Regime nega acções militares noutros países

O ministro das Relações Exteriores de Angola negou hoje, em Luanda, que tropas angolanas tenham intervindo em conflitos em países africanos, como a República Democrática do Congo (RDCongo), ou o Congo, ou a Costa do Marfim, ou a Líbia.

Georges Chikoti respondia a uma declaração expressa no parlamento pelo deputado da UNITA, Raul Danda, durante o debate do projecto de resolução que aprova a ratificação, pelo Presidente de Angola, do Pacto de Não-Agressão e Defesa Comum da União Africana.

O projecto de resolução foi aprovado por unanimidade pela Assembleia Nacional angolana.

Segundo o deputado do maior partido da oposição, a ratificação por Angola desse documento deve ser aplaudida, porque guerra e agressão “não são boas para ninguém”.

Raul Danda sublinhou que “depois das amargas experiências na República do Congo-Brazzaville, na República Democrática do Congo, Costa do Marfim e sabe Deus mais aonde”, essa “tendência internacionalista herdada de internacionalismos ficasse mesmo no passado”.

E a intervenção do também vice-presidente da UNITA, desagradou ao deputado Roberto de Almeida do MPLA, que lamentou o facto de Raul Danda reiteradamente apontar a intervenção de Angola na Costa do Marfim.

Segundo o também vice-presidente do MPLA, isto nunca se verificou, mas a insistente obstinação do seu colega “em colocar tropas na Costa do Marfim é tempo de se parar”.

“Acho que não há razões para se insistir numa coisa que ninguém viu, ninguém prova e não aconteceu”, disse Roberto de Almeida.

O chefe da diplomacia angolana sublinhou que “Angola nunca teve tropas na Costa do Marfim, mas tem uma cooperação nas áreas de defesa e segurança com a RDCongo, com a Zâmbia, Namíbia e com vários países”.

“E naquela altura houve de facto esse tipo de intervenções, mas hoje por exemplo acompanhamos a questão do conflito no leste da RDCongo não só no âmbito da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos, mas como também em conjunto com a Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral”, referiu o ministro.

Costa do Marfim, sim ou não? Sim!

Em Abril de 2011 as autoridades angolanas mantiveram discretos contactos com a França destinados à entrega de um grupo de militares angolanos que foram capturados por soldados franceses, em Abjadan, momentos antes da detenção do ex- Presidente Marfinense, Laurent Gbagdo.

Os contactos coincidiram com a deslocação a Luanda de um enviado especial de Alassane Ouattara que tinha a mesma tarefa. Os contactos que Angola manteve com as duas partes (militares de Alassane Ouattara e franceses), deveu-se ao facto de as mesmas quererem “negociar” os seus prisioneiros em função dos seus interesses.

A pressa com que o regime angolano tratou do resgate dos seus soldados feitos prisioneiros naquele país deveu-se aos crescentes embaraços para a imagem externa de Angola, mas também para evitar que no julgamento de Larent Gbagdo pelo Tribunal Penal Internacional viesse à baila o nome do Presidente José Eduardo dos Santos, sendo equacionado que se tal acontecesse Eduardo dos Santos poderia ser associado a “crimes de guerra e contra a humanidade” pelo envolvimento dos soldados angolanos no conflito.

O contingente militar angolano na Costa do Marfim, (segundo a Revista “Jeune Afrique”) foi comandado pelo coronel Vitor Manena da UGP que tinha a missão de apoiar a guarnição do antigo Presidente Laurent Gbagdo. A figura do ex-regime marfinense que fazia a ligação com Angola era Cadet Bertin, o ex-conselheiro especial para Defesa e Segurança de Laurent Gbagdo. A quando a captura do ex-presidente, o mesmo encontrava se em Luanda em “missão de trabalho”.

Já em 2003 o governo angolano tinha ajudado o conflito militar naquele país através do envio de tropas. Na altura as autoridades negavam o seu envolvimento mas anos mais tarde altos dirigentes angolanos admitiram que a estabilidade na Costa do Marfim, deveu-se à “intervenção militar angolana”.

O regime angolano tem um sentimento de gratidão a Laurent Gbagdo por ter sido a figura que após assumir o poder, na Costa do Marfim, ajudou no desmantelamento das redes de influência da UNITA de Jonas Savimbi naquele país que eram inicialmente apoiadas pelo falecido “pai da nação” marfinense, Félix Houphouët Boigny. que tinha como primeiro-ministro, Alassane Dramane Outtarra.

Líbia – um caso (ainda) por esclarecer

Oficiais angolanos, supostamente a pedido oficial do presidente Líbia, Muammar Kadhafi, e, por isso, não enquadráveis na designação de mercenários, estariam em Tripoli para tentar manter o regime. Isto em 2011.

Embora também tenham seguido para a Líbia militares de infantaria, o contingente angolano terá tido apenas uma missão de coordenação e comando das operações que foram levadas a cabo pelos milhares de mercenários oriundos de vários países africanos, mas não só.

Assim, ao lado de mercenários ucranianos, também pilotos angolanos terão estado a servir o que restava da Força Aérea da Líbia que já na altura assistia à deserção de muitos dos seus militares.

Entre outros, os Mirage F1 líbios estavam a atacar as zonas hostis da rebelião, tendo ao comando sobretudo estrangeiros para quem o povo não passava de mais um alvo, posição que não foi aceite pelos pilotos líbios.

Apesar de os pilotos angolanos serem especialistas em aviões de combate de outro tipo, caso dos MIG-23, MIG-21 e o Sukkoi 27, não tiveram dificuldade em pilotar outras aeronaves. Além disso, esteve em aberto a possibilidade de fazer deslocar para a Líbia alguns dos aparelhos angolanos

Fontes angolanas admitiram na altura que os militares que já estavam na Líbia, bem como outros que iam a caminho, estarem baseados desde há semanas em países vizinhos de Angola, numa estratégia preparada em conjunto por Luanda e Tripoli.

As forças leais a Muammar Kadhafi, com predominância para os mercenários, pareciam ter assegurado o controlo de Tripoli, e preparavam uma forte ofensiva, sobretudo sustentada na força aérea, contra alguns dos bastiões do interior que tinham sido conquistados pela oposição.

No leste da Líbia, onde o poder passara para as mãos da oposição, os revoltosos garantiam que se não fosse o apoio dos mercenários, “sobretudo africanos”, Tripoli já estaria em seu poder.

Apesar de as forças que se opunham a Kadhafi controlarem toda a zona costeira oriental do país, região onde se concentra a maior parte da riqueza petrolífera, observadores internacionais temiam que ao passar a Força Aérea para as mãos dos mercenários, Kadhafi estava a equacionar uma política de terra queimada que passaria pelo bombardeamento das estruturas petrolíferas.

Apesar de ter conscientemente um exército fraco, facto que evitaria um golpe militar, Kadhafi depositava confiança na sua Força Aérea, entendendo-a não só como fiel mas também eficaz no contexto do país.

Perante as deserções, algumas com os próprios aviões, Kadhafi accionou o seu plano B que passou pela compra de um forte contingente paramilitar e pelo recrutamento de mercenário, todos pagos a peso de ouro.

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