Itinerante na ignorância
e residente na estupidez

Mais uma vez, e como não poderia deixar de ser (o patrão manda e o sipaio obedece), o embaixador itinerante de sua majestade o rei de Angola, Luvualu de Carvalho, esteve há pouco na RTP a vender banha de jacaré (do Bengo). João Soares, o outro interveniente no debate, bem procurou dizer-lhe que o pior cego é aquele que não quer ver.

Por Orlando Castro

De nada adiantou. É que Luvualu de Carvalho, para além de ser mesmo cego, sofre de nanismo mental, atrofia intelectual e de visível eunuquismo.

Para o embaixador itinerante, Angola não é um dos países mais corruptos do mundo, não é um dos países com piores práticas democráticas, não é um país com enormes assimetrias sociais, não é um país com o maior índice de mortalidade infantil do mundo. E quem disser que é (nós dizemos) sujeita-se a – como disse Luvualu a João Soares – ter um dia de ir a tribunal provar o que diz.

Hoje, em Lisboa, passada a fase da NATO atacar Luando a pedido dos Revús e a antes da próxima descoberta do apoio do Estado Islâmico aos jovens activistas, Luvualu de Carvalho entende como mentiras grosseiras todas as acusações contra o regime esclavagista do seu patrono e patrão, venham elas donde vierem. A única verdade, não só absoluta como divina, é que sai do oráculo do MPLA sob superior coordenação de José Eduardo dos Santos.

Quando a Amnistia Internacional criticou o regime do patrono e patrão de Luvualu de Carvalho a propósito da farsa dita julgamento dos Revús, o embaixador leu o recado do “querido líder”:

“Este comunicado da Amnistia Internacional é uma mentira redonda, porque as famílias dos indivíduos julgados têm acesso ao tribunal, porque a comunicação social tem acesso ao tribunal, a sociedade civil no geral tem acesso ao tribunal”.

Hoje todos os relatórios citadas pela Jornalista Ana Lourenço foram desmentidos pelo rapaz. Mas ainda bem que não puxaram pela língua a Luvualu de Carvalho. Se o tivessem feito ele seria obrigado a revelar que, afinal, a empregada da prima do tio do avô da cunhada é sobrinha de dirigentes da oposição e familiar dos que passam a vida, em Portugal, a denegrir a democracia angolana.

E o mesmo se aplica aos relatórios internacionais, sejam da Amnistia Internacional, da Human Rights Watch, do Departamento de Estado dos EUA ou de qualquer outro organismo que não seja o MPLA.

O dirigente do regime, itinerante na ignorância e residente na estupidez, considera que Portugal é epicentro de uma campanha contra o seu patrono e patrão, pelo que o MPLA vai sempre repudiar, presume-se que com a veemência e a verborreia habitual, todos os comunicados mentirosos, todas as opiniões contrárias à verdade oficial.

Faz Luvualu de Carvalho muito bem. É preciso que Portugal e os portugueses de segunda (politicamente só o Bloco de Esquerda entra nesta categoria), bem como todo o mundo, saibam que a verdade é um dom que Deus consagrou em exclusivo ao seu único representante na terra, ou seja, o patrão e patrono de Luvualu – José Eduardo dos Santos.

Depois do seu relevante contributo de hoje para o anedotário internacional, consta que da agenda de Luvualu de Carvalho figuram vitais deslocações de esclarecimento a países que, reconhecidos, querem aprender com ele as melhores técnicas para que todos pensem que dormir com o José Maria é a mesma coisa do que dormir com a Maria José. Países prioritários são a Coreia do Norte e a Guiné Equatorial.

João Soares recordou que José Eduardo dos Santos nunca esteve em nenhum debate público com nenhum dos seus opositores. É verdade, mas irrelevante. Isto porque Luvualu de Carvalho é a voz do dono.

Se calhar todos pensariam em questionar o Presidente (nunca nominalmente eleito e há 37 anos no poder) sobre a sua sucessão. Mas a isso Luvualu de Carvalho debita o recado do patrão e patrono, dizendo que nunca isso provocará cisões no MPLA, partido no Governo há 41 anos.

Justifica Luvualu, dizendo que tal nunca acontecerá porque o MPLA “mostrou sempre ser um partido sério” e “com maturidade”, recordando os esforços da sua seita não apenas na libertação de angola, mas também da África Austral.

O embaixador referiu que este assunto foi debatido pelos delegados no VII congresso do partido, e a resposta foi inequívoca: 99,6% de apoio a Eduardo dos Santos.

Angola pós-Eduardo dos Santos? Se isso algum dia acontecer (João Soares aconselhou o rei a reformar-se). Luvualu de Carvalho antevê “um país com um grande futuro, onde a juventude, acima de tudo, continuará a ter um papel fundamental para a manutenção da sociedade”.

José Eduardo dos Santos, presidente do MPLA e chefe do Estado angolano há 37 anos anunciou a 11 de Março que deixará a vida política activa em 2018, ano em que completará 76 anos.

Para quem tivesse dúvidas, Luvualu garante que a imagem externa de Angola é a imagem de um Estado independente, de um Estado soberano, que tem as suas instituições bem conhecidas, que é livre há 40 anos.

Foi pena que nem Ana Lourenço nem João Soares tivessem recordado ao embaixador de sua majestade o rei a história passada entre Luvualu e o puto Joãozinho.

Mas nós voltamos a contar. Até porque ao falar do Folha 8, João Soares obrigou Luvualu de Carvalho a quase entrar em curto-circuito.

Numa aldeia do nosso país, uma professora do ensino primário explicava aos alunos a importância de sua excelência o embaixador itinerante Luvualu de Carvalho para imagem de Angola.

Pediu que levantassem a mão todos aqueles que gostam de Luvualu de Carvalho. Todos os alunos (digamos que 99,6%), por temerem represálias, levantaram a mão, excepto um menino que estava sentado no fundo da sala.

A professora olhou para o menino com surpresa e perguntou-lhe:

– Joãozinho, por que não levantaste a mão?

– Por que não gosto de Luvualu de Carvalho, respondeu o puto.

A professora perguntou de novo:

– Se não gostas de sua excelência o embaixador Luvualu de Carvalho, então com quem é que simpatizas?

– Com o José Eduardo Agualusa, com o Rafael Marques e com o William Tonet, respondeu com orgulho o Joãozinho.

A professora cujos ouvidos fanáticos não podiam dar crédito a algo assim, exclamou:

– Joãozinho, diz-me: porque é que gostas do Agualusa, do Rafael e do William?

O menino muito tranquilo respondeu:

– A minha mãe gosta deles, o meu pai também, o meu irmão também, por isso eu também gosto deles.

– Bem, replicou a professora – mas isso não é um bom motivo. Tu não tens que gostar do Agualusa, do Rafael e do William como os teus pais. Por exemplo, se a tua mãe fosse mentirosa, o teu irmão um ladrão e o teu pai um corrupto, com quem é que simpatizavas?

– Nesse caso, respondeu o Joãozinho, com Luvualu de Carvalho!

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