Satélite lá bem no ar,
fome cá bem em terra

O Governo de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, certo que continuará a ser dono de Angola (as eleições são apenas para matumbo ver) não está com meias medidas e promete acabar com os 20 milhões de pobres. Ou melhor, promete o lançamento de satélites de teledetecção remota dentro de dois anos, no programa de Estratégia Espacial até 2025 que tem como ponto central o lançamento do satélite AngoSat-1, ainda em 2017.

Segundo o documento, oficializado este mês, esta estratégia prevê o estudo da viabilidade da construção e lançamento de satélites de teledetecção remota, para observação da terra e meteorologia, por parte do Governo angolano, entre 2019 e 2025.

Em complemento, esse processo, uma das estratégias constantes do programa espacial angolano, implicaria ainda a construção de estações terrestres para recepção directa de imagens de satélite.

Outras estratégias a implementar até 2025 prevêem a implementação de um sistema de informação geográfica, um programa de observação da terra através de imagens de satélite, um sistema nacional de comunicações por satélite e o lançamento do AngoSat-1.

“A estratégia especial permitirá à República de Angola construir um edifício ambicioso e sustentável como instrumento do seu progresso socioeconómico e de afirmação internacional, cumprindo deste modo, de forma eficaz e inovadora, os propósitos estratégicos gerais e sectoriais do país”, lê-se no documento.

O lançamento do AngoSat-1, primeiro satélite angolano, em construção na Rússia desde 2013 após uma década de negociações, está previsto para o terceiro trimestre deste ano, de acordo com o último anúncio feito pelo ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação de Angola.

A construção do satélite, que vai reforçar as comunicações nacionais e internacionais, está a cargo de um consórcio russo e arrancou a 19 de Novembro de 2013, cerca de 12 anos depois de iniciado o processo. Essa construção deveria prolongar-se por 36 meses (Novembro de 2016), calendário que o Governo angolano garantiu anteriormente estar a ser cumprido integralmente.

De acordo com o governo, a construção do satélite está concluída, mas decorrem ainda testes e fase de formação de especialistas para o operar. Por esse motivo, prevê que o AngoSat-1 estará em órbita no início do terceiro trimestre de 2017.

O AngoSat-1 vai disponibilizar serviços de telecomunicações, televisão, internet e governo electrónico, devendo permanecer em órbita “na melhor das hipóteses” durante 18 anos.

“Não só vai prestar serviços à população, como a toda a região, vai também provocar uma revolução no mundo académico angolano, com a transferência de conhecimento”, explicou o ministro José Carvalho da Rocha.

Na mesma ocasião, o governante afirmou que a crise no país não vai condicionar o lançamento do primeiro satélite angolano, avaliado em 2013 em 37 mil milhões de kwanzas (mais de 200 milhões de euros, à taxa de câmbio actual).

“O satélite vai cobrir todo o continente africano e uma parte da Europa. Nós vamos ter capacidade para servir as nossas necessidades e prestar serviços a outros países da região de cobertura do AngoSat. Temos que procurar aqueles projectos que possam trazer divisas para o nosso país”, explicou o ministro.

Este projecto espacial envolve os governos de Angola e da Rússia e o centro de controlo em construção em Luanda será operado por 45 técnicos especializados.

Segundo o Governo de Eduardo dos Santos, a construção do satélite deverá pois estar concluída em 2017, decorrendo “dentro dos prazos estabelecidos”, para depois ser lançado no espaço.

De facto, é de enaltecer tal precisão. Não faria sentido lançar o satélite antes de ele estar concluído. Mas, reconheça-se, com o regime actual tudo é possível.

Ao contrário do que pensavam os angolanos, não vai trazer comida, nem medicamentos, nem casas, nem escolas, nem respeito pelos direitos humanos. Importa, contudo, compreender que há prioridades bem mais relevantes. E o satélite é uma delas.

Em Dezembro de 2012, as autoridades anunciaram o lançamento para 2015, dizendo que o projecto seria financiado por um sindicato de bancos russos liderado pelo Ruseximbank e VTB.

Na altura foi dito que a construção estava a cargo de um consórcio russo liderado pela RSC, multinacional apresentada como tendo “larga experiência na produção de satélites e foguetões propulsores em programas internacionais como o Soyuz-Apollo”.

“Este Satélite é o primeiro e marca a entrada de Angola numa nova era das telecomunicações, o que pressupõe a condução de um programa espacial que inclua, futuramente, o lançamento de satélites subsequentes,” referiu em 2012 o então coordenador do projecto, Aristides Safeca.

“O projecto do AngoSat vai bem. Está dentro dos prazos estabelecidos e em Setembro de 2016 teremos o satélite pronto e princípios de 2017, o mais tardar no primeiro trimestre, teremos o satélite no ar”, afirmou Aristides Safeca, referindo que o Executivo está, no domínio dos telecomunicações, a efectuar a procura e buscas de soluções adequadas para as telecomunicações, não só no meio urbano, mas também no meio rural.

Ao que tudo indica, com o AngoSat, o nosso país deixará de ter 68% da população afectada pela pobreza, ou a mais alta taxa de mortalidade infantil no mundo.

Será também graças ao satélite que não mais se dirá que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade, ou que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

Do mesmo modo, com o AngoSat não mais se afirmará que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino. Ou que 45% das crianças sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Folha 8 com Lusa

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