MPLA em risco de não ter candidatos às autárquicas

O MPLA, no poder em Angola desde 1975, vai priorizar – 44 anos depois de ser Governo – como candidatos às primeiras eleições autárquicas angolanas, previstas para 2020, mulheres, jovens e quem esteja “limpo” de causar prejuízos ao partido. Ou seja, MPLA não vai ter gente para preencher todos os cargos…

A informação foi hoje avançada pelo secretário do Bureau Político do MPLA para a Reforma do Estado, Administração Pública e Autarquias, João de Almeida Martins, no final de um encontro nacional de formação de formadores do partido para o processo de institucionalização das autarquias locais.

Segundo o dirigente do MPLA, as propostas de candidatura vão respeitar os parâmetros do género, tendo sido estabelecido que as listas não devem ter composições inferiores a 40% de mulheres.

Por outro lado, há a definição do nível etário, que obriga a que as listas de candidatos tenham de ter pelo menos 50% de jovens abaixo dos 45 anos e, destes, cerca de 30% abaixo dos 35 anos.

João Martins referiu que a metodologia também abre espaço a que haja “uma concorrência livre e sã entre os vários militantes do partido”.

“Aqueles que as direcções do partido queiram propor como candidatos têm de disputar em igualdade de circunstâncias com aqueles que, de modo próprio, se candidatem ou com aqueles que um universo de militantes considere que tem condições e qualidades para ser candidato”, declarou.

“Esses três tipos de candidaturas estão previstos nos nossos instrumentos reitores e orientadores do trabalho, que vão ser aplicados com base nessa metodologia”, frisou.

João Martins salientou que estão também previstas candidaturas suportadas ou subscritas por partidos políticos ou coligações de partidos, bem como outras apoiadas por grupos de cidadãos, não tendo filiação partidária ou podendo ter filiação partidária, mas que não se revêem naquelas que são as propostas dos seus partidos ou das suas coligações.

“O MPLA, em princípio, está em condições de concorrer em todos os municípios onde se vão realizar as eleições autárquicas com candidatos próprios, mas isso não invalida que, em determinadas circunstâncias, avaliando a conjuntura política eleitoral em presença, o partido possa disponibilizar-se para apoiar candidaturas independentes”, adiantou.

Contudo, indicou que se trata de uma situação “diferente de candidatos independentes não filiados em partidos que queiram integrar nas litas do partido”.

“São candidaturas independentes subscritas por cidadãos e, aí, o partido vai avaliar em cada caso e tomará as decisões nos termos das regras que estão previstas nos estatutos dos regulamentos”, realçou.

Relativamente aos requisitos gerais e específicos traçados pela metodologia e pelo regulamento, João Martins disse que os primeiros são de ordem legal e partidário e os segundos diferenciam os candidatos para “granjear o apoio, aplauso e simpatia dos cidadãos eleitores”.

“Por isso, não podemos propor-nos a apresentar candidatos que, seguramente, vão sofrer a reprovação dos cidadãos eleitores. Por essa razão, todo o cuidado será tido em conta para que possamos apresentar candidatos limpos de qualquer atenção ou prejuízo em relação ao partido”, declarou.

No discurso de abertura do encontro, a vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, disse que o partido quer a concorrer nas autárquicas pessoas conhecedoras da realidade dos municípios e capazes de criar um ambiente de proximidade aos cidadãos.

“Pesa sobre os ombros do MPLA a responsabilidade de apresentar candidaturas de peso, de referência social e moral, dotadas de competências que lhes permitam liderar com sucesso a administração local”, apontou.

Para o primeiro trimestre de 2020 estão previstas eleições internas para a selecção dos candidatos às primeiras eleições autárquicas, cuja implementação será feita de forma gradual, forma contestada pelos partidos da oposição, que pretendem a sua efectivação em simultâneo.

O grande, enorme – dizem, exemplo do MPLA

João Lourenço, na altura general, ministro da Defesa e cabeça-de-lista do MPLA nas eleições gerais de 23 de Agosto de 2017, disse no dia 14 de Julho de 2017, em Luanda, que pretendia combater a corrupção acabando “com muita vontade” com um outro mal que é o da impunidade.

Passada a fase inicial de mais esta anedota oficial, regressemos à actuação do candidato do regime. Numa primeira entrevista colectiva dada a alguns órgãos nacionais, João “Malandro” Lourenço reiterou que o combate à corrupção (Angola é dos países mais corruptos do mundo) estava na linha da frente quer nos principais documentos do partido, na moção de estratégia do líder do partido, bem como no seu programa de governação. Ou, ainda, na encíclica divina do “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos.

Tratando-se de uma anedota velhinha (tem, nesta altura quase 44 anos), os decibéis dos risos começam a perder potência, assim como os dos aplausos dos sipaios arregimentados como figurantes para este programa de fraco, muito fraco, humor.

João Lourenço frisou que quer o líder do partido quer a direcção do MPLA (que caninamente está sempre de acordo com o que o líder manda, seja ele quem for) “concluíram que a corrupção é um grande mal que entre outras coisas coloca a reputação do nosso país perante a comunidade internacional”.

O general João Lourenço (ou terá sido o ministro da Defesa? Ou o candidato?) parecia ter descoberto a pólvora. Ou terá sido a roda? Com que então a “corrupção é um grande mal”? E “quer o líder do partido quer a direcção do MPLA” concluíram isso? É obra. Um Nobel estará garantido.

“Se tivermos a coragem, a determinação de combatermos a impunidade com certeza que conseguiremos combater a batalha da luta contra a corrupção”, disse João Lourenço. Pois é. Tudo indicava, fazendo fé na prática dos 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, que o então candidato do MPLA estava a pensar acabar com a impunidade dos pilha-galinhas, mantendo-a para os que roubam todo o aviário. E assim está a ser. Não é mais do mesmo mas é, com certeza, muito mais do… mesmo.

Também se não fosse para dizer, apenas isso, o que as pessoas e a comunidade internacional queriam ouvir, João Lourenço não seria cabeça-de-lista. Gente séria do MPLA (dizem que há alguma) não aceitaria ser uma marioneta nas mãos de quem, desde sempre, privilegiou os poucos que têm milhões (dando-lhes mais milhões), estando-se nas tintas para os milhões que têm pouco ou… nada.

Registe-se, tomando em conta a tese de que o MPLA quer candidatos impolutos, que João Lourenço se propunha combater o problema da má gestão dos recursos públicos, certamente replicando os eficientes exemplos e estratégias de combate praticados em países onde não existe “má gestão dos recursos públicos”.

“É que se criou na nossa sociedade a mentalidade que tudo que é do Estado é para se cuidar de qualquer forma, não há contas a ajustar para ninguém, não há patrão, temos que trabalhar no sentido de inverter esta mentalidade”, referiu João Lourenço. Esqueceu-se de dizer que essa mentalidade é genética no MPLA e que os seus principais protagonistas são membros do MPLA.

Mentalidade essa fomentada ao longo de 44 anos por criminosos, corruptos e similares que dominaram esse mesmo Estado. E quem foram eles? José Eduardo dos Santos como líder supremo, tendo na sua equipa altos dignitários do regime, desde logo o próprio João Lourenço. Chato, não é?

Para a inversão deste quadro, avançou o na altura também vice-presidente do MPLA, deverão ser aplicadas um conjunto de medidas de carácter administrativo, legislativo, de educação moral e cívica, que vão permitir “colocar na mente das pessoas que o que é público é sagrado”.

Onde está a novidade? Os 20 milhões de angolanos pobres sabem que o que “é público é sagrado”. E isso também é sabido pelos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com… fome.

“O que é público tem dono, o que é público é de todos os angolanos e como tal temos a obrigação de cuidar, de preservar e de prestar contas ao dono desse património que é o povo angolano”, apontou João Lourenço.

E enquanto os angolanos continuam a tentar viver sem comer, registe-se que os dirigentes do MPLA mentem às segundas, quartas e sextas e aldrabam às terças, quintas e sábados. Ao domingo fazem a síntese do trabalho da semana: mentem e aldrabam.

Folha 8 com Lusa

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