Quando a China espirra Angola entra logo em coma

O Wall Street Journal (WSJ) dedica hoje um extenso artigo à influência da China em África, nomeadamente em Angola, concluindo que o abrandamento da segunda maior economia do mundo tem um forte impacto no relacionamento com os países africanos.

“A s ligações económicas de Angola a Pequim ilustram um problema mais amplo em África; as nações que ligaram as suas fortunas à China encontram-se agora reféns da turbulência económica no país”, escrevem os jornalistas do WSJ, depois de lembrarem, logo no início do artigo, a visita do Presidente de Angola à China, em Junho.

“O antigo autocrata esperava que novos empréstimos e investimentos da China, o maior parceiro comercial de Angola, conseguissem ajudar a conduzir a economia dependente do petróleo por entre as águas revoltas, de acordo com fontes financeiras não identificadas, mas que fazem negócios com o Governo angolano”, escreve o jornal.

Lembrando o acordo de 4,5 mil milhões de dólares para a construção de uma barragem hidroeléctrica e outros projectos e a declaração de “irmãos e parceiros estratégicos de longo prazo” com que o primeiro-ministro chinês saudou o Presidente angolano, o WSJ salienta que “os importadores angolanos estão agora em dificuldades para pagar artigos básicos como medicamentos ou cereais”.

O artigo, que parte de Angola para salientar a dependência das economias africanas do andamento da China, lembra que a Moody’s colocou o ‘rating’ de Angola em risco de descida por causa do aumento da dívida pública e nota que a moeda local, o kwanza, perdeu um quarto do valor face ao dólar desde Janeiro.

“Sem os chineses, não há dinheiro”, diz uma fonte do sector financeiro contactada pelo WSJ, que diz que o país não se preparou para o desenvolvimento noutras áreas, perpetuando a dependência do petróleo.

O problema, analisa o WSJ, é que “a China pode não estar sempre a comprar”, e o modelo de crescimento económico conduzido de forma centralizada dificilmente é replicado fora da China. No primeiro semestre, segundo dados dos Serviços de Alfândega da China, relatados pelo Fórum Macau, as trocas comerciais caíram 45,24% para um total de 10,42 mil milhões de dólares até Junho.

Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 2,14 mil milhões de dólares, o que representa uma subida de 2,77%, mas, em contrapartida, comprou mercadorias avaliadas em 8,28 mil milhões de dólares (7,46 mil milhões de euros), ou seja, menos de metade comparativamente a igual período do ano passado (-51,16%), o que mostra bem o impacto da descida do preço do petróleo nas contas públicas angolanas.

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