Vacinação contra febre-amarela alargada ao Huambo e Benguela

Angola alargou a campanha de vacinação contra a febre-amarela às províncias de Huambo e Benguela, onde quase 2,15 milhões de pessoas serão imunizadas nas próximas semanas, anunciou hoje a Organização Mundial de Saúde (OMS). Será?

Desde que começou, em Dezembro do ano passado, o maior surto de febre-amarela no país em décadas já fez (segundos os números oficiais que, contudo, são desmentidos pela população) 250 mortos e há registo de 1.908 casos suspeitos, dos quais 617 foram confirmados laboratorialmente, informa a OMS em comunicado.

A transmissão local da febre-amarela regista-se em cinco províncias, mas a maioria dos casos está concentrada nas províncias de Luanda, Huambo e Huíla.

Para conter o surto fora da capital, quase 2,15 milhões de pessoas serão vacinadas em cinco distritos urbanos densamente povoados das províncias do Huambo e de Benguela nas próximas semanas, acrescenta o comunicado da OMS, segundo o qual cerca de um milhão de pessoas já foram vacinadas naquelas duas províncias.

“Esta vacinação focalizada é crucial para proteger as pessoas em maior risco a nível nacional e para evitar uma maior propagação da infecção através do melhor uso das vacinas globalmente disponíveis”, disse o director regional para África da OMS, Matshidiso Moeti, citado no comunicado.

Em Luanda, quase seis milhões de pessoas foram abrangidas (novamente dados oficiais desmentidos pela população) pela campanha de vacinação em curso desde 2 de Fevereiro.

Essas vacinas, da reserva de emergência para a febre-amarela, foram disponibilizadas através do Grupo de Coordenação Internacional para a Provisão de Vacinas (ICG, na sigla em inglês), com apoio do Gavi (Aliança para as Vacinas e a Vacinação), do Fundo Central de Resposta de Emergência da ONU (CERF) e de uma doação de vacinas do Brasil.

A par da vacinação, o ministério angolano da Saúde, a OMS e os parceiros estão a reforçar a vigilância da doença e a capacidade de diagnóstico, tanto em Angola como nos países vizinhos, além de aumentar o controlo do mosquito vector, incluindo através de campanhas de educação para a saúde pública realizadas na comunidade.

“A preocupação imediata é que o vírus se possa espalhar a outros centros urbanos em Angola e a outros países. A OMS apela a todos os países, especialmente os que fazem fronteira com Angola, que aumentem a vigilância da doença e reforcem o controlo do vector, assim como que assegurem que todos os que viajam para Angola estão vacinados”, disse Bruce Aylward, diretor executivo de Surtos e Emergências de Saúde da OMS.

Três países já registaram casos de febre-amarela importados de Angola: a China, com 11 casos; a República Democrática do Congo (RDC), com 10 casos, um dos quais em Kinshasa; e o Quénia, com dois casos.

Registaram-se ainda três casos de febre-amarela no sul do Uganda, mas os doentes não tinham história de viagem para Angola.

A OMS diz estar a trabalhar com países vizinhos de Angola, como a RDC, a Namíbia e a Zâmbia, para aumentar a vigilância transfronteiriça e a partilha de informação para prevenir e reduzir a propagação da doença.

O que diz a UNITA

A UNITA instou o Governo a trabalhar intensamente com parceiros nacionais e internacionais para corrigir o que diz serem as graves distorções no combate à epidemia de febre-amarela.

Em nota de imprensa, o maior partido da oposição angolana apelou ainda às autoridades governamentais para adoptarem urgentemente acções que resguardem o sector da saúde da crise económica que Angola enfrenta actualmente, decorrente da baixa do preço do barril do petróleo.

A UNITA pede que sejam alocados atempadamente os recursos financeiros e outros necessários para a prossecução dos diversos programas em curso e a serem delineados em virtude da presente situação crítica.

Numa análise ao estado da saúde em Angola, a UNITA deplorou o que considerou a “catastrófica degradação da situação sanitária a que se assiste no país”.

Para a UNITA, o surto de febre-amarela é o “corolário da falência do sistema sanitário do país em relação ao qual o executivo tem respondido com tibieza, com medidas pouco articuladas e com falhas gritantes no que diz respeito à comunicação, aspecto fundamental para assegurar a adesão das populações e o êxito das acções a empreender”.

De acordo com a análise do partido de Isaías Samakuva, a campanha de vacinação, particularmente, tem sido pautada por uma estrondosa desorganização, que leva a que nos postos de vacinação ocorram filas enormes onde as pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, passam horas a fio, muitas vezes sob sol intenso ou mesmo chuva.

“As falhas de comunicação têm impedido que sejam suficientemente divulgados os locais de vacinação e os alvos a vacinar”, refere o comunicado, acrescentando que consequentemente muitas pessoas têm percorrido distâncias enormes em busca de postos de vacinação.

A vacina contra a febre-amarela que seria grátis para imunização de todos os cidadãos, de acordo a narrativa oficial, está a ser depositada nas farmácias, de onde são comercializadas por 500 kwanzas cada ampola, soube o F8 de diversos cidadãos que acorreram em diferentes postos de vacinação, distribuídos por Luanda.

“Por causa do elevado número de pessoas que formam longas filas para serem vacinadas, alguns técnicos sugerem, discretamente, a determinados cidadãos, para que se desloquem à farmácia, onde estão a comercializar as vacinas por 500 Kzs”, disse uma fonte ao F8, acrescentando, “estes técnicos estão mesmo a fazer dinheiro. Muita gente não quer e outras não conseguem aguentar estas longas filas, preferem ir às farmácias comprar as ampolas, e simplesmente procuram um enfermeiro no bairro para as administrar. É muito simples quanto isso, se eu tivesse dinheiro, também faria o mesmo, são apenas 500 kzs, ouvi que noutros bairros estão mais caras”, alertou.

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