HÁ 60 ANOS ATÉ OS CHIMPANZÉS ESTAVAM MELHOR

A etóloga (especialista em comportamento social e individual dos animais no seu ambiente natura) britânica Jane Goodall declarou hoje, num vídeo, que a situação dos chimpanzés em África é actualmente mais preocupante do que quando a cientista os começou a estudar, há 60 anos.

Num vídeo divulgado para assinalar o Dia Mundial do Chimpanzé, que ocorre domingo, 14 de Julho, Jane Goodall diz que “a situação dos chimpanzés em toda a sua área de distribuição em África é hoje pior do que quando comecei a estudá-los”.

O crescimento da população humana, a perda e destruição do habitat dos símios, a caça furtiva e o tráfico ilegal de crias “como animais de estimação ou para entretenimento” são, segundo Jane Goodall, as principais razões para este declínio, que reduziu as suas populações em cerca de 20 países africanos e provocou o seu desaparecimento noutros.

Segundo os seus dados, há um século havia entre um e dois milhões de chimpanzés selvagens, mas actualmente restam menos de 250 mil indivíduos no continente africano, onde todas as subespécies estão em perigo de extinção e uma delas, a “Pan troglodytes verus” (uma das 4 subespécies de chimpanzé-comum, sendo o animal vivo mais parecido com o homem, junto com o bonobo e que vive principalmente na Costa do Marfim e Guiné, mas também nos países vizinhos), está criticamente ameaçada desde 2016.

Jane Goodall, que continua activa na defesa do ambiente aos 90 anos, destacou, no entanto, os esforços de conservação nos últimos anos para aumentar a protecção e conservação dos chimpanzés selvagens e o cuidado e bem-estar dos que estão em cativeiro.

“Se não fosse o Instituto Jane Goodall e outras organizações não-governamentais e grupos de investigação que trabalham para estudar e conservar os chimpanzés em toda a África e sensibilizar para o seu estatuto, a situação dos símios seria muito pior”, afirmou.

Exemplos do trabalho da organização que leva o seu nome são o Centro de Reabilitação de Tchimpounga (República Popular do Congo), dirigido pela veterinária espanhola Rebeca Atencia, que alberga mais de 150 chimpanzés resgatados do tráfico ilegal e é considerado o maior do género em África, ou a sede do seu instituto no Senegal, que desenvolve programas de investigação e conservação combinados com medidas de formação e desenvolvimento sustentável para a comunidade local.

Esta espécie, com a qual o ‘Homo sapiens’ partilha mais de 98% do seu ADN, desempenha “um papel fundamental” na biodiversidade africana como dispersor de sementes nas florestas, pelo que o seu desaparecimento progressivo afecta todo o ecossistema.

O Dia Mundial do Chimpanzé foi instituído a 14 de Julho em memória da chegada de Jane Goodall a Gombe (Tanzânia), onde iniciou a sua investigação sobre os chimpanzés com descobertas científicas como o facto de serem animais omnívoros e de utilizarem as suas próprias ferramentas.

Seis décadas depois, “a investigação continua” e graças a ela foi possível conhecer melhor “as suas estruturas sociais, comportamento, técnicas culturais, inteligência e capacidade de aprendizagem”, concluiu.

MACACOS HÁ MUITOS…

Recorde-se (com orgulho) que no dia 15 de Setembro de 2022, chefe de Estado do MPLA, general João Lourenço, prometeu “ser o Presidente de todos os angolanos” e promover o desenvolvimento económico e o bem-estar da população, indo mesmo ao ponto de prometer defender os macacos e os chimpanzés, ao discursar na cerimónia da sua posse.

“Ao assumir, por mandato do povo soberano, as funções de Presidente da República de Angola, declaro por minha honra respeitar a Constituição e a Lei, ser o Presidente de todos os angolanos e governar em prol do desenvolvimento económico e social do país e do bem-estar de todos os angolanos”, disse o chefe de Estado, em Luanda.

Reeleito (supostamente) com 51,17% dos votos, numa eleição contestada judicialmente pela oposição, mas entretanto validada pela sucursal do MPLA, o Tribunal Constitucional, João Lourenço felicitou o povo angolano, que considerou “o real e verdadeiro grande vencedor” das eleições de 24 de Agosto, que lembrou já serem consideradas “as mais disputadas eleições gerais da história da jovem democracia angolana”. Quem diria, não é?

João Lourenço elogiou os angolanos por fazerem “as melhores opções” e escolherem “com muita responsabilidade o futuro do seu país”.

“Ao elegerem o MPLA e o seu candidato, apostaram na continuidade como forma segura de garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento económico e social do país”, afirmou, felicitando também todos os partidos e coligações pela sua participação nas eleições, “o que contribuiu para o fortalecimento da nossa democracia”.

Permita-nos que, entretanto, recordemos aos chimpanzés e similares, embora de inferior quociente de inteligência, que na verdade quando ganha quem perdeu, nunca a democracia sai fortalecida. Mas como João Lourenço tem do seu lado, para além das conhecidas sucursais do MPLA (TC e CNE), também as Forças Armadas (supostamente apartidárias), tudo é possível. Aliás, pouco antes da tomada de posse, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar, general Francisco Furtado, disse que o exército (fortemente armado) nas ruas de Luanda servia para proteger o povo e acusou a oposição de ter apostado numa estratégia de subversão para derrubar o governo.

Sobre o seu segundo mandato, trocando os seis prometidos em 2017 por meia dúzia em 2022, o Presidente prometeu mais do mesmo, e dedicar todas as suas forças e atenção à “busca permanente das melhores soluções para os principais problemas do país, a começar pelo sector social e pelo bem-estar da população. Na altura, os 20 milhões de pobres que Angola tem nas suas “fileiras” – tal como os chimpanzés – estavam mais preocupados em cumprir com a ordem superior para aprenderem a viver sem… comer.

“Continuaremos a investir no ser humano como principal agente do desenvolvimento, na sua educação e formação, nos cuidados de saúde, na habitação condigna, no acesso à água potável e energia eléctrica, no saneamento básico”, disse. Ou seja, repetiu 2017 e em 2027 estará a dizer o mesmo. O MPLA é mesmo assim. Há 49 anos que mente às segundas, quartas e sextas, aldrabando às terças, quintas e sábados. Aos domingos treina linguagem gestual para se fazer entender com os seus… chimpanzés.

“Vamos todos trabalhar na educação das pessoas para a necessidade da mudança de paradigma, de vícios, más práticas e maus comportamentos instalados e enraizados há anos”, afirmou.

João Lourenço disse ainda contar com “a participação e o escrutínio de todos”, desde os deputados eleitos, às organizações não-governamentais, classes profissionais, sindicatos, do sector empresarial, académicos, igrejas e ‘media’.

Prometeu também que Angola continuará a trabalhar para proteger o planeta das alterações climáticas, nomeadamente com programas de educação ambiental com vista a desencorajar a desflorestação e as queimadas, com acções concretas de redução do consumo dos derivados do petróleo e da utilização da lenha para consumo doméstico ou industrial e com investimento em fontes limpas de produção de energia como barragens, parques fotovoltaicos e projectos de hidrogénio verde.

Satisfeitos ficam os macacos e os chimpanzés que, talvez pela primeira vez, tenham tido direito de antena no discurso de posse de um presidente que, apesar de não eleito, continua no poder.

Falando à margem da cerimónia de investidura de João Lourenço, o general Francisco Furtado afirmou que “houve uma estratégia montada pela oposição”, procurando alegar fraude eleitoral, e considerou que há lideranças políticas que não estão preparadas para “a sã convivência em paz e segurança”.

“Quando se tem duas agendas, uma política e uma subversiva, tem de se compreender o que se quer”, disse, acusando a oposição de ter uma estratégia subversiva financiada a partir do exterior “para derrubar o governo”.

“Funcionou muito a cadeia das redes sociais para que as pessoas não fossem ao voto com receio de insegurança, não é porque o MPLA ou o executivo tenham falhado”, considerou o general, comentando a elevada abstenção nas eleições de 24 de Agosto.

Disse, no entanto, que o MPLA “aprendeu a lição” e quer “inverter o quadro e criar estratégias para contrapor a estas iniciativas que surgiram desde 2020”. Desde logo, presume-se, não permitindo que os macacos e os chimpanzés tenham acesso às redes sociais…

Legenda: O líder da comunidade de chimpanzés e similares de África, general Cesar Augustine, agradeceu ao Presidente do MPLA as referências e promessas feitas.

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