O pastor dos carneiros
é carneiro dos pastores

O “pastor” Antunes Huambo, proprietário da Igreja Coligação Cristã em Angola (ICCA), é – ele próprio o reconhece com entusiasmo – um sipaio do MPLA. No programa “Debate Livre” da TV Zimbo, emitido esta terça-feira, que abordou o tema “Religião e a Política”, mostrou as qualidades básicas para se contar com o apoio do regime: ausência de coluna vertebral e cérebro (mesmo que de diminutas dimensões, como é o caso) directamente ligado ao intestino.

Por William Tonet e Orlando Castro

Ao zurrar que “a cor da bandeira do MPLA simboliza o sangue do Jesus Cristo”, Antunes Huambo criou uma dúvida genética: Tem o cérebro ligado ao intestino ou em vez de cérebro só tem intestinos?

Essa dúvida ganhou ainda mais consistência quando o sipaio afirmou que, “nós como igreja, podemos propor à sociedade civil angolana para apresentar uma proposta ao mundo, para que o nosso filho de Angola (José Eduardo dos Santos) seja elevado à categoria de Prémio Nobel da Paz, pelas conquistas alcançadas”.

Deus representa (no Céu) Eduardo dos Santos

Antunes Huambo nem consegue, aliás, ser original. Isto porque é o próprio MPLA que diz ser Eduardo dos Santos o único representante de Deus na Terra. Mas, também neste aspecto, há dúvidas existenciais no seio dos restantes sipaios: Não será que Deus é que é o único representante de Eduardo dos Santos no Céu?

Durante todo debate, no qual também participaram os pastores Elias Isaac, N’toni N’zinga e Luís N’guimbi, Antunes Huambo foi bem admoestado pelos telespectadores mas – ciente do poder das “ordens superiores” – mostrou ser um mercenário fiel à causa, tendo apenas faltado dizer qual o seu número de militante do MPLA.

“Eu não tenho vergonha de assumir aqui perante as câmaras, que pertenço ao partido no poder e o nosso país não está preparado para ser governado por outra força política”, disse o pastor na pele de carneiro-mor da Igreja Coligação Cristã em Angola.

Encarnando o papel de pastor dos carneiros do regime, ou de carneiro dos pastores do regime, Antunes Huambo debitou críticas (devidamente aprovadas pelo MPLA) aos partidos da oposição, dizendo que “a UNITA deve pedir desculpas à população pelo seu passado negro e vergonhoso e a CASA-CE, por sua vez, deve procurar reconciliar-se com o seu partido de origem, porque nós somos um pais unitário”.

Antunes Huambo, por lapso, esqueceu-se de reproduzir o recado de que, afinal, os responsáveis pelos massacres do 27 de Maio de 1977 foram os dirigentes da UNITA e as vítimas pacatos cidadãos do MPLA, alguns até talvez membros da sua seita…

O sipaio do MPLA com funções delegadas de dono da ICCA, disse também que a sua organização (tal como o seu partido) tem como finalidade açaimar todas as seitas religiosas dispersas pelo país, que professam a sua fé sem qualquer personalidade jurídica, cuja acção está enquadrada no estudo e tratamento do fenómeno religioso, aprovada pelo Despacho Presidencial de 9 de Setembro de 2009.

Angolanos são só os do MPLA

Antunes Huambo chamou seita à congregação de Kalupeteka, dizendo que os seus fiéis “mataram os nossos polícias”? Pois é. Os polícias “são nossos”, os fiéis que forram barbaramente assassinados (também angolanos) são o quê? Se não “são nossos” (do MPLA) são dos outros e, nesse caso, até terão morrido poucos, não é Antunes Huambo?

E o local de culto dos Kalupetecas, Monte Sumi, no Huambo, foi militarizado e virou quartel, para esconder as provas do genocídio? Não. Antunes Huambo está, aliás, a pensar edificar no local um grandioso monumento em memória dos “nossos (do MPLA) polícias”.

Antunes Huambo dirige uma organização não legalizado, pois apresenta-se como presidente de um grupo de seitas ilegais. Mas isso é irrelevante. Ser ilegal não conta desde que, como é o caso, tenha a bênção do “escolhido de Deus” que, como se sabe, está acima de qualquer lei.

Antunes Huambo é no mínimo, sejamos benevolentes, um autor moral dos homicídios praticados no Huambo e este crime como não prescreve, mais cedo ou mais tarde este “carneiro/pastor” ou “pastor/carneiro” será levado às barras dos tribunais que um dia existirão no país, tão logo Angola seja um Estado de Direito.

Antunes Huambo disse ainda, “hoje estamos aqui e atrás os nossos filhos ficam a escrever mal contra o governo”. Certamente que Deus, na sua santa misericórdia, lhe perdoará por ele não saber o que diz quando confunde verdade com dizer mal do governo. Deus pode perdoar. Nós não!

Antunes Huambo, dada sua característica genética de mamífero ruminante bovídeo, aspira – e muito bem – estar um dia no Parlamento, no governo e no Conselho da República. Se é por lá que está a gamela, é por lá que ele quer estar. Até ao dia em que o carneiro for sacrificado em honra de um qualquer deus menor.

Do púlpito da sua tremenda ignorância que, na circunstância, rimou com acéfala ignorância, Antunes Huambo auto-elogiou-se por ter “atraído a atenção dos ouvintes”… da televisão (telespectadores são outra coisa…), dizendo mesmo à boa maneira dos seus patrões: “Estou de parabéns”.

Antunes Huambo critica os pastores que “estão a fazer reuniões com os partidos da oposição” porque, na sua “santa” e muito bem paga ignorância, “a nossa cooperação deve ser com o governo”.

Pastores devem orientar eleitores no caminho do… MPLA

“O s pastores das igrejas em Angola têm a obrigação moral de orientar os fiéis sobre como devem votar e em quem devem votar. Isto aconteceu e deve acontecer. É uma grande responsabilidade que é entregue à maioria dos nossos fiéis cidadãos eleitores e vão entrar na cabine do voto para decidir o destino do país”, pregou o dito militante do MPLA, acrescentando (a tradução para português é da nossa responsabilidade) que “o pastor não pode ficar com os olhos fechados, não pode fingir que não está a ver nada”, devendo por isso dizer aos crentes que devem votar no… MPLA.

Antunes Huambo diz, sempre reproduzindo as instruções recebidas, que os crentes devem votar num programa de governação “que melhor satisfaz a manutenção da paz, das conquistas alcançadas, da harmonização social, da tranquilidade pública, da unidade do povo, da preservação dos objectivos e propósitos da igreja para que continue a exercer os seus trabalhos normalmente”. Qualquer semelhança com Angola é efémera coincidência.

Embora Antunes Huambo não esteja preocupado com isso, importa recordar que, ao contrário do que o seu patrão e patrono lhe diz, “é mais fácil um camelo entrar pelo buraco da agulha do que o lambe-botas entrar no Reino de Eduardo dos Santos”.

Baseado na “Bíblia” do regime (a única que conhece), Antunes Huambo explica que ele e os seus acólitos devem orientar o sentido do voto porque, desde logo, os angolanos são matumbos: O cidadão “vai votar sozinho e depois aparece um partido com uma propaganda falsa, enganadora como uma publicidade enganadora e leva a que um partido político sem responsabilidade no país, assuma o comando do país e depois é uma mudança para a retaguarda, é uma mudança para regredir os avanços e as conquistas alcançadas, portanto na minha opinião a igreja não deve viver, nem preservar estes tabus e complexos do passado, nós temos que participar na vida política do nosso país”.

Pois é. Daí que até os mortos votem, desde que seja no MPLA. É isso que o bando de Antunes Huambo defende. Veja-se, sem tradução, a tese da criatura:

“Angola é o nosso país e mais este estado laico que temos hoje, ontem era lei constitucional hoje é constituição. Nós temos de lutar para que essa laicidade seja redefinida e seja assente em valores do cristianismo, temos de hastear a bandeira do cristianismo como a árvore mais alta em Angola e todos os pássaros têm de vir alinhar nela. Hoje por hoje o cristão não pode ir na política, não pode é pecado por isso é que há a entrada do islamismo abertamente o islamismo é uma religião ilegal em Angola está a criar mesquitas em todos os cantos de Luanda não se diz nada não se diz nada porque não temos uma definição um posicionamento nós os cristãos angolanos, nós em Angola, temos que e ter um princípio: disciplina! A religião islâmica é um património da Arábia Saudita; é um património mundial mas em Angola, para exercer a sua actividade deve ser oficializada, deve estar legal, assim como é legal o cristianismo, no nosso país”.

Assumiu, com isso, publicamente, estar o MPLA, estruturalmente comprometido com a fraude e a ela estar ligado.

Comediante ao nível de Kangamba

“S ou presidente da ICCA e assumo que faço militância e apoio as estruturas do poder político em Angola. Posso ser o único em Angola a assumir esta militância no partido que dirige o país,” afirmou o, neste caso, carneiro/pastor para, de seguida, o pastor/carneiro dizer que, “quanto ao sangue vermelho, cuja cor vermelha que é o símbolo de Jesus, eu entrei no MPLA e quando eu vejo a bandeira do MPLA com esta cor, me recordo do sangue derramado por Jesus, para nos salvar e me salvou, por isso me revejo, me identifico com as cores do MPLA.”

Alguns altos dignitários do regime não devem ter gostado de ver a forma como Antunes Huambo se posiciona para liderar o “ranking” do anedotário mundial. Veja-se, “ipsis verbis”, mais uma das suas emblemáticas anedotas:

“A igreja é a reserva moral da sociedade, uma Angola em que a igreja angolana reconheça os órgãos de soberania se possível aqueles que contribuíram para o bem da humanidade e alguém deveria merecer um Prémio Nobel da Paz pelas conquistas alcançadas e isso quer dizer, que o nosso pais Angola, honestamente falando (não sei se vou olhar para qual câmara, qual é a câmara?) não está preparado para ser governado por outra força política. A nossa democracia é nascente, o povo angolano está a ensaiar estes processos de democracia de participação política de criarmos um parlamento. Mas a alternância do poder o nosso pais ainda não está preparado, o próprio partido no poder o MPLA, não está preparado para deixar de governar, o próprio povo angolano, não está preparado para ser governado por outra força política, os partidos políticos não tem preparo suficiente para governar o país”.

Embevecidamente embalado na ribalta do circo com a sua, tantas vezes ensaiada, “stand-up comedy”, Antunes Huambo mostrou à sociedade que, não fosse a situação dramática em que sobrevivem 20 milhões de angolanos, rir poderia ser o melhor remédio. Mas não é.

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