Kalupeteka, os profetas e o demónio (I)

Rios de tinta são por ora levados à estampa e proliferam os protestos para denunciar o criminoso tratamento dado aos “revús”, que já nem jovens são depois de terem sido catalogados com o epiteto insultante de “indivíduos” pelo sistema vigente.

C omo do costume, por mais odioso que seja o caso, e este é, nada vai chegar para se fazer justiça, pois esta nem sequer existe, tem nome e não é justiça, é desejo de JES, um homem que na sua fachada de bondade e tolerância, esconde um rancor enorme por quem o critica.

Nesta jogada maquiavélica, repetimos, maquiavélica, foi quase completamente esquecido o assassinato de mais de mil pessoas, cometido por forças militares e da Polícia (PN) a 16 de Junho no Monte Sume contra os fiéis da seita do “profeta” Julino Kalupeteka, que, do alto do seu diploma da quarta-classe da escola primária, ousou pôr em prática em Angola o que aconselhava o grande escritor e poeta britânico, nomeado mais de uma vez para o Prémio Nobel de literatura, Joris-Karl Huysmans, “Viver à parte e esquecer”, bem conhecida e propagada entre os intelectuais do mundo inteiro.

Kalupeteka virou a frase do avesso, proclamou que era preciso isso mesmo, viver à parte, mas sobretudo não esquecer… Não esquecer o quê? Simples, não esquecer o desprezo a que é votado o povaço pobre de Angola.

Era intolerável para o regime e no dia 16 de Abril de 2015, num arreganho de autoridade leonina, os polícias apareceram no acampamento para prender o “profeta”. Fizeram-no em plena celebração do culto, o que, segundo a lei angolana, é proibido.

Era um assalto ilegal e, perante a ostensiva agressão policial, os seguranças do profeta reagiram mal, embora talvez não houvesse outro modo de reagir: mataram os polícias e, na violência instalada, foram mortos sem lhes ter sido dado tempo de recorrer ao argumento de legítima defesa.

Eles, os “Kalupetekas” tinham-se retirado nesse Monte Sume e não desejavam de modo algum interferir nas decisões tomadas pelo Estado angolano. Queriam viver à parte, nada mais. Não levaram em conta que, em Angola, quem não é do MPLA é contra o MPLA e como eles tinham deixado de colaborar com o regime, foram considerados persona non grata.

Até aí, vá que não vá, mas ir prender um homem que conseguiu aglomerar em seu redor mais de 4.000 pessoas num monte a monte do progresso, protagonizando um acto tão altamente mediático não podia ser admitido se eles não o fizesse debaixo da bandeira do MPLA!

Os seus fiéis foram mortos como se fossem vermes e sobre este genocídio reina nos tempos que correm um silêncio sepulcral.

Consideramos, todavia, que os agentes da PN foram vítimas da acção irresponsável das próprias autoridades públicas que não souberam lidar com a situação, sem verem fantasmas “revolucionários” contra os interesses ditos públicos que defendem, ou seja, quase todos os interesses da vasta Corte Presidencial.

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