O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou hoje uma resolução que prevê o aumento gradual de cerca de 3.000 militares na República Centro-Africana (RCA), ainda ameaçada por milícias que pretendem reclamar o poder no país.
A resolução foi aprovada por 14 dos 15 países que compõem o Conselho de Segurança da ONU. Apenas a Rússia, que tem uma grande presença na RCA, se absteve, confirmou a France-Presse (AFP) junto de fontes que optaram pelo anonimato.
O documento aprovado pelo órgão máximo das Nações Unidas prevê um incremento de 2.750 militares, que integrarão as forças já presentes da República Centro-Africana.
A Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA) tem um orçamento anual de cerca de um bilião de dólares (mais de 900 mil milhões de euros) e é uma das maiores operações da Organização das Nações Unidas no mundo.
Portugal tem actualmente na RCA 243 militares, dos quais 188 integram a Minusca e 55 participam na missão de treino da União Europeia (EUTM), liderada por Portugal, até Setembro de 2021.
O reforço do contingente destacado no país surge depois de um apelo feitos pelos líderes da RCA e pelo secretário-geral da ONU, o português António Guterres.
No final de 2020, várias milícias tentaram derrubar as autoridades estabelecidas em Bangui, no entanto, a tentativa falhou devido aos esforços de militares do Ruanda e da Rússia no final desse ano.
A resolução sublinha que os reforços das forças de manutenção da paz têm como objectivo melhorar “a capacidades da MINUSCA para cumprir as suas prioridades”, nomeadamente a protecção da população e facilitar a entrega de ajuda humanitária.
A República Centro-Africana (RCA) prepara-se para realizar este domingo a segunda volta das eleições legislativas, continuando imersa num ambiente volátil que se segue a uma primeira volta marcada por uma fraca participação devido ao conflito armado.
Na primeira volta, realizada em 27 de Dezembro de 2020, o chefe de Estado cessante, Faustin Archange Touadéra, foi reeleito com 53,1% dos votos expressos, sendo que a legalidade e legitimidade dos resultados ainda hoje é contestada.
O escrutínio, conturbado e após uma ofensiva rebelde lançada dias antes, permitiu que o regime de Touadéra se fortalecesse, recuperando terreno aos grupos armados presentes em dois terços do território desde o início de uma sangrenta guerra civil, em 2013.
O conflito continua, apesar da presença de 12.500 soldados de uma missão de manutenção da paz das Nações Unidas, embora a sua intensidade seja agora mais reduzida.
A RCA caiu no caos e na violência em 2013, após o derrube do então chefe de Estado, François Bozizé, por grupos armados reunidos na Séléka, o que suscitou a reacção de outras milícias, agrupadas numa coligação anti-Balaka.
Desde então, o território centro-africano tem sido palco de confrontos comunitários entre estes grupos, que obrigaram quase um quarto dos 4,7 milhões de habitantes da RCA a abandonarem as suas casas.