Nada altera o rumo divino do regime

Nada altera o rumo divino do regime - Folha 8

A reacção dos angolanos que se interessam pelas opiniões da Amnistia Internacional (AI) variam consoante o estatuto de cada um. Os do regime, de barriga cheia, desvalorizam e até ridicularizam. Os outros, esses sabem que é verdade mas, com poucas excepções, preferem nem pecar em pensamento. Tudo porque temem o poder divino do “querido líder”.

Odirigente da CASA-CE, Alexandre Dias dos Santos “Libertador”, disse à VOA que só uma manifestação de todas as forças da oposição poderá servir para chamar a atenção do Governo. Está errado. Quando o país tem um Governo que se julga dono exclusivo da verdade, ou é corrido ou por lá fica décadas e décadas.

“A minha opinião é que a oposição e as organizações da sociedade civil se juntem para uma grande manifestação para exigir que parem de torturar os cidadãos porque, meu irmão, não estou a ver eles a pararem”, afirmou o secretário executivo da CASA-CE em Luanda.

Luaty Beirão, músico e activista cívico que participou em diversas manifestações levadas a cabo contra as práticas do Executivo, disse estar convencido de que “vão continuar as mangueiras, as pessoas vão continuar a ser levadas para Cassualala”, uma referência à pratica da Policia do regime, que não do país, de levar manifestantes detidos para zonas muito distantes de Luanda onde são depois abandonados. Umas vezes vivos, outras mortos, quase sempre torturados.

Por sua vez, Carbono Casimiro, também activista, diz que vários relatórios foram publicados anteriormente, mas que o Governo continua a reprimir os cidadãos. Por isso não acredita que alguma coisa vai mudar com este relatório.

“Penso que não são os relatórios que levam a mudar, mas sim as suas consciências de que estão a praticar actos errados”, disse.

Por sua vez João Pinto, quarto vice-presidente da bancada parlamentar do MPLA, paladino da reprodução das teses oficiais, sipaio de alto nível e candidato a chefe de posto, disse à VOA que o Executivo recebeu parecer positivo na última avaliação periódica realizada pelas Nações Unidas e não é a um documento da Amnistia Internacional que o MPLA vai submeter-se.

É verdade. O rapazola vai mesmo chegar a chefe de posto. E bem merece. Ele até consegue olhar para a uma qualquer banheira do Palácio Presidencial e dizer que é o rio Kwanza. Bem merece ser promovido.

Rcorde-se, como ontem o Folha 8 revelou, que num relatório intitulado “Punishing dissent: suppression of freedom of association, assembly and expression In Angola” (Punir a dissidência: supressão da liberdade de associação, de reunião e de expressão em Angola), a AI acusa forças de segurança do regime de execuções extrajudiciais e uso excessivo da força na repressão a opositores ao Governo de José Eduardo dos Santos.

A organização de defesa dos direitos humanos, com sede em Londres, divulgou um relatório em que apresenta mais de 20 casos de protestos e manifestações reprimidos pela força nos últimos dois anos.

“O Governo do Presidente José Eduardo dos Santos tem de parar imediatamente com as mortes extrajudiciais, os desaparecimentos forçados, as detenções arbitrárias e a tortura daqueles que se opõem ao regime”, insta a Amnistia Internacional.

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