Bokova ajoelhou, reza e bajula como o MPLA exige

A directora-geral da UNESCO, a búlgara Irina Bokova, enalteceu hoje, sexta-feira, em Paris, o papel de Angola na valorização do Património Mundial e no desenvolvimento de uma cultura de paz que promove a amizade, a cooperação e o desenvolvimento sustentado. Bajular continua a ser fácil e a dar milhões. Milhões de dólares para uns e milhões de pobres para outros.

Esta constatação foi feita durante a audiência que concedeu à uma delegação angolana chefiada pela ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, que na ocasião apresentou os agradecimentos do Governo angolano, em particular de sua majestade José Eduardo dos Santos, pela colaboração e apoio da UNESCO no processo de inscrição de Mbanza Kongo como Património Mundial.

Segundo Irina Bokova, a inscrição de Mbanza Kongo é o início de um processo de gestão, valorização e de educação, particularmente das crianças, tendo sugerido a criação de uma cadeira a nível da universidade sobre Património Mundial.

A ministra Carolina Cerqueira aproveitou a ocasião para informar a responsável máxima da UNESCO sobre o processo eleitoral em Angola (perfeitamente enquadrável no âmbito de acção da United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) e o programa de governação para o próximo quinquénio, que contempla a preservação, conservação e valorização do Património Cultural Nacional e Mundial como uma importante questão na agenda política de Angola.

O envolvimento dos países vizinhos de Angola pertencentes ao antigo Reino do Congo, da sociedade civil, das autoridades tradicionais e religiosas na divulgação de Mbanza Kongo foi igualmente referido como um verdadeiro processo de inclusão social e de cooperação transfronteiriça, que a ministra considerou como um exemplo a seguir por outros países.

Participaram no encontro o embaixador Delegado Permanente de Angola junto da UNESCO, Sita José, a directora geral do Instituto Nacional do Património Cultural, Maria da Piedade de Jesus, e quadros do Ministério da Cultura e da Delegação Permanente de Angola na UNESCO.

A (grande) amiga Irina Bokova

Jonas Savimbi, Holden Roberto e até Agostinho Neto deram voltas no caixão perante a desfaçatez de José Eduardo dos Santos. Foi em Abril de 2012. No regime já não se recordam. Mas nós estamos cá também para isso.

Então não é que o presidente angolano pediu na altura à directora-geral da UNESCO, Irina Bokova (que também foi candidata ao lugar de secretário-geral da ONU), para que acompanhasse as políticas governamentais de combate à pobreza, justificando que em Angola muitas pessoas ainda “vivem mal”?

Irina Bokova, que realizara uma visita de quase 24 horas a Luanda (mais do que suficiente para perceber que sem o MPLA Angola não existiria), falava à imprensa no final de uma reunião no Ministério das Relações Exteriores, onde (e aqui vai mais uma pérola da Lusa) assinou com o Governo angolano, um protocolo verbal de cooperação. Não está mal. Assinar um acordo… verbal é obra!

Em frente. A directora-geral da UNESCO foi recebida pelo Chefe de Estado angolano, com quem abordou a situação política e social de Angola e a cooperação existente entre aquela organização e o Estado/MPLA.

“Abordei com o Presidente da República e ele foi franco nas suas opiniões. Estava consciente de que ainda existem muitas pessoas que vivem mal no país, por isso pediu-me que a UNESCO faça um acompanhamento das políticas, das actividades que o Governo tem desenvolvido para ultrapassar a pobreza e para ter uma sociedade mais justa, igual e mais inclusiva”, disse Irina Bokova.

Que Eduardo dos Santos julgue, e provavelmente tem razão, que “Irina Bokova” é matumba ainda vá que não vá. Que pense o mesmo dos jornalistas do regime, entre outros, ainda se aceita. Agora que pense o mesmo dos angolanos, essa não!

“Muitas pessoas que vivem mal”? 70% não são apenas muitas. Além disso, a taxa de mortalidade infantil é a mais alta do mundo, apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico; apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.

Além disso, 45% das crianças angolanas sofre de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos; 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população, 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem em Cabinda.

Além disso, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

De acordo com Irina Bokova, em Angola “as desigualdades são visíveis”, apesar das suas “grandes atracções económicas”, por isso “é necessário trabalhar para diminuí-las”.

Não. O que é preciso é acabar com a ditadura do regime do MPLA, no poder desde 11 de Novembro de 1975, tornando Angola um Estado de Direito democrático. Acabar com os poucos que têm milhões, dando voz e – já agora – comida, aos milhões que têm pouco ou nada.

Ao contrário do que, provavelmente, pensava Irina Bokova, o regime de Eduardo dos Santos sabe bem que a melhor forma de exercer a sua “democracia” é mesmo ter 70% da população na miséria, é ter tirado a coluna vertebral à esmagadora maioria dos seus opositores políticos, é dizer ao povo que tem de escolher entre a liberdade e um saco de fuba.

O MPLA que tem, que ainda tem, a cobertura internacional (até mesmo da UNESCO), sabe que pôr o povo a pensar com a barriga é a melhor forma de o manter calado e quieto.

De facto, defender a liberdade de expressão não é nada do outro mundo, mas é algo que o regime não quer. Tudo quanto envolva a liberdade (com excepção da liberdade para estar de acordo com o regime) é algo que causa alergias graves ao regime.

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