Perto de 2.000 pessoas morreram em Angola afectadas pela raiva, nos últimos dez anos, com a província de Luanda, capital do país, a liderar o número de óbitos, segundo dados da Comissão Técnica contra a Raiva, hoje divulgados.
Os dados revelam que entre 2007 e 2017 foram notificados 1.977 casos de mordeduras de cães vadios que resultaram em óbitos.
Em finais de Fevereiro, a Comissão Técnica contra a Raiva reuniu para fazer o balanço da implementação das actividades preconizadas no Plano Nacional de Contingência e Emergência Contra a Raiva, aprovado em Conselho de Ministros em 2007.
As províncias com maior número de mortes por raiva são Luanda (774), Huambo (222), Bié (211), Benguela (153), Uíge (150), Huíla (120) e Malanje (100).
Nesse encontro, foi admitida a baixa cobertura de vacina, devido a factores de logística, insuficiência de recursos financeiros, humanos, equipamentos e materiais específicos para o efeito, aliado ao fraco sistema de recolha de animais vadios, na sua maioria cães.
Nesta altura, está em curso a vacinação animal de rotina e está em preparação a campanha de vacinação anti-rábica para a capital do país neste ano.
Para o controlo da epidemia, a comissão técnica realça a importância das campanhas de sensibilização, educação e comunicação para o combate e a eliminação da raiva no mundo até 2030, meta estabelecida pela Organização Mundial de Saúde Animal.
Com vista ao controlo e eliminação da raiva em Angola, os participantes recomendaram uma maior interacção entre os serviços veterinários dos governos provinciais, administrações municipais, população, órgãos de comunicação social e outras instituições.
… e por falar em cães
No Facebook do Folha 8 foi publicado em tempos o seguinte texto: “Razão tinha Kundi Paihama quando, no dia 12 de Janeiro de 2008, “botou faladura” num comício na sede do Município da Matala e disse: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”. Os cães ficaram agradecidos e retribuem: “O nosso dono é muito muito bem mandado. Obediente, brincalhão, carinhoso, esperto – só lhe faltava ladrar. Por enquanto”.
Muitos leitores mostraram interesse em recordar um pouco mais sobre esta história, verídica, do actual governador do Cunene. É isso que fazemos agora, até porque alimentar a memória é um acto nobre embora, reconhecemos, possa significar um caso de rebelião ou um atentado contra a segurança do Estado.
E por que a comida que sobrava, e sobre, a Kundi Paihama não vai para os pobres?, perguntam vocês, nós também, tal como os milhões (ou serão só meia dúzia?) que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães… é preciso alimentá-los bem.
E se todos fizessem como Kundi Paihama, não haveria cães com raiva. Continuaria a haver, é claro, angolanos a morrer à fome. Mas entre morrer à fome e morrer contaminado com raiva…
“Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”, disse Paihama.
Não admira, por isso, que todos os angolanos procurem, afinal, ter a mesma sorte que os cães de Kundi Paihama. Tiveram, contudo, pouca sorte. Os cães que lhes tocaram em sorte estão cheios de raiva.
É claro que, embora reconhecendo a legitimidade que os cães do governador do Cunene e do regime têm para reivindicar uma boa alimentação, não se pode deixar de dar um conselho aos milhões de angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome.
Não. Não se transformem em cães para ter um prato de comida. Reivindiquem o direito tão simples de comer como os cães de Kundi Paihama.