O maior entre os maiores

Como nos recordamos, a revista norte-americana “Time” elegeu o Papa Francisco como Personalidade do Ano em 2013 “por arrancar o papado do palácio e o levar para as ruas” e por “dosear o julgamento e a misericórdia”.

Por Orlando Castro

E speramos que rapidamente aquele conceituada revista oiça quem sabe da matéria, no caso o Pravda (“Jornal de Angola”), e não tenha dúvidas em colocar no primeiro lugar do pódio o mais merecedor dessa designação: José Eduardo dos Santos.

Aliás, os argumentos para a escolha do Papa podem ser os mesmos para reconhecer Eduardo dos Santos. Nós ajudamos. “Desde que assumiu funções, em 1979, o Presidente de Angola ocupou exactamente o centro das conversas fulcrais dos nossos tempos: sobre a riqueza e a pobreza, a equidade e a justiça, a transparência, a modernidade, a globalização, o papel das mulheres, a natureza do casamento, as tentações do poder”.

Todos, angolanos e cidadãos do mundo (da Coreia do Norte à Guiné-Equatorial) desejam que este ano a revista se lembre de uma personalidade como Eduardo dos Santos que, há décadas, tem sido o timoneiro de todas as qualidades e intervenções que foram atribuídas ao Papa. Aliás, até no âmbito religioso, importa realçar que o Presidente de Angola é mesmo considerado “o escolhido de Deus”.

Prevemos que, após o anúncio da escolha da prestigiada (não tanto como o “Jornal de Angola”, obviamente) revista norte-americana, o porta-voz do regime, José Ribeiro, afirme que escolha “não surpreende, tendo em conta a ressonância e a grande atenção que a presidência de Eduardo dos Santos desperta em todo o mundo, e arredores”.

Dirá a “Time”, que “o líder do MPLA, do Governo e Presidente da República, tornou-se ao longo de décadas a voz da consciência, com a atenção centrada na compaixão”, apresentando Eduardo dos Santos como “o Pai do Povo”.

Na sua declaração, José Ribeiro considerará “um sinal positivo que um dos reconhecimentos mais prestigiosos no âmbito da imprensa internacional seja atribuído a quem anuncia no mundo valores espirituais, religiosos, morais, éticos e sociais eficazmente a favor da paz e de uma maior justiça.”

Por seu lado, o Eduardo dos Santos explicará que não procura fama nem sucesso, que faz simplesmente o seu trabalho de anúncio do Evangelho do amor que nutre por todos. Se isto atrai milhões de angolanas e de angolanos o Presidente sente-se feliz. Se esta escolha “da Figura do Ano” significa que muitos compreenderam – pelo menos implicitamente – esta mensagem, com certeza que isto o fará sentir-se feliz, concluirá o porta-voz do regime.

E todos ficaremos francamente felizes. Distinguir o representante de Deus, o “escolhido de Deus”, será uma forma de mostrar ao mundo quanto ele é superior a dirigentes como N’Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny, Hassan II ou Nelson Mandela.

De facto, não fosse a “visão estratégica” do Presidente José Eduardo dos Santos e, reconheça-se, a democracia, a reconciliação, a igualdade, a liberdade, a equidade social, os direitos humanos, já há muito tinham colapsado.

O mundo tem ainda de perceber, de uma vez por todas, que também na economia, tal como em todas as outras vertentes da vida, e da morte, dos angolanos, Deus tem em Eduardo dos Santos o seu escolhido. Poucos são os que se podem gabar de chefiar um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto dos seus países.

Além disso, José Eduardo dos Santos não chegou ontem à liderança de um país que é um paradigma celestial. Ele, o nosso “escolhido de Deus”, tinha 37 anos quando, a 21 de Setembro de 1979, foi investido no cargo, sucedendo a António Agostinho Neto, que tinha morrido poucos dias antes em Moscovo na sequência de uma intervenção divulgada como cirúrgica… no sentido clínico.

Capitaneados pelo mais alta personalidade mundial de todos os tempos, alguns angolanos continuarão a ser cada vez mais ricos e outros, pouco relevantes para o caso, continuarão a ser cada vez mais pobres. Embora seja assim há quase 40 anos, certo é que, como tudo na vida, não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.

Como dizia Teta Lando, eventualmente num poema – quem sabe? – da autoria de Eduardo dos Santos, “se tu és branco isso não interessa a ninguém, se tu és mulato isso não interessa a ninguém, se tu és negro isso não interessa a ninguém. O que interessa é a tua vontade de fazer uma Angola melhor. Uma Angola verdadeiramente livre, uma Angola independente.”

Até agora o líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República não eleito nominalmente e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, mostra que não brinca em serviço e que não descansará enquanto não for escolhido como personalidade mundial e, é claro, não conquistar um mais do que merecido Prémio Nobel.

Em abono do apoio que aqui manifestamos a José Eduardo dos Santos, lembramos que, de quando em vez, o Presidente revela um humor inaudito, visível quando exorta os seus súbditos a, nem mais nem menos, “não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido”.

Ainda no âmbito da sua veia humorística, nem sempre compreendida pelos jornalistas, José Eduardo dos Santos também diz que o MPLA pugna desde 1975 “pela defesa das liberdades direitos e garantias dos cidadãos, e considera o direito à associação como fundamental”.

O auge desse humor, dir-se-ia que é quase um orgasmo, regista-se quando o Presidente evoca como a causa de todos os males a “pesada herança do colonialismo”.

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