ANGOLA. Os autóctones residentes na zona da Fubú, bairro Mbonde Chapé, município de Belas, Província de Luanda, dizem consumir água imprópria para o consumo humano, há mais de dez anos.
Por Antunes Zongo
Para lá da alegada falta de água canalizada, que obviamente se tornou num velho e conhecido problema de diferentes pontos de Luanda, os moradores da zona da Fubú – sita a sudoeste da capital – também se queixam da falta de luz eléctrica, aumento da criminalidade, falta de estabelecimentos de ensino público, de recreio, hospitais, etc..
Segundo dona Ana, residente naquela localidade há mais de 20 anos, a crescente onda de criminalidade deve-se à ausência de postes de iluminação, associada às falhas constantes de luz eléctrica e à pouca capacidade de intervenção para acabar com os delitos, revelada pelos operacionais da esquadra policial local.
“Aqui é proibido andar à noite porque os marginais aproveitam-se da escuridão que toma conta de todo o bairro – assaltam, violam, até já mataram gente, e mesmo quando há energia que obviamente nos tem custado os olhos da cara, as pessoas são igualmente proibidas de palmilhar o bairro após o pôr-do-sol, por não haver postes de iluminação na zona, dado que os meliantes actuam sem quaisquer impedimentos”, lamentou dona Ana, acrescentando, que, “quando estou a dizer que a energia eléctrica tem-nos custado os olhos da cara, falo sério, por isso mesmo é que alguns vizinhos não têm energia, porque só o contrato de luz com a empresa ENAI, uma das firmas que detém um dos PTs no bairro, custa KZ100.000,00 (Cem Mil Kz) e a mensalidade são cinco mil Kz”, disse.
Quanto à questão da água, obviamente o mais precioso líquido planetário, os moradores dizem haver alguns fontenários que de forma intermitente vão fornecendo água à comunidade.
“Para ser sincero, a água do chafariz é imprópria, mais imprópria ainda para o consumo humano, é a água que compramos das cisternas e a que adquirimos em bidões vendidos pelos kupapatas”, desabafou Mário Cardoso, adicionando, “há uns que pensam que a água fornecida pelos chafarizes é adequada para as pessoas, não é! Sou canalizador e faço manutenção em piscinas, um dos meus clientes fez teste de qualidade à água fornecida pela EPAL, o resultado foi que o referido líquido era impróprio até para o banho. Mas, infelizmente, é a água que consumimos para cozinha, lavar, banhar e beber, se não morremos é por graças a Deus”, referiu.
Difícil acesso ao posto de trabalho
Para além das queixas enunciadas, os moradores manifestam também descontentamento por causa da dificuldade que têm passado ao sair de casa para o local de trabalho e vice-versa.
“Estamos na capital do país, mas parece que estamos no interior de uma província qualquer, as vias de acesso às nossas residências não são asfaltadas e estão cheias de buracos, por causa disso, o director da empresa de transporte MACOM, retirou seus autocarros daqui”, lamentou Rui Vicente, que diz trabalhar na Ilha de Luanda.
“Sou funcionário público e quero alertar que estou deveras descontente pelo que se passa no nosso bairro, porque sinto-o na carne. Espero que as autoridades resolvam os nossos problemas, ao invés de perderem tempo a pensar que somos contra eles”, referiu outro interlocutor, tendo garantido que muitos governantes confundem manifestação de descontentamento com radicalismo ou oposição ao poder.