Faltam investigadores nacionais na área da saúde

O Centro de Investigação em Saúde de Angola (CISA), uma parceria entre o Governo angolano e instituições portuguesas, deverá fechar 2015 com 20 trabalhos científicos publicados, apesar de se deparar com falta de investigadores nacionais.

A posição foi transmitida hoje pelo investigador-coordenador do CISA, Miguel Brito, à margem da conferência “Os desafios da investigação em saúde”, realizada em Luanda em parceria com o Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM), de Moçambique, entre outras entidades.

O encontro promoveu a troca de experiências entre investigadores e especialistas dos centros dos dois países, sobretudo na análise de projectos de investigação em curso sobre infecções respiratórias, doenças diarreicas, malária e doenças tropicais negligenciadas.

O centro angolano funciona há sete anos no Caxito, província do Bengo, e conta com um orçamento anual na ordem de um milhão de dólares e com 60 profissionais, em várias áreas. Deste total, dez são investigadores, oito em doutoramento (seis angolanos) e dois a terminar o mestrado.

“Mas precisamos de atrair investigadores angolanos, o que tem sido uma dificuldade. O centro tem vagas, projectos que precisam de investigadores angolanos empenhados e estamos abertos, nos vários níveis”, disse o investigador português Miguel Brito.

O CISA resulta de uma parceria entre o Ministério da Saúde de Angola, o Governo Provincial do Bengo, o Camões-Instituto da Cooperação e da Língua e a Fundação Calouste Gulbenkian para promover a investigação na área da saúde, melhorando o conhecimento de doenças e problemas de saúde que afectam Angola, como a malária, a tuberculose e o VIH-SIDA, as “doenças negligenciadas” e as doenças não-comunicáveis, como as cardiovasculares.

Em sete anos de funcionamento já viu 13 artigos de investigação própria publicados em revistas internacionais, número que mede a relevância do trabalho realizado e que até final do ano deverá elevar-se a duas dezenas de publicações.

Apesar desta relevância, a falta de interesse de investigadores angolanos, que preferem a formação e investigação no exterior do país, é uma dificuldade vivida localmente.

“Uma ausência de muitos anos de centros de investigação, e os que existiam com dificuldades em divulgar os seus trabalhos, fez passar a ideia que não havia investigação em Angola. Na realidade existe. Dispersa, mas existe”, enfatiza Miguel Brito.

“E nós já temos encontrado excelentes investigadores angolanos nos últimos anos”, acrescentou.

Ao intervir no seminário, o ministro da Saúde angolano, José Van-Dúnem, afirmou que o CISA, através da investigação e apoio directo à população, é hoje uma “enorme mais-valia” para a “melhoria da qualidade de vida dos angolanos”, defendendo o alargamento da sua actividade e o reforço da inclusão de investigadores angolanos.

“Precisamos de continuar e estimular jovens investigadores, de continuar a procurar respostas cada vez mais pertinentes para os enormes desafios da saúde em Angola”, apontou o governante.

A 60 quilómetros de Luanda, o centro funciona como catalisador da investigação biomédica, envolvendo investigadores angolanos e internacionais, nomeadamente, portugueses. Além da investigação propriamente dita, cujo resultado apoia a definição da política nacional de saúde, a presença destes investigadores permite auxiliar directamente a população local durante o processo.

“Já começam a existir resultados práticos. Alguns do projectos que são realizados no centro já nos dão indicações, mas a investigação nem sempre dá resultados no dia seguinte, é um processo que demora e Angola está a seguir o seu caminho”, rematou o responsável pelo CISA.

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