Regime obrigado a falar da FLEC

O Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas de Angola, general Geraldo Sachipengo Nunda, considerou “completamente falso” o comunicado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), que anunciou a morte de 47 soldados do Exército angolano.

Por Orlando Castro

Ogeneral Geraldo Sachipengo Nunda disse que a situação em Cabinda é estável e “quem quiser comprovar” pode deslocar-se à “província”, onde “a população realiza as suas actividades com normalidade”.

Também pode constatar, se não for uma visita enquadrada pelo regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos, que helicópteros militares sobrevoam Cabinda com inusitada regularidade, bem como verificar que a cidade está fortemente militarizada.

“É completamente falso, penso que o indivíduo que fez a notícia é um sonhador, não é possível, hoje não há essa possibilidade e quem quiser comprovar pode ir à província de Cabinda, do Miconje até à cidade de Cabinda, desde o Massabi até ao Necuto”, disse Geraldo Sachipengo Nunda.

Segundo o CEMGFA, desde 2011 que na região militar de Cabinda não há acções militares. Se assim é, porque razão Cabinda é a “província angolana” com mais militares e meios bélicos por metro quadrado?

“Cabinda é estável, completamente estável, de dia e de noite em todo o espaço nacional, do Miconje até à cidade de Cabinda”, reforçou o general, acrescentando que “a informação veiculada pelo comunicado a FLEC é um sonho”.

Será o mesmo tipo de sonho que o general Geraldo Sachipengo Nunda alimentava quando era um dos mais conceituados militares das FALA (UNITA) que, na altura, lutavam contra a ditadura dos seus actuais patrões, FAPLA/MPLA?

Mas será que no seus sonhos actuais Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?

Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu presidente (José Eduardo dos Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera – não só em Cabinda – um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais?

Não será altura de Geraldo Sachipengo Nunda também se interrogar das razões que levam a que Angola uns poucos tenham muitos milhões, e muitos milhões não tenham nada?

Não deixa de ser curioso ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são prioridades das FAA, preparação operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual renovação.

Segundo Geraldo Sachipengo Nunda, em declarações ao Semanário Angolense a propósito da morte de Jonas Savimbi, outros dois antigos coronéis das FALA, Kivo e Calado, também comprados pelo MPLA a troco da traição não só a Savimbi como a uma grande parte do povo angolano, estiveram na última linha de combate em perseguição de Savimbi, e viram-no a sucumbir aos disparos.

Uma hora depois do líder rebelde ter sido morto, já o general Geraldo Sachipengo Nunda (certamente com mais uma estrela nos ombros), que estava em permanência no posto de comando dessa operação em Luena, chegava ao local na companhia de outros altos responsáveis militares governamentais, entre os quais os generais Hélder Vieira Dias “Kopelipa” e Hanga, bem como o sub-comissário Panda.

Não se sabe ao certo, mas é curial pensar-se que Geraldo Sachipengo Nunda tenha manifestado a sua satisfação pela morte de Savimbi, não fosse o MPLA arrepender-se das mordomias que lhe dera e que ainda hoje mantém.

Seja como for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava. E cesteiro que faz um cesto…

Recorde-se que em comunicado enviado ao Folha 8 e que foi por nós divulgado em primeira-mão, as Forças Armadas Cabindesas (FLEC/FAC) afirmaram que para além dos mortos outros militares das FAA ficaram feridos nestes combates e que os guerrilheiros ficaram na posse de vários materiais, como metralhadoras e munições.

Na sua versão, a FLEC/FAC referiu que os combates e emboscadas aos soldados das FAA aconteceram na área de Necuto e Dinge, nos dias 9, 12 e 14 de Abril.

A FLEC luta pela independência de Cabinda, enclave de onde provém a maior parte do petróleo angolano, e considera que à luz do Direito Internacional o território é um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885.

A FLEC assumiu em Janeiro de 2010 a autoria do ataque, ocorrido nessa altura, em Cabinda, contra a escolta militar angolana à selecção de futebol do Togo, durante Taça das Nações Africanas. O incidente aconteceu à entrada naquele território, envolvendo tiros de metralhadora que provocaram um morto e nove feridos na comitiva togolesa.

Portugal, através dos acordos de Alvor (assinados em 1975) reconheceu a independência angolana e violou acordos internacionais, tirando o direito do povo de Cabinda a ser considerado um território diferente de Angola.

Portugal, enquanto ex-potência colonial, no caso de Angola, e que assinou os acordos de protectorado, no caso de Cabinda, não deveria esquecer que os direitos do povo de Cabinda não prescrevem e deveria fazer por Cabinda o que fez por Timor-Leste.

Assim, Portugal deveria lutar por via diplomática e política para que houvesse um referendo em Cabinda, em que o povo pudesse escolher o seu futuro, eventualmente continuar como província de Angola, uma região autónoma, ou um país independente.

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