A policia do MPLA (de facto não é nacional, não é de Angola), acusou hoje a UNITA, maior partido da oposição que o próprio MPLA ainda permite a título excepcional, de estar envolvida em actos de “desordem e arruaça” durante as manifestações que se realizaram ontem a nível nacional e que as autoridades reprimiram violentamente em várias províncias.
Sem mencionar o número de detidos, a Polícia do MPLA refere que as manifestações convocadas pela sociedade civil foram reprimidas em Luanda e Benguela porque não observaram “os pressupostos legais” (pressupostos que só permitem manifestações a favor da ditadura do MPLA) e por primarem por arruaças, rebelião e violência contra as forças policiais.
A dita polícia carregou contra os manifestantes com gás lacrimogéneo e disparos, pelo menos nestas duas províncias, havendo relatos de dezenas de feridos e detidos, não tendo sido possível ainda determinar quantos.
“A Polícia Nacional constatou que, em todas as manifestações realizadas, foi notória a presença de deputados, dirigentes e militantes do Partido UNITA, que de forma directa participaram na organização dos actos de desordem pública acima referidos e que provocaram ferimentos a vários participantes, entre os quais cidadãos que circulavam na via pública, bem como a sete membros das Forças de Segurança”, lê-se no comunicado da seita dirigida pelo general João Loureiro.
A JURA, “braço” juvenil da UNITA, que aderiu à manifestação contra a subida dos combustíveis, fim da venda ambulante e alteração do estatuto das ONG, denunciou, no dia anterior, uma alegada tentativa de se culpar o partido “por eventuais estragos” que venham a ocorrer na manifestação de sábado.
A JURA disse ter tomado conhecimento de um “plano macabro” do regime que, alegadamente, mandou “produzir milhares de materiais de propaganda com símbolos e dizeres da UNITA e da JURA, para vestir e infiltrar pessoas ligadas ao regime e forças de segurança na manifestação”.
O deputado da UNITA e secretário provincial de Luanda, Adriano Sapiñala, que esteve presente na manifestação em Luanda, denunciou a utilização abusiva das suas imagens pela Televisão Pública de Angola (TPA), que, no seu espaço de informação da noite, acusou a UNITA de estar ligada aos distúrbios citando “fontes do governo”.
“Só para lembrar que todas imagens que a TPA montou na sua vergonhosa peça, foram feitas por mim e pelo Nelito Ekuikui [presidente da JURA] e foram retiradas das nossas páginas do Facebook!”, escreveu Adriano Sapiñala na sua página daquela rede social.
O Bloco Democrático, partido que aderiu à iniciativa, denunciou a detenção no sábado de alguns dos seus dirigentes, em Luanda e noutras províncias.
Em Luanda foi também detido pelo menos um elemento de uma das organizações cívicas que convocaram o protesto, entre outras dezenas de pessoas. No Bié, foi detido um músico, em Cabinda, três activistas, e no Huambo, outros quatro. Em Benguela, foram detidas 55 pessoas.
A Polícia do MPLA afirma no comunicado divulgado esta madrugada que as forças de segurança usaram meios tácticos-operacionais moderados e proporcionais à natureza dos actos praticados e apelou aos cidadãos a “não aderirem a actos de violência”.
Imagens partilhadas nas redes sociais, bem como – por exemplo – da TV8/Folha 8 – mostram pessoas feridas e uso de granadas de gás lacrimogéneos e disparos contra manifestantes (entre os quais os nossos próprios jornalistas, sendo alguns deles também perseguidos pelas ruas até aos seus bairros.
“A equipa do F8/TV8 foi alvejada pela brutalidade das botas policiais de um regime cada vez mais anacrónico, que tem medo de esgrimir argumentos de razão, através do verbo, optando sempre por utilizar a força das armas para assassinar adversários políticos e jornalistas independentes”, afirma o nosso Director, William Tonet.
Que a Polícia dita nacional é apenas do MPLA é uma realidade muito antiga, data da sua fundação. Recordemos um texto aqui publicado em Agosto de 2012 sob o título “Comandante assume que, afinal, a Polícia Nacional não é de Angola mas sim do MPLA”, da autoria do nosso Director Adjunto, Orlando Castro:
«Se dúvidas existissem sobre a democracia que não existe em Angola, ou sobre o Estado de Direito que Angola não é, basta ver o que diz o comandante da suposta Polícia Nacional de Angola.
O comandante da Polícia Nacional de Angola criticou hoje o “pronunciamento leviano” do líder UNITA a pedir o adiamento das eleições gerais e disse que a sua força está pronta para responder a essa “ameaça” e garantir a votação.
Ou seja, aquilo a que se chama erradamente Polícia Nacional de Angola é, de facto, a Polícia Nacional do MPLA. Mas, como é óbvio, nada disso incomoda a CNE, muito menos os observadores eleitorais e ainda menos a comunidade internacional.
Em conferência de imprensa em Luanda, Ambrósio de Lemos afirmou que a Polícia Nacional “não vai permitir que haja perturbações em função dessa ameaça” às eleições gerais na sexta-feira, garantindo a defesa até às “últimas consequências” do Governo e do seu líder.
Dúvidas? O comandante da dita Polícia Nacional de Angola garante, sem papas na língua e perante a passividade da comunidade internacional, que vai defender até às “últimas consequências” o Governo e o seu líder, José Eduardo dos Santos, candidato do MPLA.
“Somos uma instituição do Governo e a polícia vai defender este Governo até às últimas consequências e muito especialmente o seu líder, porque é um Presidente que está aqui, e não podemos permitir que qualquer pessoa de forma leviana desafie e insulte a mais alta entidade deste país”, declarou o comandante nacional da Polícia.
Ora tomem! A Polícia Nacional de Angola não é uma instituição do país mas, isso sim, “uma instituição do Governo”.
Bem que a CPLP, tal como os países que a integram e ainda a União Europeia, na pessoa do sipaio Durão Barroso, poderiam limpar a cara à merda que tanto lhes agrada no regime angolano.
Isaías Samakuva, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), anunciou o desejo de um encontro com o presidente do partido no poder, José Eduardo dos Santos, para discutir o adiamento das eleições, em resultado de alegadas irregularidades, não se responsabilizado pelas consequências caso o diálogo seja recusado.
Para Ambrósio de Lemos, assumido funcionário do MPLA nas funções de comandante da Polícia, o pronunciamento do líder do maior partido de oposição foi “leviano” e levou-o a questionar o motivo pelo qual a UNITA aceitou anteriormente a data da realização das eleições e a participação na campanha eleitoral.
“Porque fizeram a campanha eleitoral? É uma pergunta que se pode fazer. A campanha eleitoral teve lugar em todo o país e esse senhor terminou-a com esse pronunciamento”, disse o comandante da Polícia Nacional (do MPLA), acrescentando que, “naturalmente, quem de direito irá dar resposta a isso”.
A Polícia Nacional, garantiu, “está pronta e prestará serviços específicos nesta quadra para dar resposta a todos os desafios que atentem contra a estabilidade e a materialização das eleições” e apela “a todas as formações políticas para que os seus militantes e simpatizantes observem as leis, normas e regulamentos estabelecidos”.
“Os pronunciamentos de incitamento à desordem devem ser banidos de qualquer um dos políticos envolvidos neste processo eleitoral”, disse Ambrósio de Lemos, insistindo que, em caso da perturbação da ordem, a sua força não irá esperar para dar “uma resposta para o imediato restabelecimento da segurança pública”.
O comandante nacional da Polícia do MPLA informou que o pronunciamento da UNITA não alterou o plano de segurança previsto para sexta-feira, que envolve um total de 70 mil efectivos em todo o país, e confia que “o povo está maduro, consciente, quer paz” e não vê necessidade de se entrar “numa violência ou numa contenda”.