Como guia do povo, o MPLA recolhe, recicla e reeduca

As autoridades angolanas abriram, segundo dizem, uma investigação para averiguar as denúncias sobre o rapto de pelo menos nove jovens activistas que iriam participar numa manifestação que se realizou em Luanda no dia 29 de Julho.

E m causa estão denúncias que surgiram nas redes sociais e em alguns órgãos de comunicação social sobre raptos atribuídos a agentes de segurança, levados a cabo antes e durante aquela manifestação, convocada para exigir a libertação de outros 15 jovens detidos desde 20 de Junho, que terminou com uma violenta carga policial.

De acordo com informação revelada hoje pela Polícia, por se tratar de um crime público – rapto – foi aberto um processo de inquérito pelo Serviço de Investigação Criminal, órgão afecto ao Ministério do Interior.

Estes raptos foram associados no próprio dia a uma tentativa das forças de segurança de impedir a realização da manifestação, posição negada oficialmente pela Polícia Nacional, que através do porta-voz do Comando Geral, Aristófanes dos Santos, confirma agora “diligências para apurar a verdade”.

A Polícia Nacional negou anteriormente que tenha feito detenções durante a manifestação de activistas em Luanda, na passada quarta-feira, garantindo que apenas – numa nova técnica oratória – “recolheu” jovens, entretanto libertados, por “tentarem alterar a ordem” na cidade.

A informação foi prestada à agência Lusa pela porta-voz do Comando Provincial de Luanda daquela força, intendente Engrácia Costa, garantindo a oficial que a presença da Polícia no Largo da Independência à hora da manifestação dos activistas visava garantir a segurança de outro evento, do MPLA, que decorria no local e que fora convocado para dar cobertura à actuação de “recolha” dos não afectos ao regime.

“Foram [jovens activistas que se manifestavam] recolhidos porque insistiam, apesar da nossa sensibilização. Depois de identificados numa unidade nossa, foram mandados embora. Não, não foram detidos, foram recolhidos só para prevenir alguma alteração da ordem que eles tentavam fazer”, afirmou a oficial da polícia, sem adiantar números.

Por modéstia orgânica, a intendente Engrácia Costa não diz que a Polícia aproveitou a recolha para sensibilizar os jovens para a necessidade de se inscreverem em cursos de educação patriótica, bem como para ingressarem no partido que é, só por si, sinónimo de Angola – o MPLA.

A Polícia do MPLA carregou nesse dia sobre cerca de 40 manifestantes que exigiam a libertação de 15 activistas detidos por suspeita de planearem um golpe de Estado – a qual não estaria autorizada pelo governo provincial, segundo a versão oficial que se baseia na “lei” de que manifestações autorizadas são apenas as do MPLA -, tendo-se registado alguns feridos na sequência dessa intervenção.

O protesto concretizou-se no Largo da Independência, com os jovens manifestantes gritando por “Liberdade” quando entravam naquela área, que registava forte aparato policial e onde já decorria uma acção das estruturas juvenis do MPLA, envolvendo cerca de duas centenas de jovens.

Engrácia Costa reiterou, em declarações anteriores, que a Polícia agiu inicialmente “sensibilizando” os manifestantes que, na aproximação ao largo em que se verificou a intervenção, “eram aconselhados a regressar para casa”. Caso não o fizessem seriam, amena e civicamente, “recolhidos” para acções de reciclagem.

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