Água potável? O pior é
(pois claro!) Angola

Mais de quinhentos milhões de pessoas nas zonas rurais em todo o mundo não têm actualmente acesso a água potável, de acordo com um relatório divulgado hoje pela organização não-governamental WaterAid, que – como era esperado num país que tem 20 milhões de pobres – identifica Angola como país mais vulnerável.

Em todo o mundo, 663 milhões de pessoas não têm acesso a água potável, sendo que a grande maioria, mais de 500 milhões de pessoas, vive em zonas rurais, de acordo com o estudo.

Entre os dez países com piores condições de acesso à água potável nas zonas rurais, sete são do continente africano, sendo que Angola – apesar de ter na filha do Presidente que domina o país há 38 anos a mulher mais rica de África – lidera este grupo, em que figura também Moçambique, na sexta posição.

“Na sequência de anos de guerra civil, Angola mostrou sinais de crescimento económico real nas últimas duas décadas e é agora a quinta maior economia de África. Porém, também está no topo da lista dos países com maiores percentagens de população rural sem acesso a água potável (71,8%), fruto das más infra-estruturas e da falta de priorização e investimento por parte do Governo”, sublinha o estudo da WaterAid.

Angola também está nos primeiros lugares dos países mais corruptos do mundo, sendo mesmo o primeiro a nível da mortalidade infantil. Nada de anormal, portanto.

Em Moçambique, no sexto lugar daquele bloco de países, dois terços da população rural vivem sem água segura, e o país está “entre os mais vulneráveis e menos capazes de se adaptarem às alterações climáticas”, segundo o Índice de Adaptação Global da Universidade de Notre Dame, citado pelo estudo.

Moçambique, cuja grande maioria da população (68%) vive em zonas rurais e 11,5 milhões de pessoas (63% da população) não têm acesso a água potável, já sofre eventos climáticos extremos, incluindo ciclones, cheias e secas.

“Em Janeiro de 2015, chuvas torrenciais no norte e no centro de Moçambique causaram cheias graves, desalojando dezenas de milhares de pessoas e devastando colheitas e gado. Algumas partes do sul de Moçambique também foram assoladas pela seca em 2016, com 1,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária e 95.000 crianças em risco de malnutrição grave”, lembra o estudo.

A organização apela ao aumento no financiamento público e privado para a água, o saneamento e a higiene, instando os governos a “ajudar a obter um aumento substancial e de longo prazo, desenvolvendo os sistemas nacionais robustos que são necessários para alcançar o acesso universal a serviços sustentáveis”.

A WaterAid apela ainda ao respeito dos compromissos assumidos pelos países na Cimeira do Clima de 2015 em Paris e chama ainda a atenção para a necessidade de uma atribuição equitativa do financiamento para o clima.

“Menos de um terço do financiamento público internacional disponível para o clima está a beneficiar os países menos desenvolvidos, que são os mais necessitados”, refere-se no estudo.

Estudos que a WaterAid promete “disponibilizar em breve” demonstram, segundo a organização, que “os países de rendimento médio beneficiaram mais da despesa com água, saneamento e higiene relacionada com o clima, pelo que são necessários mecanismos melhores para assegurar que os fundos sejam atribuídos com base na necessidade e vulnerabilidade climática e não por um método de fila de espera”.

“Os países mais pobres também precisam de apoio para identificar as necessidades, criar programas que lhes dêem resposta e navegar pela complicada burocracia inerente ao acesso a financiamento”, remata o estudo.

Eis, em 15 pontos, o retrato do reino de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos:

1 – Angola é uma cleptocracia (regime político corrupto) e os seus dirigentes são uma elite indiferente ao resto da população. É por isso que, como escreve Ricardo Soares de Oliveira no livro “Magnificent and Beggar Land: Angola Since the Civil War”, o Ocidente adora um cleptocrata.

2 – Mesmo pelos padrões dos Estados petrolíferos, Angola é quase risivelmente injusta. Os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros nos restaurantes da moda em Lisboa, enquanto cerca de uma em cada seis crianças angolanas morrem antes de terem cinco anos.

3 – Esta pequena, mas poderosa, cleptocracia é aceite como uma parte integrante do sistema ocidental, sendo os expatriados que fazem a economia angolana mexer, desde as consultoras que ajudam a definir a política económica até aos bancos que financiam os negócios do clã Eduardo dos Santos.

4 – Os oligarcas angolanos habitam a economia do luxo global das escolas públicas britânicas, dos gestores de activos suíços, das lojas Hermès, etc..

5 – A clique dirigente consiste largamente numas poucas famílias de raça mista da capital, que considera que os cerca de 21 milhões de angolanos negros no mato ou musseques são imperfeitamente civilizados, e com pouco desejo para os educar.

6 – Por trás de cada magnata angolano há uma equipa de gestão maioritariamente portuguesa (veja-se a Sonangol) que não se preocupa com as consequências da sua gestão. Por isso os estrangeiros bombam petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos sem sentido no meio do nada.

7 – Os membros do clã Eduardo dos Santos fazem luxuosas viagens à Europa e passeios entre capitais europeias recorrendo a aviões a jacto.

8 – O dinheiro dos governantes e o dinheiro do Estado é a mesma coisa. Todo ele é roubado ao Povo. Mas como o dinheiro não fala, empilham-no nos bancos da Europa (e não só) e gastam-no como lhes dá na real gana: compram quadros, cirurgias plásticas, casas de praia e empresas.

9 – O perfil do cliente de elite angolano em Portugal, que representa mais de 40% do mercado de luxo português, revela que se trata sobretudo de homens, empresários do ramo da construção, ex-generais ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex. Do outro lado estão 70% de angolanos. O seu perfil é: pé descalço, barriga vazia, (sobre)vive nos bairros de lata.

10 – Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 150 e 300 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.

11 – Por outro lado, no país dos angolanos de segunda, 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

12 – Na joalharia de luxo, os angolanos de primeira (todos afectos ao regime) também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela facilidade com que os pagam. Chaumet, Dior e H. Stern? Sim, pois claro. O preço não é problema. Quanto mais caro melhor. Comprar uma pulseira por 200 mil euros é como comer um pires de tremoços.

13 – Em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

14 – Refeições? Que tal trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005?

15 – Quanto ao Povo, a ementa dessa subespécie é fuba podre, peixe podre, panos ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.

Folha 8 com Lusa

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