Milhares de mortos por malária

A malária causou 15 mil mortos em Angola em 2016, de um total de 4,276 milhões de casos, epidemia considerada pelas autoridades angolanas “um drama para o país”, anunciou hoje o ministro da Saúde. É um drama que, é claro, atinge sobretudo os 20 milhões de angolanos pobres. Mas os donos do reino continuam a sorrir…

Os dados foram divulgados por Luís Gomes Sambo, em conferência de imprensa, que serviu para radiografar o estado do sector.

Sublinhando que Angola é um país vulnerável a epidemias, Luís Gomes Sambo fez referência ao surto de febre-amarela também registado em 2016, com um saldo de 384 óbitos, de um total de 4.599 casos suspeitos, dos quais 884 foram confirmados laboratorialmente, afectando 16 províncias angolanas.

“Também enfrentamos uma epidemia de paludismo, que foi das piores que conheci no nosso país, registámos cerca de 3,3 milhões de casos, em 2015, com 7.000 óbitos, e em 2016 registámos 4,276 milhões de casos, com 15 mil óbitos registados. Foi de facto um drama no nosso país, e foram tomadas as medidas para controlarmos as duas epidemias”, disse o ministro.

O titular da pasta da Saúde angolano frisou que actualmente o país enfrenta uma epidemia de cólera, que atingiu até ao momento as províncias do Zaire, Cabinda e Luanda.

Segundo o ministro, estão registados um total de 252 casos de cólera, que causou a morte de 11 pessoas.

“Temos a prevenção da cólera, que se relaciona sobretudo com o consumo de água imprópria, precisamos de melhorar a qualidade de água de consumo da nossa população e também de educarmos ainda mais a população para que tome as medidas de higiene para que a água de consumo seja de qualidade”, acrescentou.

Eduardo dos Santos sorri

Angola e Moçambique estão entre os oito países com mais mortes por malária no mundo, representando juntos 7% do peso global da doença, revelou o relatório anual da Organização Mundial de Saúde sobre o paludismo, publicado em Dezembro do ano passado. Nada de anormal, portanto.

Publicado anualmente pela OMS, o relatório de 2016 conclui que a taxa de mortalidade por malária caiu quase 30% desde 2010, mas em 2015 ainda morreram no mundo 429 mil pessoas devido à doença.

Segundo o relatório, cerca de 75% das mortes por malária em 2015 concentraram-se em 13 países, a maioria na África Subsaariana. Maldição africana e crime de quem nos governa? Crime, é claro.

O país com maior peso nas mortes por malária é a Nigéria, que reúne 26% do total de mortes, seguido da República Democrática do Congo, com 10%.

A Índia, com 6%, o Mali com 5%, a Tanzânia e Moçambique com 4% cada, o Burquina Faso, Angola, Costa do Marfim, Gana, Uganda e Quénia (3% cada), e o Níger, são os restantes 11 países.

Os autores do relatório estimam que Moçambique tenha registado 8,3 milhões de novos casos em 2015 e que 15 mil pessoas tenham morrido naquele ano devido à malária. Em 2010, o número estimado de novos casos no país era de 9,3 milhões e o total de mortos era de 18 mil.

A redução do número de casos e mortes face a 2010 poderá dever-se ao facto de mais de 60% da população moçambicana dormir hoje coberta por redes mosquiteiras tratadas com insecticida e mais de 10% protegida por vaporização residual, as duas formas mais primárias de controlo da transmissão da malária.

Em Angola, a OMS estima que tenham surgido 3,1 milhões de novos casos em 2015, contra 4,276 milhões em 2016.

Entre os países lusófonos, Cabo Verde e Timor-Leste destacam-se pela positiva, sendo dos que têm menos casos e mortes por malária: Cabo Verde terá tido menos de 50 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 140 mortos e menos de 10 mortos em 2010), enquanto Timor-Leste terá registado 120 casos e menos de 10 mortos em 2015 (contra 110 mil casos e 220 mortos em 2010).

Cabo Verde é ainda destacado como um dos três países do mundo (juntamente com a Zâmbia e o Zimbabué) onde mais de 80% da população em risco dorme protegida por redes mosquiteiras ou vaporização residual.

Por onde andaram os apoios?

Recorde-se que a Embaixada dos Estados Unidos da América em Angola anunciou em Junho de 2016 que o seu governo, através da Iniciativa Presidencial contra a Malária, disponibilizou 500.000 doses de Coartem para combater o surto de malária, que afecta o país.

No âmbito do seu apoio ao Programa Nacional de Controlo da Malária do Ministério da Saúde, a Embaixadora dos EUA, Helena La Lime, procedeu à entrega desta generosa contribuição de 500.000 doses de antimaláricos, no dia 28 de Junho, no Hospital Américo Boavida, ao Ministro da Saúde.

Esta contribuição foi (terá sido) distribuída nas unidades sanitárias das províncias de Luanda, Benguela, Cunene, Huambo, Huíla, Cuanza Sul, Malanje, Uíje, e servirá para tratar 500.000 pacientes de malária.

No acto, que teve lugar no pátio do hospital Américo Boavida, o Ministro da Saúde, Luís Gomes Sambo, agradeceu o gesto e disse que a doação dos EUA é o seguimento da cooperação que os dois países têm no domínio da saúde. O Ministro Sambo referiu-se igualmente que através da Iniciativa de Combate à Malária, PMI, o governo norte-americano investiu nos últimos anos mais de 270 milhões de dólares em Angola.

Em 2016, o governo dos EUA, através da sua Iniciativa Presidencial Contra a Malária, (PMI) implementada pela USAID, investiu um total de U$D 28 milhões de dólares na luta contra malária em Angola.

A doação feita ao Governo de Angola é um apoio adicional da Iniciativa Presidencial contra a Malária e que ocorre todos os anos. A USAID, que implementa o programa em Angola, tem canalizado este apoio para actividades de mobilização social, campanhas de distribuição de redes mosquiteiras, fortalecimento do sistema de saúde, formações laboratoriais e para o manejo adequado de casos de malária, e por fim, apoio ao CECOMA para melhor planificação e armazenamento no manejo da cadeia de medicamentos e equipamentos de saúde.

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