O surto de sarampo que está a atingir a província angolana da Lunda Sul há três meses já provocou meia centena de mortos, incluindo pelo menos 20 crianças, revelou fonte sanitária. Em África, o crescimento de casos de sarampo entre 2018 e 2019 foi de 700%. No que a Angola respeita, falta saber quem deve ser responsabilizado. Entre os potenciais culpados estão (como em tudo o que é mau e na óptica do Governo) os portugueses. Mas como eles já cá não estão desde 1975, não será de responsabilizar os nossos novos colonialistas que, nessa data, compraram o país, ou seja o MPLA?
Segundo o porta-voz da Comissão Multissectorial de Combate ao Surto de Sarampo, Domingos Chiculo, a província registou até hoje cerca de 2.100 casos, tendo, nas últimas 24 horas, morrido mais quatro infectados.
Domingos Chiculo indicou estar em curso uma campanha de vacinação na Lunda Sul, que já permitiu vacinar mais de 40 mil das 60 mil crianças entre os seis meses e os cinco anos.
O porta-voz referiu que, nesta altura, pode considerar-se o surto “controlado”, salientando que, antes do fim da campanha, prevista para a próxima segunda-feira, deverá ser atingido o total de crianças a vacinar.
“Com os dados de hoje, deveremos chegar às 50 mil crianças, o que quer dizer que 60% a 70% já está vacinada. Mesmo os casos que afluíam ao hospital diminuíram e a assistência, com o reforço da equipa a nível nacional, tornou rápido o atendimento”, referiu Domingos Chiculo.
O também director provincial de Saúde Pública da Lunda Sul destacou o apoio directo da comunicação social, que tem ajudado a passar a mensagem de prevenção à população, com a colaboração de líderes religiosos, líderes tradicionais, terapeutas tradicionais e a comunidade no geral.
“A afluência aos postos de vacinação é grande. A campanha vai até dia 20, faltam cinco dias, e beneficia crianças dos seis meses aos cinco anos”, frisou.
Contudo, esta campanha poderá estender-se a crianças maiores de cinco anos, porque também aí foram registados casos da doença.
“Recebemos orientações para estendermos a vacinação a crianças maiores de cinco anos”, disse o responsável sanitário, sublinhando que os casos de sarampo foram registados maioritariamente em crianças dos seis meses aos cinco anos.
Relativamente à quantidade de vacinas, Domingos Chiculo garantiu que são suficientes, tendo sido igualmente distribuídas para as províncias limítrofes do Moxico e Lunda Norte.
O sarampo está a aumentar
Dados preliminares mostram que os casos de sarampo no mundo tiveram aumento de 300% no primeiro trimestre de 2019, em comparação com o mesmo período do ano passado, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo o organismo da ONU, todas as regiões do planeta têm registado um crescimento prolongado no número de episódios da doença, que avançou mesmo em países com elevada cobertura de vacinação, como os EUA.
Entre as nações que registam surtos actualmente, estão a República Democrática do Congo, Etiópia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Madagáscar, Mianmar, Filipinas, Sudão, Tailândia e Ucrânia. A propagação da enfermidade tem causado várias mortes, principalmente entre crianças pequenas.
O sarampo é uma das doenças mais contagiosas do mundo e pode tornar-se extremamente grave. Em 2017, ano mais recente para o qual há estimativas disponíveis, a patologia foi responsável por quase 110 mil mortes. Mesmo em países de alto rendimento, as complicações resultam em internações em até 25% dos casos e podem levar à incapacidade permanente — desde danos cerebrais e cegueira até perda auditiva.
Nos últimos meses, também ocorreram picos no número de casos em países com elevada cobertura geral de vacinação, incluindo os Estados Unidos, Israel, Tailândia e Tunísia. O fenómeno é explicado pelo fato de que a doença se espalhou rapidamente entre grupos de pessoas não vacinadas.
Até o final de Março de 2019, 170 países tinham notificado 112.163 casos de sarampo à OMS. No mesmo período do ano passado, foram 28.124 ocorrências da doença em 163 nações. A nível mundial, isso significa um aumento de quase 300%. O aumento é registado após altas consecutivas registadas nos últimos dois anos.
Em África, o crescimento entre 2018 e 2019 foi de 700%. Nas Américas, 60%. Na Europa, 300%. No Mediterrâneo Oriental, 100%. No Sudeste Asiático e no Pacífico Ocidental, 40%.
A OMS lembra que o sarampo é quase totalmente evitável por meio de duas doses de uma vacina segura e eficaz. Mas durante vários anos, a cobertura global da imunização ficou estagnada em 85%, percentagem menor do que os 95% necessários para evitar surtos. A lacuna deixa muitas pessoas em risco. A cobertura com a segunda dose da vacina é ainda menor — 67%.
A organização internacional, governos e instituições parceiras, como a Iniciativa contra o Sarampo e Rubéola, a Aliança de Vacinas, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), têm implementado programas para responder aos surtos nos países.
Depois de conduzir campanhas de vacinação de emergência visando 7 milhões de crianças de seis meses a nove anos de idade, Madagáscar agora está observando quedas gerais nos casos de sarampo e mortes relacionadas.
Nas Filipinas, mais de 3,8 milhões de doses da vacina contra o sarampo e a rubéola foram administradas em crianças com menos de cinco anos.
A República Democrática do Congo está a preparar uma resposta combinada com a vacina contra a poliomielite.
Em colaboração com as autoridades locais de saúde, a OMS e a UNICEF conduziram uma campanha nacional de vacinação contra o sarampo e a rubéola no Iémen, alcançando mais de 11,6 milhões (90%) de crianças de seis meses a 16 anos em todo o país.
A OMS ressalta a necessidade de garantir que os serviços de imunização sejam de qualidade e acessíveis para toda a população, em especial para as crianças e para os grupos que sofrem discriminação sistemática. O organismo pede ainda estratégias de comunicação e engajamento do público, que precisa ser consciencializado sobre a importância da vacinação e sobre os perigos das doenças que as vacinas conseguem evitar.
A cobertura da segunda dose de vacina também precisa aumentar no mundo. Hoje, 25 países ainda precisam transformar essa etapa da imunização contra o sarampo em uma parte do seu programa essencial de vacinação.
Folha 8 com Lusa