A arte de fraccionar

Ao longo da história, a humanidade especializou-se na arte de fraccionar. Começou com as migrações forçadas em busca de comida e territórios de clima ameno, algo que incitou a divisão das primeiras tribos. Criamos lanças, armas de fogo, castelos.

Por Gabriel Bocorny Guidotti
Jornalista e escritor
Porto Alegre – Brasil

O carácter da exclusividade reverteu as inovações tecnológicas em prol da divisão de nossos entes. Não raro, a guerra estava no epicentro dessa equação insolúvel. E então, nasceu a política.

Nesse sentido, embora a tecnologia caminhe no compasso da política, as linhas de progressão destas duas formas de manifestação humana são absolutamente distintas.

Como vive a sociedade do século 21 em comparação à sociedade da Idade Média? A resposta é evidente. O relacionamento entre as pessoas, todavia, guardadas as proporções de ocorrências trágicas como a Inquisição, permanece semelhante. Há discordância por toda parte, tanto em uma época quanto na outra.

Em outras palavras, a tecnologia evolui em linha recta e para frente. A política está estagnada, pois ainda não encontramos um meio eficaz de vivermos juntos. Onde há pensamento, há divergência. A lei tratou de disciplinar nossos actos, mas não nossos corações.

A paixão por uma ideia vira ódio, transforma-se em extremismo. Não que todos devam pensar exactamente da mesma forma, mas visar o bem comum… Inexiste colectividade nesse quesito.

Aprendemos a cozinhar, aprendemos a produzir mais energia. Depois veio a escrita, a matemática. Criamos aparatos dos sonhos, uma engenharia humana inspirada em Deus. Nossos arranha-céus povoam zonas urbanas. Desvendamos milhões de segredos do espaço. Livros perenes continuam insuflando o intelecto de jovens ao longo dos séculos. A despeito de tamanha evolução, as relações interpessoais continuam selvagens. Nos órgãos do poder, não existe situação sem oposição.

E se todos fossem situação, em favor do bem comum? A política humana é mesquinha, não encontra formas de unificar o poder ou direccioná-lo a um propósito estritamente colectivo.

Os romanos, cujos contos inspiram nossa sociedade até hoje, já haviam nos alertado sobre as intempéries de um mundo supostamente civilizado. Ditaduras dão lugar a repúblicas. Repúblicas dão lugar a impérios. Sempre existirão monarquias. A tecnologia, em paralelo, segue seu rumo em direcção ao infinito.

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