Repressão para dar (pois claro!) a volta à crise

A repressão tem aumentado em Angola devido à queda dos preços do petróleo, diz a revista The Economist. De acordo com a jornalista Joana Rodrigues, da DW (Voz da Alemanha), analistas económicos da revista britânica escrevem que “a principal segurança do Governo contra a insurreição é a violência”.

P or imperativo ético para com um povo sofredor, importa dizer que são cada vez mais os meios de comunicação social que, a nível internacional, acordaram para a nossa triste realidade. Importa, igualmente, salientar que tudo o que dizem tem sido escrito por nós, com risco da própria vida, há já muitos anos.

Segundo a revista The Economist, a queda do preço do petróleo aumentou a repressão e as disparidades em Angola. A resposta do Governo de José Eduardo dos Santos à desaceleração da economia foi o lançamento da “maior campanha de propaganda desde os tempos coloniais”. Para os analistas da revista britânica, isto serve de máscara para as “enormes desigualdades entre as elites e o resto da população do país.”

Cá na casa costumamos escrever que poucos têm cada vez mais milhões e que, ao mesmo tempo, cada vez mais milhões têm pouco… ou nada. O regime cataloga-nos como inimigos e não perde uma oportunidade para exerce o que melhor sabe fazer: pôr a razão da força acima da força da razão. Já estamos, é claro, tarimbados nesta luta. Por alguma razão o nosso Director tem mais de 100 processos em “tribunal”.

Sebastien Marlier é economista e especialista em assuntos africanos na Economist Intelligence Unit, e considera que a situação é bastante mais complexa, e que a repressão sempre esteve presente em Angola. É verdade. Alguns só agora estão a ver. Até agora olharam para o lado. Mais vale tarde do que nunca? Certamente.

“O governo angolano nunca reagiu bem a críticas, protestos ou tudo o que possa ameaçar a sua hegemonia. Com a crise do preço do petróleo aumentou o descontentamento da população devido ao enfraquecimento da economia e aumentou a consciência de que a maioria dos lucros petrolíferos vai apenas para as elites,” afirma Sebastien Marlier.

Segundo o economista, casos como Rafael Marques ou Kalupeteka não estão directamente ligados ao actual contexto económico, mas as dificuldades têm pressionado o governo do MPLA que tem reagido através desta maior repressão. Não se esqueça que o MPLA está no poder desde 1975 e , ainda, que José Eduardo dos Santos é o dono desse poder sem, contudo, nunca ter sido nominalmente eleito.

Sebastien Marlier afirma que Angola foi gravemente afectada por esta descida do preço do petróleo, tanto a curto como a médio prazo: “A economia angolana foi bastante afectada por esta crise. Angola depende muito do petróleo e por isso o crescimento económico abrandou, o kwanza enfraqueceu e a dívida pública aumentou. As perspectivas a médio prazo também estão ameaçadas. Vai ser mais difícil diversificar a economia agora que há menos dinheiro para investir noutros sectores”.

Apesar de tudo, o Presidente José Eduardo dos Santos achou por bem visitar a China, diz a DW, com o intuito de reforçar a cooperação bilateral entre os dois países. Sebastien Marlier vê esta visita como uma forma de Angola tentar superar a crise do sector económico sem ter de recorrer a organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“A China é o maior comprador do petróleo angolano e é também o maior credor do país. Penso que nesta visita o Presidente vai tentar expandir a relação entre os dois países para além do petróleo. Em 2009 houve outra crise petrolífera e Angola recorreu à China para evitar ter de pedir ajuda ao FMI, e penso que isso pode acontecer de novo”, diz o economista.

Angola é o segundo maior produtor petrolífero da África subsariana, e a sua economia é quase exclusivamente dependente deste produto. A descida nos preços do petróleo teve efeitos económicos muito negativos no país. Espera-se que este ano o crescimento do Produto Interno Bruto seja de apenas 3%, em comparação com os 6.8% de 2013.

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