De Américo Thomaz
a Eduardo dos Santos

Em Abril de 2015, o Governo chamou uma empresa privada para estudar a potencialidade e viabilidade de novos projectos de produção hidroeléctrica no país.

Segundo o despacho presidencial de 8 de Abril, o Ministério da Energia e Águas foi autorizado a celebrar um Memorando de Entendimento com a empresa Organizações Mário Freitas & Filhos, para a realização em conjunto de estudos preliminares de viabilidade para projectos de infra-estruturas eléctricas nos domínios de Produção, Transporte e Distribuição.

“Tendo em conta a existência em Angola de um potencial hidroeléctrico elevado e a possibilidade de serem consideradas ampliações na capacidade de geração de energia hidroeléctrica”, lê-se no documento.

Além disso, o Governo reconhece neste projecto, sem valor de investimento indicativo, a “necessidade de reabilitar e expandir as redes de distribuição de electricidade das sedes municipais e implementar os projectos de electrificação rural”.

Angola precisa de mais do que duplicar a capacidade de produção de electricidade instalada no país, para cerca de 5.000 MegaWatts (MW), para responder a um crescimento de 12% ao ano no consumo.

Os números foram, na altura, transmitidos pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, tendo então admitindo que a actual potência instalada, de 2.162 MW, não é suficiente para responder ao consumo real.

“E estes números não incluem fontes térmicas privadas [geradores] que as pessoas usam para garantir o fornecimento próprio, porque são equipamentos importados e que não estão identificados. Daí que estes 5.000 MW sejam uma estimativa das nossas reais necessidades”, assumiu o ministro.

Na prática, este défice provoca sistemáticos cortes no fornecimento de electricidade à população, face ao aumento do consumo, explicado com o registo de subida das temperaturas no país, além da reduzida taxa de cobertura do território.

O plano de reforço da capacidade instalada em Angola envolve, até 2017, a ampliação da barragem de Cambambe, a construção da barragem de Laúca (ambas na província do Cuanza Norte) e da Central do Ciclo Combinado do Soyo (província do Zaire), permitindo atingir a produção considerada necessária para assegurar os consumos de uma população de 24,3 milhões de pessoas.

Cambambe aí está

A barragem de Cambambe, a maior actualmente em operação em Angola, vai passar a produzir em Dezembro 960 MegaWatts (MW) de electricidade, com a conclusão das obras de reforço, empreitada que conclui um projecto iniciado no tempo colonial português. Começou a ser construída em 1958 e foi inaugurada a 6 de Outubro de 1963 pelo então Presidente da República português, Américo Thomaz.

A informação foi prestada hoje pelo director em exercício daquela barragem, Ernesto Costa, dando conta que o aproveitamento hidroeléctrico já está a funcionar a “mais de 60% da exploração”, com o aproximar da conclusão das obras de alteamento e reforço da potência, a cargo dos brasileiros da Odebrecht.

“De acordo com o andamento das obras, a previsão é para Dezembro de 2016 conseguirmos atingir os 960MW, que são os 100% programados para o aproveitamento hidroeléctrico”, disse o responsável da barragem, na província do Cuanza Norte.

Construída pela Hidroeléctrica do Zêzere e de investimento totalmente privado, a barragem surgiu face à negociação para a instalação em Angola de uma fábrica de alumínio, com elevadas necessidades de consumo de electricidade.

A instalação acabou por não se concretizar e a construção que já estava em curso parou sem que fosse concluído o projecto inicial, ficando-se a barragem pela quota de 102 metros (acima do nível do mar) e com quatro grupos geradores (dois só foram instalados em 1969) num total de 180 MW, para garantir os consumos de Luanda.

A conclusão da barragem, com o seu alteamento e reforço da potência, chegou a estar prevista para 1975 e depois para 1982, mas a situação política e de conflito armado no país nunca permitiu retomar a empreitada.

A barragem de Cambambe manteve-se inalterada até 2007, quando o Governo decidiu completar o projecto inicial, aumentando a produção dos então 90 MW – capacidade que era mais baixa do que a inicial devido à falta de manutenção – para 960 MW, num investimento de 1,4 mil milhões de dólares em três fases, a cargo da construtora brasileira Odebrecht.

“Foram feitos os estudos e chegou-se à conclusão que o estado da barragem era tão bom que permitia esse alteamento. Estamos a falar de uma barragem com 50 anos e subi-la mais 30 metros”, explicou em 2015, à Lusa, o engenheiro português Luís Pereira, responsável de projecto da Odebrecht.

A primeira fase da obra, que arrancou em 2009 e que nunca impediu a produção de electricidade, implicou a reabilitação dos quatro grupos geradores já então com praticamente meio século de funcionamento, voltando a colocar a potência de produção em 180 MW.

Seguiu-se a empreitada de alteamento, acrescentando 30 metros à altura da barragem, conforme previsto no projecto original português, o que por si só garantiria elevar essa produção para 260 MW.

“Basicamente estamos a cumprir o projecto inicial, porque esta barragem, quando foi projectada, já foi para esta quota [130 metros] e para estes parâmetros”, referiu o responsável da obra.

A terceira fase, que também está em curso, envolve a implementação de uma nova central, com quatro geradores e um total de 700 MW.

Dois destes grupos geradores já entraram em funcionamento, operações que têm levado a vários cortes no abastecimento de electricidade a Luanda e outras províncias do norte de Angola.

Com estes trabalhos, a área de albufeira do Kwanza vai passar de 1,5 para cerca de seis quilómetros quadrados, com o lago a terminar a três quilómetros do paramento da barragem, o dobro do actual.

Trabalham nesta obra cerca de 4.600 trabalhadores, dos quais 290 expatriados de 20 nacionalidades diferentes, sobretudo brasileiros e portugueses.

Folha 8 com Lusa

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