Da clonagem de cartões
à aposta nos angolanos

O Banco Nacional de Angola (BNA) admitiu hoje ter registado “alguns casos” de clonagem de cartões de débito da rede interbancária multicaixa, referindo que a maior parte resultou do “uso inadequado” por parte dos clientes.

“A chamos que houve um bocado de exagero em relação a esta questão. Terão existido alguns casos de clonagem, mas, na maior parte dos casos que tivemos nota e conhecimento resultou do uso inadequado dos cartões”, disse hoje o vice-governador do BNA, Rui Mingueis.

Respondendo aos jornalistas sobre relatos de casos de clonagem de cartões multicaixa (rede interbancária angolana), o responsável explicou que o uso inadequado desses cartões ocorreu sobretudo “porque os utilizadores juntam-nos com o ‘pin’ ou deixam-nos com pessoas conhecidas”.

“Não temos realmente situações muito amplas de clonagem ou outros tipos de fraude que não sejam aquelas que resultam da própria utilização inadequada os utilizadores”, salientou.

Rui Mingueis, que falava hoje, em Luanda, à margem de uma Conferência sobre Tecnologias de Informação para o Sistema Financeiro Angolano, promovida pelo BNA, assegurou que os níveis de segurança dos cartões multicaixa “até agora é satisfatório”.

Em 2018, a Empresa Interbancária de Serviços (EMIS) de Angola, que gere aquela rede, anunciou que os cartões multicaixa deverão incorporar um “chip” electrónico para reforçar a sua segurança, uma vez que os actuais ainda funcionam apenas com uma banda magnética.

Hoje, o vice-governador do banco central angolano recordou a pretensão da EMIS, afirmando que este próximo passo “vai redobrar a segurança” do sistema, que conta em Angola com mais de dois milhões de cartões activos.

“O cartão com ‘chip’ vai fortalecer a segurança, porque as questões de seguranças não se podem compreender como estáticas. Chega um momento é preciso redobrá-la”, apontou.

Debilidades nas engenharias tecnológicas

Por outro lado, a ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação assumiu hoje que o país tem “uma grande debilidade” de formação nas áreas de engenheira e tecnologias, apontando um “excedente de quadros subaproveitados” no domínio da informática.

“Infelizmente, o quadro formativo do país tem uma debilidade muito grande em áreas de engenharia e tecnologias. Considera-se, por exemplo, que os cursos ligados à informática têm algum excedente que não está a ser devidamente aproveitado pelo mercado de trabalho e é um problema sério”, afirmou Maria do Rosário Sambo.

Para a ministra angolana, se o país está a formar quadros e não os aproveita, isso constitui um problema que o Governo terá de resolver na ligação com as empresas e outras acções de empreendedorismo.

“Há um trabalho que já decorre entre o ministério e algumas empresas para solucionar essa situação”, referiu.

A governante falava à margem da Conferência sobre Tecnologias de Informação para o Sistema Financeiro Angolano, onde foi assumida a existência de um “excesso de consultores externos” em novas tecnologias na banca comercial.

Questionada sobre a preocupação do banco central angolano, que tenciona “reduzir o impacto” de consultores externos em benefício dos quadros angolanos, Maria do Rosário Sambo deu conta que está em curso a preparação de uma “reforma curricular” para dar resposta às carências apontadas.

“Estamos a preparar as condições para isso nas diferentes áreas do saber. Vamos organizar debates com as empresas para conhecer melhor as necessidades reais da sociedade. Mas estamos aqui a falar, especificamente, das tecnologias de informação aplicadas ao sistema financeiro”, apontou.

“Temos aqui a oportunidade de contactar empresas nacionais que nos podem apoiar para definir o melhor perfil de formados para atender essa demanda e prepararmos a modificação no currículo, para que o diplomado possa estar em melhores condições de atender as necessidades” dos diferentes sectores, realçou.

A ministra do Ensino Superior de Angola recordou ainda que o país conta com 25 instituições públicas de ensino superior e 55 privadas, referindo ainda que muitas soluções tecnológicas “não têm sido bem aproveitadas” pela comunidade académica.

“Pela experiência que temos vivido nas nossas instituições, nem sempre as soluções tecnológicas que são colocadas para facilitar a comunicação são bem aproveitadas pela comunidade académica”, frisou. E isso, acrescentou, “é um trabalho que as instituições de ensino têm que fazer para que haja essa melhoria”.

Excesso de consultores externos

O vice-governador do Banco Nacional de Angola referiu também e a este respeito que o recurso à consultoria externa na banca angolana começou depois da abertura da área financeira ao sector privado.

O vice-governador do BNA afirmou que “persiste a falta de confiança na qualidade do serviço” prestado pelos provedores tecnológicos do país

Assim, o BNA assume que existe uma “excessiva dependência” de consultores externos no sistema bancário angolano, afirmando que “tenciona reduzir o impacto destes” no sistema financeiro, “em benefício dos angolanos”.

Rui Mingueis referiu que o recurso à consultoria externa, sobretudo de provedores para serviços de novas tecnologias, na banca angolana começou depois da abertura da área financeira ao sector privado, perspectivando a redução da actual dependência.

“O que nós pretendemos não é reduzir a consultoria externa, mas sim o seu impacto e, tanto quanto possível, trazer especialistas angolanos para o sector da consultoria nos sistemas de tecnologias de informação”, disse.

“É um imperativo, não só económico e financeiro, mas de equidade nacional. Temos de garantir que parte dos rendimentos gerados fiquem na nossa família e isso passa também pela sensibilização das empresas angolanas de publicitarem os seus produtos e serviços”, apontou.

Falando à margem da Conferência sobre Tecnologias de Informação para o Sistema Financeiro Angolano, Rui Mingueis defendeu que o país tem consultores nesse domínio, mas que muitos dos bancos continuam a recorrer ao exterior.

“Compramos muitas soluções já produzidas. Existem, naturalmente, algumas soluções que também são de carácter global, utilizadas em vários países, e isso provoca um ciclo que obriga que haja recurso à consultoria externa”, afirmou, referindo ser necessário “inverter a situação a favor dos angolanos”.

Por sua vez o director do departamento de Tecnologias de Informação do BNA, Marcelino Hiyelekwa, confirmou que existe um “excessivo recurso” da banca angolana à consultora externa.

Aludindo a um estudo, Marcelino Hiyelekwa, deu conta, por exemplo, que “68% dos bancos angolanos gostariam de trabalhar com provedores tecnológicos nacionais“, mas que ainda “persiste a falta de confiança na qualidade do serviço por eles prestado”.

Em relação o tema da conferência, Rui Mingueis referiu que a reflexão surge devido à evolução permanente das novas tecnologias de informação e comunicação, sublinhando que um dos maiores desafios do sistema é o da “inclusão financeira”.

“É preocupação permanente do banco central, mas também uma preocupação dos restantes operadores do sistema, pelo facto de termos ainda uma pouca densidade de utilizadores do sistema financeiro e a inclusão financeira é um instrumento importantíssimo no combate a pobreza e a desigualdade social”, adiantou.

Semana Global do Dinheiro

No âmbito do seu Programa de Educação Financeira, o Banco Nacional de Angola promove a 2ª edição da “Semana Global do Dinheiro” (“Global Money Week”), uma iniciativa de carácter mundial promovida pela organização holandesa “Child & Youth Finance International” (CYFi).

Este ano o evento, cujo lema é “Aprende. Poupa. Ganha.”, decorrerá de 29 de Março a 4 de Abril, no Pavilhão 2 da cidade baixa, no Huambo. A entrada é livre num espaço onde crianças e jovens poderão usufruir de actividades profissionais e lúdicas, proporcionando-lhes a oportunidade de exercerem o papel de pequenos empreendedores, aprendendo a gerir o dinheiro correctamente e a poupar para o seu futuro.

A CYFI é uma organização sem fins lucrativos (ONG), sediada em Amesterdão – Países Baixos, e trabalha com parceiros em mais de 169 países com o fim de contribuir para a educação e inclusão financeira das crianças e jovens em todo o mundo. Coordena aquele que é considerado o maior movimento de sensibilização mundial para a importância da formação e inclusão financeira dos jovens a “Global Money Week” (Semana Global do Dinheiro).

Desde 2012, a “Global Money Week” alterou a vida de 32 milhões de crianças e jovens com a parceria de 53.300 organizações em 169 países. Este é o segundo ano que Angola celebra a “Semana Global do Dinheiro”, dinamizada pelo BNA, sendo que a primeira edição, igualmente promovida pelo BNA, teve lugar em Luanda em 2018, no parque da Museu da Moeda, na qual participaram mais de 18 mil crianças e jovens.

Aprender: Ensinar às crianças e jovens os seus direitos e responsabilidades sociais e económicos é a chave para criar uma geração de adultos capazes de tomar decisões responsáveis relativas ao seu futuro.

Poupar: É importante para crianças e jovens construir bons hábitos desde tenra idade de forma a cultivar habilidades de gestão do dinheiro para a sua vida futura.

Ganhar: Desenvolver capacidades de meios de subsistência ou aprender sobre empreendedorismo ajuda as crianças e os jovens a conseguirem um emprego ou a construírem o seu próprio negócio e desenvolverem a sua carreira.

Folha 8 com Lusa

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