 41 anos de “independência”, 14 dos quais em paz total.
“Temos que descobrir os gestores que com transparência, sabedoria, vão garantir que Angola se possa desenvolver nos próximos anos, mesmo que o preço do petróleo não suba”, acrescentou o general. Tinha-lhe ficado bem dar os dois mais paradigmáticos exemplos do regime, Isabel e Filomeno.
Perante milhares (continuamos a pensar que terão sido milhões) de apoiantes, no estádio 11 de Novembro, João Lourenço pediu para que os angolanos passem a pensar no desenvolvimento de Angola com petróleo ou sem esse recurso natural, porque o país tem várias riquezas naturais.
Se João Lourenço acreditasse que Angola poderia ser uma democracia e um Estado de Direito, bastava-lhe dizer que é urgente que os angolanos pensem. Pensem apenas. Mas ele sabe que se os angolanos pensarem… o MPLA tem os dias contados.
“Nós temos que nos perguntar a nós próprios por que razão há países que nunca tiveram petróleo, não sonham algum dia vir a ter petróleo e são países organizados, economicamente estável, porquê”, referiu João Lourenço. Pois é. Onde andou o general todos estes anos?
“É verdade que tivemos o ‘handicap’ da guerra, a guerra prolongada, mas a guerra terminou e temos que começar a pensar seriamente em desenvolvermos o nosso país com petróleo ou sem petróleo”, frisou João Lourenço. Terminou há 14 anos. Mas, pelos vistos, só agora é que o general deu conta disso.
João Lourenço disse que o desafio para o período eleitoral que se avizinha, é o MPLA continuar a ser poder, “trabalhar para a vitória”. Para ter a vitória o MPLA não precisa de trabalhar. Basta-lhe ter, como tem, o controlo da máquina eleitoral e, se quiser uma ajudinha, trazer a público algumas das histórias reais de alguns partidos da oposição.
“Temos que continuar a apelar ao registo eleitoral dos nossos militantes e do povo em geral para que em Agosto de 2017 possamos exercer o nosso direito de escolher o partido político que durante os cinco anos vai governar o país”, salientou o general. E os militantes entenderam a mensagem. O povo é o MPLA e o MPLA é o povo, é isso não é senhor general João Lourenço?
Com Lusa
na verdade considero todos os artigos puramente certos ou veridicos mas, na seriamente sinto um ligeiro aperto no estomago em partilhar com o publico.