Empresário luso pede intervenção divina

António Manuel Ferreira da Costa, um empresário português, quer – diz – a intervenção divina (leia-se José Eduardo dos Santos) para resolver os seus diferendos negociais que, agora, visam o general Kundi Paihama, governador do Huambo. Para isso escreveu a sua majestade o rei de Angola.

Como qualquer empresário que se preze, António Ferreira (marido da fadista Mariza) não esqueceu a regra basilar para quem quer investir no reino de José Eduardo dos Santos: aliar-se a um general.

Assim, fundou em 2003 a Plurijogos, titular da marca Casinos de Angola. Ficou com 70% da sociedade, Kundi Paihama com 20%, José Marques Fernandes (5%), Melquisedech Sebastião (2, 5%) e Marcos de Carvalho João (2,5 %).

Com todas as parangonas possíveis e impossíveis, a marca Casinos de Angola assumiu a partir de 2010 o rosto da promessa iniciada em 1992 pela Plurijogos.

“Desde o seu nascimento na cidade do Lubango sob o nome Ferser, até aos nossos dias, a Plurijogos cresceu e tornou-se uma das empresas de referência na economia Angolana”, diz a comunicação institucional da empresa, referindo que a “Casinos de Angola preconiza a mudança que surge para ir ao encontro dos novos tempos e da necessidade de melhor promover a nossa actividade, face a uma envolvente cada vez mais exigente”.

Ou seja, “nasce para materializar um verdadeiro mundo de emoções, diversão e lazer, proporcionando uma experiência gratificante e única a todos quantos nos visitam”.

No entanto, a sociedade terá nascido torta e por isso nunca mais se endireitou. Sobretudo, mas não só, a partir de 2009, sucederam-se as acusações de uns contra os outros, processos em tribunal, queixas, denúncias e tudo que se possa imaginar.

António Ferreira, na missiva enviada a sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, diz-se vítima de “arbitrariedades e de penosos anos de calúnias e perseguições”. Sabendo que no reino a última palavra, seja em que âmbito for, é sempre do rei, escreve solenemente: “Somente o reconhecido e elevado sentido de justiça e a comprovada sensibilidade política de Vossa Excelência e a sua magistratura de influência poderão contribuir para resolver, em definitivo, este tão intricado problema, cujo protelamento inexplicável não aproveita a ninguém e poderá ter consequências imprevisíveis que importa evitar”.

A resposta ainda não chegou.

E se o mau da fita é agora Kundi Paihama, outros vilões – segundo o empresário português – fazem (ou fizerem) parte desta novela. Recorde-se que os seus advogados apresentaram em Dezembro de 2011 uma queixa-crime contra o administrador da Plurijogos, Agostinho Manuel Rocha “Rochinha”, supostamente por este supostamente ter alterado a estrutura societária da instituição com base numa escritura apontada como forjada.

Na queixa feita ao Departamento Nacional de Crimes Contra a Ordem e Tranquilidade Pública da DNIC, dizem os advogados de António Ferreira que o administrador Agostinho Rocha terá outorgado, no dia 19 de Novembro de 2009, uma nova escritura pública de aumento de capital e alteração parcial do pacto social da sociedade, supostamente mandatado por uma assembleia de accionistas que teria ocorrido em Maio de 2009.

António Ferreira disse que, apesar de sócio fundador, não esteve presente na assembleia-geral que visou exclusivamente aumentar o capital da empresa. Como se provou no 5º Cartório Notarial da Comarca de Luanda, a reunião existiu mesmo e dela resultou a redução do peso na sociedade do empresário português. Passou dos iniciais 70% para 20%.

“De forma ilegal e totalmente descarada, o aumento de capital foi forjado, visou igualar cada um dos cinco accionistas da Plurijogos – ou esmagar ilegalmente o denunciante -, pretendendo que cada um deles detivesse 20% do capital social da sociedade e inerentes direitos de voto”, diziam as alegações dos advogados de António Ferreira.

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