“ESTÁ NAS ÚLTIMAS”

Segundo o jornal português Expresso, José Eduardo dos Santos “está nas últimas”. Foi assim, diz o jornal, que uma fonte do gabinete de José Eduardo dos Santos, que está em contacto com a clínica em Barcelona, qualificou a evolução do estado de saúde do ex-presidente de Angola nas últimas 24 horas. Acrescenta que os resultados dos exames de tomografia realizados esta segunda-feira dão conta de graves lesões isquémicas no cérebro, que ainda não tinham sido detectadas.

Em 2018, no discurso de encerramento do VI Congresso Extraordinário do MPLA, João Lourenço citou duas vezes o nome de José Eduardo dos Santos. A primeira foi quando iniciou a intervenção e formalmente se dirigiu ao “Camarada Presidente José Eduardo dos Santos”.

Depois disse: “Saúdo também o Camarada José Eduardo dos Santos, por ter dedicado toda uma vida à causa do nosso Partido e da Nação, numa conjuntura difícil da chamada guerra fria, com a ameaça constante do regime do apartheid.

«Neste momento em que deixa a política activa, os militantes do MPLA e o povo angolano em geral guardarão para sempre na sua memória a imagem do estadista que, entre outros feitos, trouxe a tão almejada paz definitiva, o perdão e a reconciliação nacional entre irmãos antes desavindos.

«Os actos de homenagem que vêm decorrendo um pouco por todo o país são, exactamente, a manifestação de gratidão dos angolanos ao Arquitecto da Paz.»

Para um “filho” que foi, unilateral e pessoalmente, escolhido pelo “pai” José Eduardo dos Santos, parece pouco. Mas foi certamente mais do que João Lourenço queria e menos do que esperavam os acólitos de Dos Santos que pensam, mas poucos dizem, que João Lourenço está a cuspir no prato que, entre muitas outras benesses, lhe deu comida.

Teoricamente reformador, empiricamente absolutista (ou seja, despótico, tirano, autocrata), João Lourenço está, depois de deixar de ser Presidente de todos os angolanos para ser Presidente de todos os angolanos… do MPLA, a tentar mostrar que, embora seja “filho” de um jacaré, é vegetariano (por parte da “mãe” jacaré).

Essa tentativa incluiu (continua a incluir) a imolação de alvos familiares e bajuladores do anterior Presidente da República, esquecendo até que se tinha comprometido pela sua honra (a honra “made in” MPLA tem um significado “sui generis”) a um “código de ética” que excluiria acções revanchistas contra clã (em sentido lato) de José Eduardo dos Santos.

João Lourenço segue, aliás, os mesmos passos que os seus antecessores no fortalecimento da tese de que “o MPLA é Angola e Angola é o MPLA”. Até agora, e já lá vão 46 anos, tem sido assim.

João Lourenço retirou (sem qualquer racionalidade económica. Financeira ou empresarial) vários negócios e cargos aos filhos de Eduardo dos Santos, mas também a outras figuras próximas. Muitas das suas exonerações revelam um acerto de contas pessoal, criminalizando todos aqueles que tenham ligações familiares directas e Eduardo dos Santos.

João Manuel Gonçalves Lourenço construiu o que é, o que se sabe que tem, o que se pensa que tem, alimentado e educado pelo MPLA/Estado, sob as orientações de José Eduardo dos Santos.

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