Observatório Luso-Angolano
– Pouco mais do que simbólico

A unidade de estudos económicos da revista britânica The Economist considera que criação do Observatório de Investimentos entre Portugal e Angola é uma medida eminentemente simbólica que surge na sequência do forte declínio das exportações portuguesas para Angola.

D e acordo com uma nota de análise da Economist Intelligence Unit (EIU), “o Observatório de Investimentos foi constituído para aumentar as relações bilaterais e os fluxos entre Angola e Portugal através da facilitação e melhoramento do foco dos investimentos em Portugal e Angola, embora na realidade a sua criação seja mais provavelmente uma medida simbólica do que uma iniciativa prática”.

Na nota enviada aos investidores, a EIU lembra que o Observatório foi formalmente lançado no final de Junho durante um fórum de investimentos entre Portugal e Angola, em Luanda, depois de estar planeada há bastante tempo.

“O seu lançamento foi adiado por causa do desentendimento diplomático devido às investigações judiciais portuguesas às elites angolanas, pelo alegado envolvimento em branqueamento de capitais em Lisboa”, escreve a EIU, concluindo que “isso levou ao cancelamento de uma cimeira bilateral de alto nível, planeada durante um longo tempo e que deveria ter acontecido em meados de 2014, ao passo que o Presidente de Angola usou o seu habitual discurso do estado da nação para questionar a relação do país com Portugal”.

No entanto, resume a EIU, “essas tensões estão agora resolvidas, já que um número de investigações legais em Lisboa acabaram”.

Na nota aos investidores, a EIU lembra que a exportação de bens portugueses para Angola caiu 23,6% entre Janeiro e Março face ao primeiro trimestre de 2014, um valor que os analistas atribuem, “com toda a probabilidade, à falta de divisas estrangeiras, causada pela baixa dos preços do petróleo e queda das receitas do Governo”.

Mesmo fazendo tudo o que Eduardo dos Santos manda, nomeadamente considerar que os altos dignitários do regime angolano estão acima da lei, Portugal continua com a corda no pescoço. A prova disso está na criação da linha de crédito de 500 milhões de euros para reforçar a tesouraria das empresas portuguesas que exportam para Angola.

“Há mais de 300 empresas que estão a recorrer a esta linha de crédito e nós no Governo, em concreto no Ministério da Economia, estamos atentos porque se for necessário ampliar esses 500 milhões assim o faremos, ou proporemos em Conselho de Ministros”, disse o ministro da Economia, António Pires de Lima.

O ministro português falava após se reunir com o congénere angolano, Abraão Gourgel, no âmbito da visita de dois dias que efectuou à capital angolana, onde presidiu à criação do Observatório dos investimentos angolanos em Portugal e portugueses em Angola.

De acordo com António Pires de Lima, esta linha de financiamento, operacional desde Abril, serve também para apoiar as cerca de 5.000 empresas portuguesas que têm Angola como único destino das exportações.

Esta actividade está a ser afectada pela crise económica em Angola, decorrente da forte quebra nas receitas com a exportação de petróleo, com as vendas de Portugal a caírem 25% no primeiro trimestre do ano, o que levou o ministro português a assumir o “conselho” aos empresários nacionais para diversificarem os destinos de exportação.

“É muito importante que a economia angolana diversifique fontes [de receita], e esse é um objectivo dos responsáveis angolanos, assim como é importante que as empresas portuguesas diversifiquem os seus mercados”, apontou o governante português.

A crise da cotação do petróleo no mercado internacional obrigou o Governo angolano a rever, em Março, o Orçamento Geral do Estado para 2015, estimando agora um défice nas contas públicas de 7% e um crescimento do Produto Interno Bruto de 6,6%, mas as dificuldades não se ficaram pelos cofres públicos e alastraram para a economia real, nomeadamente pela falta de divisas estrangeiras.

Várias empresas estrangeiras queixaram-se da dificuldade em obter dólares para conseguir não só pagar aos fornecedores, mas também aos próprios funcionários, que geralmente recebem uma parte do salário na moeda de origem e outra parte na moeda local.

O ministro Pires de Lima sublinhou aos jornalistas o “forte compromisso de Portugal com Angola”, ao nível das empresas e do poder político.

“Nós estamos em Angola nos momentos de maior crescimento, mas também nos momentos de maior exigência”, disse, após a reunião com o congénere angolano.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano, Portugal foi destronado no primeiro trimestre deste ano da liderança dos fornecedores de Angola pela China e pela Coreia do Sul.

Após vários anos a liderar, Portugal figurou entre Janeiro e Março no terceiro lugar das origens das importações por Angola, com uma quota de 10,9% e 70.033 milhões de kwanzas (526,6 milhões de euros) de produtos vendidos, traduzindo-se numa quebra homóloga de 2,1%.

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