Estado garante dinheiro para o cabo submarino

O Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), detido pelo Estado/regime angolano, vai financiar com 130 milhões de dólares (116 milhões de euros) a instalação de um cabo de telecomunicações submarino ligando Angola, Brasil e os Estados Unidos da América.

De acordo com informação do Ministério das Finanças angolano, o acordo para este financiamento, que envolve uma Garantia Soberana da República de Angola, prevê ainda a construção de um ‘datacenter’ no Brasil e foi ontem assinado com o BDA, em Luanda.

O projecto em causa, em que a empresa Angola Cables lidera o consórcio responsável, prevê a instalação de um cabo submarino de fibra óptica ligando Angola ao Brasil e depois aos EUA, para reforço das comunicações.

Visa a instalação de uma ligação de comunicações submarina entre Angola e o Brasil, denominada de Sistema de Cabo do Atlântico Sul (SACS), e outra entre o Brasil e os EUA, designada de Cabo das Américas (CA).

Com mais de sete mil quilómetros de extensão, o cabo que ligará Luanda (Angola) a Fortaleza (Brasil) será composto por quatro pares de fibra com uma capacidade de transmissão de dados de 40 Tbps (terabits por segundo) e já está em instalação, também financiado pelo BDA.

O segundo cabo – cujo financiamento foi agora assegurado – ligará as cidades de Santos e Fortaleza com Boca Raton, na Florida (Estados Unidos da América), com cerca 10.556 quilómetros de comprimento e seis pares de fibra, com uma capacidade de 64 Tbps.

Recorde-se que o Presidente angolano aprovra uma garantia soberana de 260 milhões de dólares (232,7 milhões de euros) para financiar a instalação, pela Angola Cables de um cabo submarino de fibra óptica entre África e América.

A decisão consta de um despacho presidencial assinado por José Eduardo dos Santos em Fevereiro de 2016, envolvendo uma garantia soberana para cobrir o financiamento do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA) à empresa Angola Cables.

Este segundo projecto, que segundo informação da Angola Cables “vem sustentar as necessidades correntes dos utilizadores da América Latina”, será construído e operacionalizado em conjunto com a Algar Telecom (Brasil), Antel (Uruguai) e a Google.

A Angola Cables foi criada em 2009 com o objectivo de “transformar Angola num dos principais eixos africanos de telecomunicações”. É maioritariamente detida pela empresa pública Angola Telecom (51%), contando ainda com a Unitel (31%), a Mstelecom (9%), a Movicel (6%) e a Startel (3%) na sua estrutura accionista.

Na mesma autorização, assinada por José Eduardo dos Santos, sublinha-se que os dois projectos tecnológicos de fibra óptica, submarinos, “visam aumentar a capacidade de conectividade internacional, para e a partir de Angola”, e que reduzem os custos das ligações internacionais, fomentando, também, a expansão e a competitividade do sector das Tecnologias de Informação e Comunicação angolano.

Os mais de 7,5 mil quilómetros que separam Brasília de Luanda tornaram-se quase imperceptíveis no dia 9 de Maio quando foi usada a rede internacional da Angola Cables, que está baseada em cabos submarinos de fibra óptica, conectando continentes em milissegundos. Professores de instituições de ensino angolanas compartilharam as suas experiências e conhecimento com os da Universidade de Brasília (UnB) via videoconferência no seminário internacional “Culturas, espaços e saberes: experiências do Sul”. No Brasil, o evento foi viabilizado pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP) e, em Angola, pela operadora multinacional Angola Cables.

Há menos de três anos essa interacção seria impossível. As estruturas hoje existentes permitem que o sinal de interligação dedicado entre Angola e Brasil tenha a qualidade necessária para que este tipo de intervenção aconteça. Através da conectividade disponibilizada pela Angola Cables e o SW de gestão de videoconferência da RNP foi possível viabilizar a transmissão com qualidade e a um custo permissível de suporte pelas organizações.

Hoje, a conectividade ainda necessita percorrer distâncias enormes entre Angola e a Europa, passando pelos EUA para chegar ao Brasil. Mas assim que o South Atlantic Cable System — SACS — entrar em operação no primeiro trimestre de 2018, este tipo de serviços terá ainda mais qualidade a um preço bem mais barato.

A instalação do SACS já está em estágio avançado e será o primeiro cabo submarino de fibra óptica a atravessar o Atlântico Sul, conectando directamente as cidades de Fortaleza e Luanda. Isto abrirá um novo leque de oportunidades de negócios entre os continentes Africano e Sul-Americano por um lado, mas também permitirá ter os mercados do médio e extremo oriente perto do Brasil.

Para falar dos benefícios destas infra-estruturas, o CEO da Angola Cables, António Nunes, esteve em Brasília para participar na mesa redonda sobre o tema “Movimentos sociais, redes e experiências de cooperação”, que também integrou o seminário realizado na UnB. O painel girou em torno das iniciativas de desenvolvimento social, económico e científico de empresa e instituições destes países, de forma a aumentar a cooperação Sul-Sul.

Dos temas abordados, o aspecto social foi, sem dúvida, um dos de maior relevância. “A entrada ao serviço deste cabo submarino irá certamente aumentar a possibilidade de inter-relações sociais entre os povos angolano e brasileiro, que puderam ser identificadas durante o seminário. São povos que partilham várias raízes comuns”, explicou António Nunes. “Acreditamos que as empresas, instituições científicas e de ensino, poderão apoiar-se neste meio de conectividade e potenciar os seus negócios, a sua criatividade, aumentar o seu mercado, assim como até promover as suas iniciativas e atrair novos investidores para os seus projectos”, conclui o executivo da Angola Cables.

A Angola Cables é uma multinacional de telecomunicações, fundada em 2009, que opera no mercado de atacado, cujo “core business” é a comercialização de capacidade em circuitos internacionais de voz e dados por meio de um sistema de cabos submarinos. É um dos maiores accionistas da WACS (West Africa Cable System) fornecendo serviços de nível de operador a operadores em Angola e na região subsaariana do continente africano, tornando-se rapidamente um dos principais fornecedores de IP por atacado na região.

Os seus principais projectos — SACS e Monet — vão interligar três continentes: América do Sul, América do Norte e África, bem como Data Center de Fortaleza, uma instalação de Nível III que irá interligar os seus sistemas de cabo criando uma rede altamente conectada para a região.

A 5 de Junho de 2009 é fundada a Angola Cables. É ainda em 2009 que se inicia a participação no consórcio do WACS. Em 2010 dá início à construção da estação submarina de Sangano. Em 2011 inicia-se a construção do Angonap e define-se o Backbone de ligação entre Sangano e Angonap. 2012 marca a inauguração do WACS, Angonap e Sangano. Ainda neste ano é feita a instalação do Backbone e inicia-se o projecto SACS.

Em 2013 a Angola Cables é distinguida com o Prémio de Qualidade e Eficiência. Este é ainda o ano da Assinatura com a Epsilon. Nos mares, as embarcações Angola Cables brilham na Regata Cape to Rio, elevando o nome da marca. Em 2014 é feito o estudo de viabilidade do Data Center ADC e inicia-se o projecto Monet (com a assinatura do consórcio para construção em Agosto e início da construção no mês de Outubro). É também restaurado o sistema WACS. Em Março de 2016, é assinado o contrato com o ‘supplier’ para o SACS. No início do 4º trimestre do ano, em Setembro, o Monet chega a Fortaleza.

Folha 8 com Agências

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One Thought to “Estado garante dinheiro para o cabo submarino”

  1. José Pedro Vitoria

    A cooperação entre países é muito importante porque nos ajudamos mutuamente nos seus diferentes aspectos sociais, económicos e políticos.

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