Hong Kong: Coragem não chega para vencer

Hong Kong: Coragem não chega para vencer

Os estudantes de Hong Kong devem ser mais ponderados na linguagem que usam, defende o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, advertindo que a escalada dos protestos é incompatível com o princípio da não-violência. E quando os jovens se manifestam, sem violência, e a violência é sobre eles próprios e exerce-se logo a partir do momento em que apenas pensam em manifestar-se?

Eles devem “ter cuidado e não usar de forma leviana a expressão ‘vamos intensificar a acção’. O que querem dizer com isso? Uma escalada significa elevar para o nível da força. Mas qual é a nossa força? É a força da paz, da razão, a coragem”, afirma o cardeal Joseph Zen Ze-kiun.

No caso de Angola, para além de os cardeais terem mais o que fazer do que cuidar dos seus rebanhos humanos, ter razão não basta. Neste caso, a razão – tal como uma vasta série de outros valores cívicos – é propriedade de quem está no Pode, de quem não conhece outros valores que não sejam do tipo: contra a força não há resistência. Mas há. E é por haver resistência que que a guerra nos assolou durante décadas. Não o esqueçamos.

O cardeal Joseph Zen Ze-kiun reuniu-se com os líderes da Federação de Estudantes e do movimento Scholarism, os dois grupos que levaram para a rua um boicote às aulas, posteriormente reforçado com o início da campanha de desobediência civil que o grupo “Occupy Central” iniciou a 28 de Setembro.

“Estive muitas vezes em Admiralty (epicentro dos protestos, junto à sede do Governo de Hong Kong]). Esperei o dia todo e consegui falar com eles à noite, mas foi só alguns minutos porque percebi que estavam muito cansados e que não estavam dispostos a ouvir”, explicou.

“Foram simpáticos o suficiente para se sentarem comigo, mas como não tive oportunidade de dizer muitas coisas, decidi escrever-lhes uma carta, e uns dias depois, conclui que tinha de dizer a toda a gente o que penso do movimento”, acrescentou.

Na actual fase do movimento, em que cada manifestante é líder de si próprio e não há um rumo definido nas ruas, o bispo emérito de Hong Kong defende a mudança de estratégia: “As pessoas não podem fazer sacrifícios por um período muito longo sem verem o fim à vista. A ocupação de vários locais da cidade já é muito longa. E quanto mais tempo vai ser?”

Ao contrário dos estudantes, “que pensam que só têm algo nas mãos”, se o líder do governo de Hong Kong se demitir e Pequim recuar na decisão definitiva de conceder o sufrágio universal, mas só com candidatos eleitorais pré-seleccionados, Joseph Zen defende que o movimento pró-democracia já granjeou pelo menos duas vitórias: o apoio da população à causa de “uma verdadeira eleição” e a resposta firme “à força excessiva” da Polícia.

“As pessoas ficaram quando lançaram gás lacrimogéneo. Isso também é uma vitória. Agora o Governo está a agir de forma completamente ridícula. Devemos dizer que não falamos com gente idiota: ‘Vocês estão a usar a violência, por isso nós vamos para casa. Quando se acalmarem nós voltamos outra vez'”, destacou.

“Eu disse-o aos estudantes, mas eles não ouvem”, frisou, ao esclarecer, todavia, que os jovens têm cometido “erros menores”.

Para o bispo emérito, “a batalha é longa, e é preciso usar meios menos dispendiosos para alcançar grandes resultados: porque esta iniciativa de bloquear o tráfego, de ficar acampado durante muito tempo, consome muita energia”.

“É verdade o Governo rompeu o diálogo com os estudantes e que foi possível chamar milhares às ruas novamente, mas quantas vezes o vão conseguir?, questionou.

Crente de que ao mudar para uma “estratégia mais sensata”, as pessoas vão responder às convocatórias para uma acção de grande escala, o cardeal nascido em Xangai e com experiência da China e de Hong Kong, aposta em continuar os protestos mediante “acções simbólicas”, de pequena dimensão.

“Penso que os estudantes devem ouvir mais as pessoas e não só seguir a sua ideia”, analisou.

“Muitas pessoas têm feito a mesma sugestão, mas com diferentes intenções. Eu faço-o por uma questão de estratégia em primeiro lugar, e por uma questão de segurança. Penso que os estudantes não gostam de colocar a segurança em primeiro lugar: estão prontos para morrer, mas na verdade isso não representa nenhuma vantagem para a causa”, analisou.

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