Dívida pública cresce, cresce

A agência de notação financeira Moody’s aponta Angola como o país da África subsaariana cuja dívida pública, em dólares, mais aumentou desde o início da descida do preço do petróleo, em meados do ano passado.

“A ngola, Gana e Zâmbia são os países mais afectados pelo aumento da dívida denominada em moeda estrangeira, que aumentou ainda mais com a emissão de dívida pública nos mercados internacionais”, lê-se num relatório especial sobre o impacto dos preços mais baixos das matérias-primas nas economias africanas, citado pela Agência Lusa.

O documento surge menos de um mês depois de Angola ter recorrido aos mercados internacionais para angariar 1,5 mil milhões de dólares a uma taxa de juro de 9,5% ao ano durante dez anos.

O relatório, uma análise aprofundada sobre este sector, com o título original ‘The impact of lower commodity prices on African economies’, salienta que “apesar dos esforços para diversificar as suas economias e acumular ‘folgas orçamentais’, os exportadores de matérias-primas na África subsaariana continuam vulneráveis aos choques de preços”.

A descida dos preços, lembram os analistas da Moody’s, já atirou a previsão de crescimento do Fundo Monetário Internacional para valores do século passado: “o FMI estima que o crescimento do PIB real da região vá desacelerar para 3,8% este ano, o valor mais baixo desde 1999”.

O impacto, notam, tem sido “considerável”, de tal forma que esperam que a maioria dos países desta região vá desacelerar ou estagnar o crescimento económico: “O abrandamento teve um impacto desproporcional em países que tinham crescido rapidamente antes do choque dos preços das matérias-primas, nos quais esta aceleração era suportada pelo aumento das exportações”.

É por isso que Angola é repetidamente nomeada como o país mais afectado por ter a economia mais dependente do petróleo, cuja produção e exportação valia mais de 75% das receitas fiscais e representava mais de 95% das exportações do país antes da crise.

A diversificação económica, comummente apontada como a principal solução para cortar com a dependência das receitas petrolíferas, não está a avançar na região como um todo.

“A região é hoje menos diversificada do que era há duas décadas”, e nesta zona “a diversificação das exportações e a complexidade económica é menor nos exportadores de petróleo africanos do que nos seus pares em desenvolvimento na Ásia ou na América Latina”, dizem os analistas da Moody’s.

Assim, não surpreende que o panorama para os próximos meses deva passar por mais descidas de ‘rating’, o que torna ainda mais caro o financiamento de que os países precisam para compensar a quebra das receitas fiscais, como no caso de Angola.

“As degradações do ‘rating’ da Zâmbia, Gana e Moçambique, bem como a perspectiva de evolução negativa para Angola e para a República do Congo, reflectem o enfraquecimento da tendência de crescimento, o alargamento dos défices gémeos [orçamental e de balança comercial] e a crescente incerteza sobre a capacidade dos governos consolidarem as suas finanças públicas”, avalia a Moody’s.

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