Dia único (25 de Abril) da liberdade de todos nós

Acredito, ainda que ingenuamente, ser a liberdade encarada, por todos, como o bem mais sagrado de cada homem e de cada povo. É dentro deste espírito que brota a ousadia destas breves notas, enquanto cidadão do mundo, parido das entranhas da Angola Profunda.

Por William Tonet

Sou, disso tenho consciência, uma gota na cidadania lusófona, livre de amarras ideológicas extremistas e ultranacionalistas, daí propor a V. Exªs, enquanto máximos representantes, quase todos com mandatos legitimados através de sufrágio universal, livre e directo, a adopção de uma data comum, para se comemorar o DIA DA LIBERDADE como o marco Histórico que derrubou o fascismo de Salazar e Caetano.

Óbvio que esta pretensão terá de ser sufragada, também, pelos órgãos de soberania democraticamente constituídos e pelos cidadãos dos países, à altura de 1974, sob dominação do regime fascista, que governava Portugal e as ex-colónias do Ultramar.

Em função da realidade dantesca de então, os povos do então Ultramar português, principalmente os africanos, empreenderam uma luta armada, para se libertarem do jugo colonial, que vitimava, na maioria das vezes, filhos inocentes dos dois lados da barricada.

A guerra armada foi a resposta de quase todos os povo à teimosia e cegueira de Salazar e Caetano, não terem percebido que a força bélica seria incapaz de inverter o vento da história e a convicção de liberdade, calcada no interior de cada soldado ou guerrilheiro, face à opção inglória, do poder de então.

Um poder que oprimia, não só os povos colonizados como também o próprio povo português, cujos filhos, “coagidamente” enviados para os teatros de guerra, começaram a perceber estarem a combater não por interesses supremos, mas apenas em prol de uma clique instalada nas poltronas de Belém, em Lisboa.

É com o fervilhar deste sentimento, que emerge a acção do quebrar de grilhetas do jugo fascista, empreendido pelos militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) de Portugal, cuja acção veio encurtar e pôr termo à guerra colonial, escancarando a liberdade ansiada por todos os povos subjugados.

Com Marcelo Caetano arredado do poder, abriram-se negociações entre os membros do MFA e os Movimentos de Libertação, para que cada povo e país estabelecesse a proclamação da sua independência.

Esta é uma realidade histórica que não deve ser omitida na vida dos cidadãos dos países de expressão portuguesa, daí que a melhor forma de reconhecimento seria a adopção comum do 25 de Abril, como o DIA DA LIBERDADE CONTRA O FASCISMO, instituído como feriado nacional e, rotativamente, comemorado numa das capitais lusófonas.

Um dirigente que não reconhece a tenacidade do portador da lamparina da luz, não consegue dimensionar o verdadeiro valor da liberdade. Vós sois o contrário, queremos acreditar.

O quebrar das grilhetas são um marco importante, na vida de cada povo e não pode ser reduzido, por meros caprichos ideológicos ou xenófobos, daí a necessidade de um reconhecimento, cunhado na história, para as gerações vindouras, saberem “o quanto nos custou a liberdade”.

O nacionalismo, o verdadeiro, só vale quando, liberto dos extremismos, dimensiona a solidariedade que encadeou o encurtar do caminho para a LIBERDADE.

Os líderes e dirigentes de Angola, Portugal, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Timor Leste, têm o dever moral de abraçar a história, com um convincente sinal de maturidade e humildade.

Esse sinal pode ser dado, reconhecendo aqueles destemidos heróis anónimos, do MFA que das entranhas da capital do reino colonial, na etapa final (25 de Abril de 1974), mais contribuíram para se acabar com o derramamento de sangue, abrindo o horizonte à proclamação da independência e o surgimento de novos ente-jurídicos internacionais, no concerto das nações.

Talvez não seja por acaso que Agostinho Neto, em nome dos três Movimentos de Libertação de Angola, ainda durante as conversações na Cimeira de Alvor, em Portugal, tenha considerado o MFA, como o quarto Movimento de Libertação Nacional, pelo seu papel no derrube do fascismo colonial português.

É hora pois do reconhecimento, institucionalizando este dia tão sublime; 25 de Abril, para os nossos povos e países!

Eis a razão desta carta, que ora endereço a Vossas Excelências, cuja serventia depende da interpretação que lhe queiram conceder.

Nota: Manifesto dirigido as Presidentes de Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Timor-Leste.

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