Do BESA ao Banco Económico com cobertura da Sonangol

Em apenas um ano, desde a intervenção estatal, o verde do Banco Espírito Santo Angola (BESA) desapareceu das principais cidades angolanas dando lugar à cor púrpura do Banco Económico, controlado pela Sonangol.

I ntervencionado a 4 de Agosto de 2014, logo após o colapso do Banco Espírito Santo (BES) português e devido ao crédito malparado, o BESA foi transformado, por decisão dos novos accionistas e conforme exigência do banco central angolano, em Banco Económico, a 29 de Outubro, avançando também um aumento de capital.

A operação foi então contestada pela administração do BES, mas em Junho último avançou a fase final, com a introdução da nova imagem corporativa, que passou a ser controlado maioritariamente, em 39,4%, pelo grupo petrolífero estatal Sonangol.

O BES português, que era então accionista maioritário do banco (55%) desapareceu da estrutura accionista, vendo a participação diluída no aumento de capital, o mesmo acontecendo com a sociedade Portmill, que perdeu a quota de 24%.

Já o Novo Banco, de Portugal, ficou, entre outras mais-valias potenciais, com uma participação de 9,72%, por conversão de 53,2 milhões de euros do anterior empréstimo do BES português, no valor de 3.300 milhões de euros à data da intervenção estatal.

A posição dominante foi assumida pela petrolífera estatal angolana, através da “empresa mãe”, a Sonangol EP (16%), e das participadas Sonangol Vida SA (16%) e Sonangol Holding Lda (7,4%).

Nesta operação, segundo o relatório e contas de 2014, a petrolífera identifica um investimento nesta participação de pelo menos 16.848 milhões de kwanzas (124 milhões de euros).

“Se a Sonangol perder dinheiro, perdeu dinheiro, porque é investimento de risco. Não há suporte público neste investimento”, disse, em Julho último, o presidente do Conselho de Administração da empresa petrolífera, Francisco de Lemos José Maria.

Em termos individuais, o grupo Lektron Capital SA – sociedade associado a investidores chineses – passou a deter uma participação de 30,98% no capital da instituição. Segue-se a Geni Novas Tecnologias SA, associada a investidores angolanos, com uma quota de 19,9%.

O administrador da Sonangol também admitiu que aquele grupo concedeu “empréstimos” às duas sociedades privadas que integram a estrutura accionista, para manterem as participações do novo Banco Económico.

António Paulo Kassoma tornou-se no primeiro presidente do Conselho de Administração do Banco Económico SA (da mesma sigla BESA), enquanto Sanjay Bhasin preside à Comissão Executiva.

“O profundo conhecimento que as equipas do banco detêm sobre o mercado e a economia permitem-nos contribuir para o crescimento económico do país (…). O nosso objectivo é tornar esta nova marca numa referência de excelência e sucesso, na indústria bancária de Angola”, lê-se na mensagem divulgada pela Administração do novo banco em Julho, no lançamento da nova imagem corporativa, que afastou em definitivo o nome Espírito Santo da banca angolana.

O BES, tal como era conhecido, acabou a 3 de Agosto de 2014, quatro dias depois de apresentar um prejuízo semestral histórico de 3,6 mil milhões de euros.

O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os activos e passivos de qualidade num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e os passivos e activos tóxicos, no BES, o ‘banco mau’ (‘bad bank’), que ficou sem licença bancária.

Para garantir a capitalização do Novo Banco, a instituição recebeu uma injecção de 4.900 milhões de euros por parte do Fundo de Resolução bancário, um fundo gerido pelo Banco de Portugal e que detém 100% do capital do Novo Banco. Deste montante, 3.900 milhões resultam de um empréstimo remunerado feito pelo Estado e o restante resulta de um empréstimo, também remunerado, feito por vários bancos a operar em Portugal e de capitais do próprio Fundo de Resolução.

O Novo banco foi entretanto posto à venda havendo neste momento três interessados que terão até 7 de Agosto para melhorar as suas propostas. A comunicação social tem referido que os seleccionados são os grupos chineses Fosun e Anbang, a par do fundo norte-americano Apollo.

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