Angola tem um presidente
mas falta-lhe ter um líder!

Um grande líder, é aquele que entende muito cedo e rapidamente o seu papel histórico no destino da sua nação. É assim que cito aqui o exemplo de Mao Tsé Tung, que logo e muito cedo percebeu que o seu papel era o de levantar, e livrar a China da instabilidade crónica em que se encontrava desde a queda da monarquia, pelo nascimento da República Popular.

Por Osvaldo Franque Buela (*)

É através dessa transformação profunda que com o tempo que Deng Xiaoping, por sua vez percebeu que seu papel histórico era de impulsionar economicamente a China ao seu mais alto nível.

Assim, foi capaz de configurar a economia socialista dos mercados que tornou a China em 40 anos a segunda potência económica mundial.

O trabalho de Deng Xiaoping não teria sido possível sem o trabalho realizado por Mao nos anos anteriores.

Em Angola, Agostinho Neto lançou expressamente uma curta frase que Eduardo dos Santos não consegui aplicar e seguir como visão para do país: o mais importante é resolver o problema do povo. Trinta e sete anos depois, nenhum problema do povo conseguiu resolver.

Após o discurso sobre o estado da nação, e os diferentes caminhos e meios anunciados por José Eduardo dos Santos para livrar Angola da crise e começar a diversificação da economia, estamos longe da visão desenvolvida pelos líderes chineses, que ele deveria seguir como fonte de inspiração para o futuro de Angola.

O país foi expressamente esquecido na sua visão cega das realidades do povo, apenas mencionou as Forças Armadas, doravante consagrada à sua defesa, dos seus interesses, e à desestabilização das democracias nos países vizinhos, enfim… um discurso que deixou a ressaca a todos, e ainda pior para os cabindas que precisam de ter esperança de uma mudança positiva nas suas vidas.

Gostaria de dizer à juventude de Cabinda que chegou o momento de nos cuidarmos, nós mesmos, sem esperar nada do oeste ou leste, nem do norte e do sul. Chegou o momento de mudar a nossa atitude.

A nossa actual situação já não é da vontade de Deus, é o facto de continuar a aceitar esta condição de escravo sem reagir na medida das atrocidades. Deus só ajuda aqueles que se levantam e agem e não os que consentem calados as injustiças, bradando aos céus com a fé de que lá virá a solução, de lá certamente virá a força espiritual necessária, mas nunca a solução.

Este é o momento para a elevação do nível de consciência cívica no seio da população, principalmente na camada jovem…

Não estou aqui para atribuir a culpabilidade dessa atitude de inércia à nossa juventude, porque todos sabemos que é simplesmente a consequência da política da cultura de medo e de covardia incutida no seio da sociedade.

Chegou o momento de dar as costas a todos os tipos de propaganda mentirosa com caracter eleitoralista nos próximos dias… por que um discurso sobre um suposto estado da nação que não faz nenhuma menção especial sobre o território que contribui efectivamente com mais de 50% do Orçamento Geral do Estado é mais do que uma flagrante falta de consideração.

Como Cabindas, não devemos tolerar este cinema, ser cabinda no meu ponto de vista implica um dever sagrado sobre a nossa actual situação, o dever e a necessidade de respeitar a nossa identidade, a nossa cultura, o nosso território, as nossas riquezas e as nossas outras especificidades.

Não fazer cumprir esse dever sagrado é considerado como crime de traição, sim por que tenho orgulho de ser Cabinda, orgulho da nossa história contada pelos nossos mais velhos, embora não consta nos manuais do ensino do MPLA. Mas crescemos a ouvir falar de liberdade, honra, justiça, direitos humanos e dignidade, falaram-nos para não esquecer o valor histórico do Tratado de Simulambuco, de venerar o exemplo glorioso de todos aqueles que se sacrificaram para perpetuar essa luta, Luis Ranque Franque, Xavier Lubota, Tiburcio Luemba e Nzita Henriques Tiago ultimamente…

Este discurso vazio sobre o estado de uma suposta nação leva-nos a crer que eles vão continuar a colonizar-nos com leis injustas como sempre, mas deixem-me dizer que aqueles que obedecem às leis injustas, que aceitam de ser maltratados, abusados, que toleram ser tratados como coisas no país onde nasceram são homens sem honra.

Eu sei que, do fundo da escuridão política de Cabinda e além de intimidações e traições, existem homens e mulheres de honra, estudantes e activistas cívicos, trabalhadores e desempregados, empresários e homens de Deus, e que todos juntos como um só homem, capazes de se levantarem energicamente contra aqueles que pisam e roubam a nossa honra e que se sentam sobre a nossa dignidade e a dos nossos filhos…

A soberania popular, a soberania da lei, são as duas bases sobre as quais se senta uma nação, é assim que vencermos o opressor porque a nossa causa é justa.

(*) Chefe do Gabinete da Presidência da FLEC

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