Solidariedade de Gene Sharp

O livro “From Ditactorship to Democracy”, que esteve no centro das detenções dos 15 presos políticos angolanos, vai ser publicado em português, tendo o autor cedido os direitos de publicação aos detidos, disse hoje a responsável da editora Tinta da China.

B árbara Bulhosa, responsável pela editora Tinta da China, disse à agência Lusa que o livro “From Dictatorship do Democracy” (Da Ditadura à Democracia) vai ser lançado, pela primeira vez, em português até ao final do ano e que o académico norte-americano “Gene Sharp cedeu os direitos de autor aos presos políticos angolanos”.

“Eu expliquei a situação ao Gene Sharp e ele cedeu os direitos de autor. Ele não quer receber nada da edição portuguesa. Cede os direitos de autor aos presos e às famílias”, explicou Bárbara Bulhosa.

A editora Tinta da China “vai também ceder o produto das vendas do livro aos 15 jovens e às famílias dos que se encontram presos” em Luanda por motivos políticos desde Junho, estando dois deles em greve de fome: Luaty Beirão e Albano Bingo.

“Quem me propôs a tradução do livro de Gene Sharp foi o Pedro Coquenão”, explicou Bárbara Bulhosa referindo-se ao artista luso-angolano também conhecido como “Batida” e amigo pessoal de Luaty Beirão, que também tem nacionalidade portuguesa, e que cumpre hoje o 28º dia em greve de fome.

“É uma forma de estarmos solidários para com os presos e é uma forma para que mais pessoas possam ler o livro em português e perceberem o que está em causa. O que eles em Luanda estavam a ler é um guia para se passar da ditaduras à democracia de forma pacífica”, acrescentou a responsável pela editora Tinta da China.

Os 15 jovens angolanos foram presos em Luanda no momento em que discutiam as ideias de Gene Sharp sobre as formas de resistir e combater as ditaduras de forma pacífica tendo sido acusados de golpe de Estado.

O livro “From Dictatorship to Democracy” foi publicado em 1993 para o Movimento Democrático da Birmânia após a detenção de Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz, tornando-se no trabalho mais traduzido e divulgado de Gene Sharp, a nível mundial.

A mensagem central do livro indica que o poder das ditaduras baseia-se na “obediência voluntária” das pessoas que são governadas e que se os cidadãos desenvolverem técnicas para deixarem de consentir o poder o regime ditatorial pode desmoronar-se.

Gene Sharp nasceu em 1928 no Ohio, é formado em Ciências Sociais e esteve preso durante nove meses (entre 1953 e 1954) pelos protestos contra o serviço militar obrigatório imposto aos jovens norte-americanos durante a Guerra da Coreia.

A correspondência trocada entre Gene Sharp e Albert Einstein sobre os protestos contra o serviço militar obrigatório levaram mais tarde o cientista alemão a escrever a introdução do livro que o académico norte-americano publicou sobre Gandhi.

Os estudos e análises de Sharp sobre a aplicação de medidas não-violentas contra a prepotência política e as ditaduras baseiam-se, sobretudo, nos estudos sobre o Gandhi e nas teorias sobe a desobediência civil do filósofo norte-americano Henry Thoreau (1817-1862).

Sharp, professor na Universidade de Massachusetts desde 1972, foi várias vezes nomeado para Prémio Nobel da Paz e fundou, nos EUA, a Albert Einstein Institution, uma organização sem fins lucrativos dedicada à investigação e estudos sobre as acções políticas não violentas.

A par do livro “From Dicatorship to Democracy”, Sharp publicou, entre outros trabalhos, as 198 medidas de acção não violenta (“198 Methods of Nonviolent Methods”) que vão desde discursos públicos ao boicote eleitoral por parte dos cidadãos, ao uso da arte ao serviço das ideias políticas e a manifestações pacíficas ou vigílias.

As ideias de Sharp deram origem ao documentário “How to Start a Revolution” do escocês Ruaridh Arrow e são utilizadas por dissidentes e grupos de oposição a ditaduras em vários países que vivem sob ditaduras.

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3 Thoughts to “Solidariedade de Gene Sharp”

  1. José Francisco Garcia

    A tradução em português deste livro já existe, e esta em português americano (brasileiro). Eu pessoalmente tenho este livro, só que em formato PDF. Não sei porque mas parece que esta notícia está mal contada ou existe alguma coisa de errado

    1. Português americano? Bom. A notícia refere-se à tradução para, já gora, português europeu…

  2. El Chapo

    por favor, a tradução desse livro já existe há bastante tempo, tudo bem né mas também não é para tanto.

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