Meu nome é Lourenço.
João M. G. Lourenço

Está é uma “entrevista” inédita que João Lourenço (o nosso idolatrado e messiânico JLo) não deu ao Folha 8 ou, dando-a, não se apercebeu para quem era… mas não necessariamente fantasiosa… É uma espécie de Questionário Proust. Uma espécie de quê?, perguntará o actual “querido líder”. Bem, siga a caravana.

Por Brandão de Pinho

1- Excelência, o que acha deste modelo de entrevista -combinado com os seus “consiglieris” e ratificada por eles – no fundo uma espécie de Questionário Proust, mas com perguntas mais maduras e menos adolescentes e respostas consoantes e consonantes essas mas que dessa forma não terão um fio condutor?

– Não tenho de achar nada. Tenho indicações e instruções para me dar bem com a comunicação social e em especial a imprensa sobretudo estrangeira. Que aliás me adoram. E admiram.

2- Quais seriam as probabilidades de alguém dentro dum aparelho que governa há quase meio século, autocrática e despoticamente, um país – que foi obrigado a seguir um regime governativo democrático e liberal, que demorou séculos a amadurar nesses países, e, dos quais foi beber a inspiração – conseguir ascender à mais eminente posição nesse aparelho, e por inerência, tendo sido obrigado a agir de acordo com os seus ditames e código genético, mesmo sendo tal actuação, alegadamente, uma farsa pois tem-se revelado diametralmente distinta do seu antecessor que de certa forma o nomeou sucessor em detrimento de alguém da sua linha de sucessão?

– Seriam estatisticamente quase nulas. Mas eu sou diferente. Estou incumbido de uma missão divina de salvar o povo escolhido. O povo angolano.

3- E o que tem a dizer àqueles que ousam afirmar que tudo não passa de um logro? De uma enorme encenação para perpetuar o poder do Eme?

– Suponho que isso do “Eme” seja MPLA mas uma coisa é o governo de Angola e outra diferente é o MPLA. Eu encontrei os cofres vazios e um vespeiro cheio de marimbondos no Palácio Alto e isso definitivamente não é um logro.

4- Ultrapassada a irritante questiúncula com Portugal está V. Ex.ª disposto a estreitar as relações cooperando e promovendo um intercâmbio e forte troca de ideias de forma a que se venham a implementar processos mais democráticos e nos moldes ocidentais para a construção de uma democracia robusta como nos casos – e foquemo-nos nos países lusófonos – não só de Portugal mas também do Brasil?

– O Economist, recentemente, como deverá saber, tem um Índice de Democracia onde pôs Cabo Verde em 26.º lugar desse “ranking” entre 167 países avaliados. É a nação melhor classificada entre as lusófonas já que Portugal está em 27° lugar e o Brasil aparece em apenas na 50.ª posição. No final do ano passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) considerou que Cabo Verde tem feito uma aplicação positiva dos rendimentos na área de desenvolvimento humano e tem obtido bons resultados diante de outros países lusófonos. Logo se há algo quem nos sirva de referencia – e até porque é um país africano – será Cabo Verde.

5- Quais são os principais factores estruturais dos mecanismos democráticos e que podem comprometer o fortalecimento ou quiçá uma total implementação da democracia no quadrado?

– Em bom rigor não há oposição em Angola pelo que ao meu trabalho de governo tenho o acréscimo de fazer a oposição que não tenho; não havia imprensa livre, apesar de no meu tirocínio, em abono da verdade, reconhecidamente, mesmo em termos internacionais esta situação tenha sido radicalmente alterada e a prova é que se pode escrever e publicar à vontade; e por fim, o aparelho partidário estava promiscua e proficuamente demasiado intrincado com o do estado seguindo à letra uma cartilha escrita em cirílico que vai permitindo que alguns regimes se vão tornando autocráticos com elaboradas estratégias das quais o nepotismo, o favoritismos, o clientelismo, o amiguismo, a cunha, o michismo, o gasosismo são apenas as que mais ou menos se vão subentendendo… pois há outras que tenho vindo a combater com enorme sucesso como aliás é reconhecido pela comunidade internacional.

6- Excelência João Lourenço, o senhor vê-se na contingência de ter uma conduta mais aprimorada e decente, pois caso contrário Angola perderia a pouca credibilidade que tem e simplesmente não entraria dinheiro no quadrado ou sequer alguém investiria, pelo menos de forma transparente e realmente assertiva, tendo em vista a prosperidade e interesses da nação?

– Não. Esta é a nossa forma se ser e estar e com a qual queremos contagiar Angola e os angolanos. E é a forma correcta pois Angola agora é um país seguro para investir…

7- Há quem diga que V. Ex.ª também se beneficiou, à custa do erário público, razão de tamanha fortuna, incompatível com o salário que auferiu, e que agora não passa, por um lado do cabecilha de uma associação criminosa que vive para delapidar o país e por outro um mero joguete do Eme que é quem de facto põe e dispõe. Não receia que na prática Angola seja um regime de partido único como na China mas sem conseguir eliminar a corrupção?

– Tenho de confessar uma coisa. Eu, o João Lourenço indivíduo e não o cabecilha do quadrado e do Eme – para usar uma linguagem vulgar que infelizmente a ERCA ainda permite -: estou submisso a um poder superior e de certa forma sou um joguete… mas não do Eme – que tal como na China cujo modelo seguimos, se vai renovando por dentro, ao sabor das correntes, mas com aquela certeza de partido único e de que continuará a governar – mas do povo angolano. As mudanças são mais efectivas e fáceis de realizar quando há partidos únicos ou maiorias parlamentares (como no caso por exemplo da África do Sul e do seu ANC) mas ainda assim na China a luta contra a corrupção, que faz parte da condição humana, parece, aparentemente, ter dado mais resultados justamente por essa casualidade governativa enquanto em Angola essa luta ainda só aparenta resultar, mas se aparenta é porque tem resultado mesmo!

8- Porque é que uns países prosperam enquanto outros com melhores condições vão definhando e subalternizando-se, mais às potências económicas, mais ou menos às militares e menos às culturais (que nem sempre são coincidentes)?

– Anos de colonialismo bárbaro e escravatura destruíram os vínculos sociais e perverteram os valores individuais o que tem levado a esta diferença de ritmo mas que iremos em breve anular. A questão das guerras colonial e civil que o MPLA na prática teve de – assumindo esse sacrifício e desígnio patriótico nacional – de enfrentar. A questão do isolamento de África e de uma visão euro-cêntrica com construções artificiais de países (ao contrário da Ásia). Enfim há várias outras questões que tanto serão da responsabilidade de governantes quanto dos seus povos mas a História foi-nos madrasta.

9- Porque é que tornou pública a situação do seu antecessor em recusar as ajudas protocolares bem como a não assunção das suas obrigações enquanto ex-presidente?

– Quis mostrar aos angolanos quem é Dos Santos e demarcar-me de uma possível futura acusação de estar envolvido nessa situação.

10- Acha congruente dentre os vários epítetos que lhe são atribuídos chamarem-no de Marimbondo Malandro quando V. Ex.ª a ter alguma coisa vagamente associada a marimbondos, seria – como se auto-proclamou – de marimboncida-mor?

– De todo. Isso é absolutamente incongruente. Apesar de não gostar dessas alcunhas, epítetos, cognomes, o que lhe queiram chamar, a ser algo seria marimbondocida, ou melhor, marimboncida mas não um marimboncida-mor porque há vários patriotas bem preparados que dividem comigo o marimbondocídio e eu sou tudo menos marimbondo desde que iniciei o meu mandato como presidente da República angolana.

11- Como é que um angolano pode não desconfiar de marimbondices quando se depara com facto consumado de uma empresa como a Telstar ter ganhado o concurso para atribuição de licença para uma quarta operadora móvel, criada a 26 de Janeiro de 2018 com 200 mil kwanzas (550 euros) de capital social, tendo como accionistas o general Manuel João Carneiro (90%) e o empresário António Cardoso Mateus (10%)?

– O Presidente da República de Angola não tem, nem que estar por dentro de todos os dossiês como não pode usurpar funções que cabem ao Ministério Público, mas tanto quanto sei foi um concurso limpo.

12- Não considera vergonhoso e particularmente insultuoso para si que uma entidade estrangeira o tenha obrigado a anular a compra dos aviões por ser ruinosa e desnecessária sabendo-se que depois estaria prevista uma privatização que irá beneficiar alguém e sabendo-se que a UE já permite voos no seu espaço à TAAG?

– NÃO RESPONDEU

13- Como explicar aos leitores deste “Questionário Proust” nessa questão dos aviões a perda certa de pelo menos 1% do que foi dado como garantia e como vai aplacar os michistas que já salivavam ante tão apetitosa negociata com que se iriam banquetear mesmo que transformando Angola numa carcaça -com tão ruinoso negócio – onde ainda, provavelmente, iriam debicar mais um pouco?

– Comigo não há negociatas e nem sequer permiti que enquanto Ministro da Defesa, familiares muito próximos, amigos chegados e quadros das Forças Armadas se envolvessem no fornecimento de equipamentos e materiais mesmo que dentro de um quadro de legalidade.

14- Para quem tanto é aclamado com tão jubilantes estrépitos pela mudança de práticas autoritárias quer no que diz respeito à liberdade de imprensa quer no relacionado com o direito à livre expressão e manifestação, como explica que a Embaixada de Angola em Lisboa tenha pedido orientações ao ministro Manuel Augusto sobre a solicitação de apoio às autoridades portuguesas para implementação de “medidas especiais” para impedir uma manifestação de apoio a José Eduardo dos Santos, ainda para mais num país estrangeiro, se bem que obediente e bem-mandado?

– Dizer que o nosso país-irmão é obediente é claramente um desrespeito para com Portugal e esta pergunta nem sei se a deveria responder pois estaria a ser conivente com tão vexatória consideração. Portugal através de todos os quadrantes políticos com representação parlamentar tem excelentes relações com Angola e com o MPLA o que é sinal de respeito e reconhecimento da nossa boa administração do país e sinal de que o MPLA é um partido de bem, moderno e comprometido com a nação e sem espartilhos de direita ou esquerda. Quanto a esse boato, essa “Fake New”, não tem razão de ser pois não proibimos – o consagrado constitucionalmente – direito à manifestação nem em Angola, nem em Cabinda, nem em Portugal e nem, tampouco, em quaisquer outros lugares.

15- Mais de 30 milhões de habitante falantes de uma língua oficial que é a mais falada no nosso hemisfério e das mais faladas na Internet e naturalmente com um estrato demográfico muito jovem e com a obrigação de estar informado e desejoso de mudanças (tão precárias são as suas condições sócio-económicas) não o faz temeroso dos resultados dos próximos actos eleitorais?

– Angola é o MPLA e este é aquela. Um é outro e vice-versa, ponto. Abrimos a caça ao marimbondo e insisto que chamar-me de Marimbondo Malandro não se trata de mero “lapus linguae” ou mais grave, “lapsos carni” pois há quem o escreva. Trata-se de uma campanha orquestrada e encomendada no sentido de descredibilizar este governo enaltecendo o antecessor justamente com este tipo de linguagem insultuosa e desrespeitosa travestida de alguma irreverência muito do agrado da juventude mas eu sei que os mais novos de Angola são sensatos e inteligentes e não se deixam influenciar por este tipo de expedientes ou “Fakes News”. Basta ver o dinamismo da Jumentude Emepeleiana…

16- Acha normal num país minimamente civilizado realizarem-se eleições autárquicas “à moçambicana”?

– Herdámos do anterior executivo uma situação desastrosa e apesar dos esforços conjuntos de vários sectores transversais a diversos ministérios ainda não temos condições para fazer esse plebiscito na totalidade do quadrado. Iremos ver os erros de Moçambique e copiar as coisas boas para fazermos umas autárquicas “à angolana” absolutamente imaculadas com a excelência dos países europeus.

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