Democracia formal, ditadura de facto… a bem do regime

Democracia formal, ditadura de facto... a bem do regime - Folha 8

O deputado e dirigente da UNITA Eugénio Manuvakola disse hoje, em Luanda, que o “grande adversário dos angolanos” continua a ser “o modelo de partido único”, que o MPLA, no poder em Angola, ainda preserva. E pelo andar do regime, assim deverá acontecer durante as próximas décadas.

E ugénio Manuvakola falava durante a conferência sobre “O Direito à Verdade e à Memória Colectiva como Direitos Humanos na Construção do Estado Democrático de Direito” organizada pela Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), que hoje se iniciou em Luanda.

“Eu sugiro que se desmantelem os partidos únicos, falta um. Queremos o MPLA democrático, fora das instituições públicas, fora da função pública, para que o país possa respirar alguma democracia”, afirmou Eugénio Manuvakola, que rubricou em 1994 o acordo de paz para Angola, denominado “Acordos de Lusaka”.

Ao político, igualmente membro do Secretariado Executivo da UNITA, o maior partido da oposição, coube, ao lado do padre Raul Tati, a apresentação do tema “Direito à Verdade e à Memória à Luz dos Vários Acordos de Paz: Gbadolite 1989, Bicesse 1991, Lusaca 1994, Luena 2002 e Namibe 2006”.

Segundo Eugénio Manuvakola, o modelo de partido único, vigente em Angola até 1991, “serviu muito bem para a libertação, mas não serve para a gestão do país, porque já provocou 40 anos quase de guerra”.

“Eu estou a pedir que as pessoas entendam que a máquina de libertar o país, não serve para governar, estou a dizer que é preciso desmantelar a máquina de libertar o país. Se formos a ver, os angolanos estão a ser distraídos com o passado da história gloriosa e nós queremos o futuro da reconstrução do país”, frisou.

Para Eugénio Manuvakola, o diálogo interno fica igualmente afectado pela “rigidez do partido único”.

“No partido único, o diálogo é difícil, aquele sistema bom que libertou um país, construído nas matas, aquela máquina não é bem para o diálogo interno”, afirmou.

“O diálogo interno é numa democracia, mas nós não temos partidos democráticos para fazer esse diálogo interno, precisamos de aprimorar a democracia. Nós [UNITA] pelo menos já estamos a eleger os nossos presidentes, queremos ver se os outros também fazem isso”, acrescentou.

Em declarações à margem da conferência, António Ventura, da AJPD, fez um balanço positivo do primeiro dia de trabalhos, salientando que o debate está a corresponder à expectativa.

“O que nós pretendemos com esta conferência é exactamente olhar para o passado de modo a que as gerações atuais e futuras não possam repetir os mesmos erros que a geração de libertação cometeu ao longo desses anos”, disse António Ventura.

De acordo com aquele activista de direitos humanos, a conferência pretendeu promover um espaço de discussão inclusiva entre várias pessoas, para se buscarem mais informações sobre o processo de afirmação da história de Angola, sobretudo das causas e da origem do conflito.

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