TUDO SOB CONTROLO. CÓLERA SÓ MATA OS… VIVOS

O médico especialista em saúde pública Jeremias Agostinho disse hoje que Angola deve registar um aumento de casos de cólera nos próximos dias, mas rejeita um aparente descontrolo no combate à doença. Tem, com certeza, razão. Se olharmos para o estado geral do país, pré-óbito, ficamos sem dúvidas.

O especialista angolano, comentando o número crescente de casos de cólera pelo país, diz que “não há descontrolo da cólera, é um comportamento esperado e nos próximos dias vão aumentar o número de casos”. Do ponto de vista político-partidário, certamente que o MPLA também garante que, com cólera ou malária, só morrem os que ainda estão vivos.

Segundo Jeremias Agostinho, as medidas para prevenir a cólera no país “não são de fácil execução” e apontou os problemas ligados ao saneamento básico e de acesso à água (apesar de o MPLA estar no Poder há 50 anos) como “grandes empecilhos” que concorrem negativamente para travar o surto, que já atingiu dez províncias angolanas.

A cólera continua a alastrar em Angola com mais 255 casos notificados em 24 horas, subindo para um total de 3.402, e seis mortos, somando agora 114 óbitos, segundo o último boletim do Ministério da Saúde.

Desde o início do surto, a 7 de Janeiro, foi reportado um total cumulativo de 3.402 casos em dez províncias angolanas, sendo 1.661 em Luanda, 1.267 no Bengo, 433 no Icolo e Bengo, 16 no Cuanza Sul, seis no Huambo, seis na Huíla, cinco no Zaire, cinco em Malanje, dois no Cuanza Norte e um no Cunene, com idades compreendidas entre 2 e 100 anos.

A ministra da Saúde, Sílvia Lutukuta, assegurou, em finais de Janeiro, que o Governo está a envidar esforços para controlar o surto de cólera antes do mês de Março, com o objectivo de evitar a propagação da doença durante os meses de Março e Abril, período de intensas chuvas no país.

Jeremias Agostinho considerou, por outro lado, que a contenção da propagação da doença até Abril fica dependente da vacinação, argumentando que a vacina trava o contágio da doença.

Observou ainda que, em cada 100 pessoas com infecção pela bactéria, “80 já vacinadas não vão apresentar sintomas, mas transmitem e depois da infecção ficam imunes”, referiu.

Angola iniciou em 3 de Fevereiro uma campanha de vacinação contra a cólera com início nas três províncias mais afectadas (Luanda, Bengo e Icolo e Bengo), tendo sido adquirido cerca de um milhão de vacinas.

Recorde-se que como o reino do MPLA é pobrezinho, a União Europeia (UE) anunciou um financiamento de 200 mil euros para ajudar Angola a conter o surto de cólera, que representa um risco significativo para mais de 380 mil pessoas. E é assim há 50 anos.

Segundo um comunicado da delegação da UE em Angola, o financiamento europeu visa apoiar os esforços da Cruz Vermelha angolana na prestação de ajuda, incluindo água potável, cuidados de saúde, saneamento e higiene.

Além disso, a intervenção centrar-se-á na comunicação dos riscos e no envolvimento da comunidade para combater a desinformação e aumentar a sensibilização do público.

O programa apoiado pela UE terá uma duração de quatro meses, até ao final de Maio de 2025, e deverá chegar a 384 mil pessoas nas províncias do Bengo, Cuanza Norte, Huambo, Huíla, Icolo e Bengo, Luanda, Malanje e Zaire.

A epidemia é agravada pela falta de abastecimento de água e de saneamento (culpa, obviamente, dos portugueses…) inadequado em áreas urbanas densamente povoadas e pela estação chuvosa, aumentando a necessidade de uma acção rápida e coordenada por parte das autoridades de saúde, das Organizações Não Governamentais e dos parceiros internacionais.

“São necessários esforços imediatos para conter o surto, impedir uma maior transmissão e assegurar o tratamento atempado das pessoas afectadas”, destaca-se no comunicado. O surto também representa uma séria ameaça para as províncias vizinhas, o que evidencia a necessidade de uma resposta nacional abrangente.

O financiamento faz parte da contribuição global da UE para o Fundo de Emergência de Resposta a Catástrofes (DREF) da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV).

Registe-se, entretanto, que apesar destes casos que revelam a megalomania do regime do MPLA, Angola tornou-se um reino inovador no que diz respeito – segundo a propaganda oficial – aos cuidados de saúde, depois da realização da primeira cirurgia robótica a um paciente com cancro da próstata, segundo o fundador e director médico do Global Robotics Institute, Vipul Patel.

O especialista, que liderou a equipa da primeira cirurgia robótica em Angola, fez este pronunciamento no dia 6 de Agosto de 2024, em Luanda, no final da audiência concedida pelo Presidente da República e campeão de tudo e mais alguma coisa, general João Lourenço.

“Este é um projecto com o qual nós temos estado a trabalhar há já muitos anos. Portanto, sempre foi o sonho de Sua Excelência Presidente da República de Angola ter a cirurgia robótica realizada em Angola, e graças a Deus aconteceu”, realçou.

O médico afirmou que a cirurgia robótica realizada no Complexo Hospitalar de Doenças Cárdio Pulmonares foi a primeira a acontecer na África Ocidental e um marco importante não apenas para Angola, mas para todo o continente africano.

Vipul R. Patel, que também é vice-presidente da Sociedade Robotics, aproveitou a audiência para felicitar o Presidente da República pelo feito alcançado no sector da Saúde e pela aposta na formação de jovens angolanos pela equipa americana.

“Vamos preparar os jovens médicos angolanos que terão oportunidade de aperfeiçoar os seus conhecimentos no que diz respeito a esta ciência, que é bastante importante”, sublinhou.

Façamos, já agora, um exercício de memória e regressemos a Dezembro de 2008. A epidemia de cólera no Zimbabué tinha feito no segundo semestre desse ano mais de 1.500 mortos, segundo um balanço oficial divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Mas o que é que isso agora importa? Nada, é claro. Tal como agora no reino do MPLA, eram/são apenas negros a morrer. As atenções mundiais estavam concentradas noutros palcos. Hoje mudaram os palcos, mas os africanos continuam a morrer de fome, de cólera, de malária.

Sapatos contra Bush, gigantesca missa em Madrid, invasão da Faixa de Gaza, colisão entre o Paquistão e a Índia ou a tomada de posse do novo presidente norte-americano, Barack Obama, é que eram notícia e faziam com que África “desaparecesse” do mapa.

É certo que de Agosto a Dezembro de 2008, 1.546 pessoas morreram de cólera no Zimbabué e foram diagnosticados 29.131 casos suspeitos, e a OMS preparava-se para um cenário de 60.000 pessoas afectadas.

É certo que a situação na República Democrática do Congo continuava na altura a ferro-e-fogo, tal como continuava perigosamente instável a vida na Guiné-Conacri ou na Somália.

Mas o que são 1.500 mortos de cólera no Zimbabué comprados com os 300 palestinianos mortos pelos bombardeamentos israelitas à Faixa de Gaza?

Mas o que são os eventuais 60.000 potenciais casos de cólera no Zimbabué comparados com os perto de 200 mortos nos ataques a Bombaim?

E o que são os milhões de pessoas que em toda a África morrem de fome, de doença ou pelos efeitos da guerra, comparados com uma missa que concentrou, em Madrid, um milhão de pessoas?

E assim se faz a história onde as prioridades, entre outras justificações, são feitas pela cor da pele. Racismo? Não. Nem pensar. Apenas uma realidade indesmentível: uns são pretos, outros não!

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