Lourenço e a bênção do rei
(ou se o ridículo matasse…)

Se o ridículo matasse, há muito que os políticos generais, ou generais políticos, tinham desaparecido da face da terra. Mas, pelos vistos, eles acreditam que o ridículo é a fonte da vida eterna.

Por Norberto Hossi

Vejamos. O ministro da Defesa e putativo substituto de José Eduardo dos Santos, João Lourenço, reafirmou agora o apoio do seu pelouro e da Forças Armadas Angolanas (FAA) aos esforços do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para preservar a paz e estabilidade, consolidar a democracia e o reforço das instituições do Estado.

Se a isso se juntar análogo contributo do Presidente do MPLA, José Eduardo dos Santos, e do Titular do Poder Executivo, José Eduardo dos Santos, ficamos com a certeza de que o regime continua a fazer tudo para que Angola seja o MPLA e o MPLA seja Angola.

O canina fidelidade de João Lourenço, bem como de todos os que bajulam a gamela de sua majestade o rei, foi expressa numa mensagem de felicitação dirigida ao Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas – José Eduardo dos Santos – por ocasião do fim de ano de 2016, assinada reverencialmente pelo ministro da Defesa Nacional.

João Lourenço reconhece que o ano de 2016 teve várias dificuldades do ponto de vista económico e financeiro, mas garante que isso mostrou a divina capacidade de sua majestade para dar a volta aos problemas. Diz o putativo substituto do rei que tudo se resolveu, resolve e resolverá “graças à firme e clarividente liderança do Presidente da República”.

Nem o ministro da Defesa de Hitler, de Teorodo Obiang ou de Kim Jong-un diria melhor. Aliás, convenhamos, que “clarividente liderança” é um dom que só caracteriza os “escolhidos de Deus” e que, por isso, são os seus únicos representantes na Terra. Veja-se que nem o Papa Francisco tem essa “clarividente liderança”.

João Lourenço salienta, com a sua perspicácia generalícia, que apesar das dificuldades foram concretizados objectivos de suma importância focalizados na preservação da paz, estabilidade, reconciliação nacional e o fortalecimento da democracia e perspectivando uma vida melhor para os angolanos.

É claro que a “clarividente liderança” de Eduardo dos Santos não chega para tudo. Nos últimos 37 anos tem estado vocacionada para engordar o seu clã familiar e séquito de acéfalos e eunucos bajuladores.

É tudo uma questão de prioridades. Agostinho Neto dizia que o importante era resolver os problemas do Povo. Eduardo dos Santos entendeu que o importante era e é resolver os problemas da sua família. Por isso, os 20 milhões de angolanos pobres continua em lista de espera. Lista que, reconheça-se, vai diminuindo. Isto porque quando esses angolanos estão quase, quase, a saber viver sem comer… morrem.

Seja como for, João Lourenço está convencido (a ladainha é a mesma desde, pelo menos, 2002) que é necessário “preservar a paz e estabilidade, consolidar a democracia e o reforço das instituições do Estado, para ultrapassar as vicissitudes ainda vigentes e renovarmos o estado de espírito dos angolanos”, para o desenvolvimento sustentado do país.

Preservar o quê? Consolidar o quê? Reforçar o quê? Bem que João Lourenço poderia mostrar a sua “clarividência” bajuladora (que todos reconhecemos como de elevado potencial) sem recorrer ao velhinho hábito de nos passar um atestado de matumbez.

Os angolanos, na sua esmagadora maioria, são pobres, são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. Mas não são matumbos. Podem não ter força, mas têm razão. E um dia destes vão dizer: BASTA!

João Lourenço exprime igualmente a “firme” disposição de continuar a utilizar os meios legítimos e adequados para a preservação da segurança e da defesa da integridade territorial no país, com acções que contribuam para a paz e estabilidades regional, continental e mundial.

Nada mal na megalomania que constitui o ADN do regime. Aliás, todo o undo ficou em sentido ao saber que o ministro está disposto a utilizar todos os meios adequados para não só garantir a estabilidade regional como também, note-se, continental e… mundial.

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