Declaremos guerra à revista Time

Declaremos guerra à revista Time - Folha 8

A revista Time revela amanhã quem será o vencedor da “personalidade do ano”. Foram, entretanto, conhecidos os nomeados. Lamentavelmente não consta o mais merecedor desse prémio: José Eduardo dos Santos.

O s oito candidatos, sem que se perceba o critério, são os que se seguem. Mesmo todos juntos mão chegam aos calcanhares do “querido líder” e do “escolhido de Deus” que governa Angola desde 1979.

Manifestantes Ferguson – A Time inclui entre os candidatos o das as pessoas que saíram à rua em Agosto e agora em Novembro como forma de protesto contra a morte do jovem negro Michael Brow e como forma de apelo à paz;

“Cuidadores” do Ébola – A conceituada revista coloca nesta lista todos aqueles lutaram e continuam a lutar contra o maior surto de Ébola de que há memória.

Vladimir Putin – O Presidente da Rússia foi notícia este ano não só pelos Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi como também pela posição que tomou perante a Crimeia e papel que teve – e tem – na guerra civil no leste da Ucrânia.

Taylor Swift – A jovem cantora norte-americana bateu todos os recordes com o seu recente álbum ‘1989’ mas ganhou destaque este ano por ter aberto uma guerra com os serviços de música por streaming, ao retirar todas as suas canções do Spotify como forma de protesto pelos direitos dos artistas.

Jack Ma – O criador da Alibaba tornou-se no homem mais rico da China e mentor de um dos agora gigantes de comércio electrónico.

Tim Cook – Substituiu Steve Jobs é candidato mas não foi o lançamento dos iPhone 6 e 6 Plus e do Apple Watch que fazem dele uma das figuras do ano. Segundo a Time, Cook entra nesta lista por ser o primeiro CEO a assumir publicamente a sua homossexualidade

Masoud Barzani – O Presidente do ganhou este ano destaque pela sua luta contínua contra o Estado Islâmico.

Roger Goodell – O presidente da National Football League tem enfrentado a comunicação social e a opinião pública devido aos processos em tribunal de atletas envolvidos em casos de violência doméstica. O mais mediático foi de Ray Rice.

Todos desejávamos que, este ano, a Time se lembrasse de Eduardo dos Santos, uma personalidade que, há décadas, tem sido o timoneiro de todas as qualidades e intervenções que mudaram o curso do mundo. Francamente. Distinguir Putin, por exemplo, e esquecer o “escolhido de Deus” foi um manifesto atentado contra uma personalidade, Eduardo dos Santos, que só em África deixa a quilómetros de distância dirigentes como N’Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny, Hassan II ou Nelson Mandela.

Não fosse a “visão estratégica” do Presidente José Eduardo dos Santos e, reconheça-se, a democracia, a reconciliação, a igualdade, a liberdade, a equidade social já há muito tinham colapsado.

O mundo e a Time têm de perceber, de uma vez por todas, que também na economia, tal como em todas as outras vertentes da vida, e da morte, dos angolanos, Deus tem em Eduardo dos Santos o seu escolhido. Poucos são os que se podem gabar de chefiar um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto dos seus países.

Além disso, José Eduardo dos Santos não chegou ontem à liderança de um país que é um paradigma celestial. Ele, o nosso “escolhido de Deus”, tinha 37 anos quando, a 21 de Setembro de 1979, quando foi investido no cargo, sucedendo a António Agostinho Neto, que tinha morrido poucos dias antes em Moscovo na sequência de uma intervenção divulgada como cirúrgica… no sentido clínico.

Capitaneados por aquele que deveria ser a Personalidade Mundial 2014, alguns angolanos continuarão a ser cada vez mais ricos e outros, pouco relevantes para o caso, continuarão a ser cada vez mais pobres. Embora seja assim há quase 40 anos, certo é que, como tudo na vida, não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.

Até agora o líder do MPLA (partido que governa Angola desde 1975), presidente da República não eleito nominalmente e chefe do Governo, José Eduardo dos Santos, mostra que não brinca em serviço e que não descansará enquanto não for escolhido como personalidade mundial e, é claro, não conquistar um mais do que merecido Prémio Nobel.

Em abono do apoio que aqui manifestamos a José Eduardo dos Santos, lembramos que, de quando em vez, o Presidente revela um humor inaudito, visível quando exorta os seus súbditos a, nem mais nem menos, “não pactuar com a corrupção e com a apropriação de meios do erário público ou do partido”.

“Hoje é voz corrente equiparar a pessoa investida em funções políticas a um homem sem palavra, desonesto e sem escrúpulos. É necessidade absoluta assumir atitudes positivas que desfaçam essa imagem pálida e inconveniente de forma a dar credibilidade, valorizar e repor a nobreza da função dos dirigentes políticos”, diz Eduardo dos Santos com a mesma veemência com que, por exemplo, condena a cultura da morte ou do assassinato.

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