Branquear factos não significa reconciliar

Branquear factos não significa reconciliar - Folha 8

Há 22 anos ocorreu em Luanda um massacre selectivo de dirigentes e militantes da UNITA por forças do MPLA. A responsabilidade moral, pelo menos esta, tem um rosto: José Eduardo dos Santos.

De acordo com a Amnistia Internacional, “a 31 de Outubro de 1992 desencadeou-se em Luanda um intenso tiroteio. Forças governamentais atacaram as residências e escritórios da UNITA. A PIR e a Policia, apoiadas por civis a quem tinham distribuído armas nas semanas anteriores, procuraram elementos da UNITA, casa a casa…”

De facto, o massacre de Luanda marcou o início de muitos outros realizados pelos homens de mão de José Eduardo dos Santos nas cidades de Angola.

Fala-se que essa barbárie se saldou pelo assassinato de 50.000 angolanos. Entre eles, destacados dirigentes da UNITA, como o vice-presidente Jeremias Chitunda, o secretário-geral Paulo Mango Alicerces, o representante da UNITA na CCPM Elias Salupeto Pena e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Chimbili.

O seu crime foi o de se encontrarem na capital do país para encontrarem uma solução pacífica e negociada.

Os corpos dos dirigentes da UNITA e de milhares de militantes e simpatizantes da UNITA pelo país, nunca foram devolvidos às suas famílias para funerais condignos, como rezam os costumes africanos. Digamos que é um, apenas, um dos muitos baluartes da dita reconciliação nacional que o regime diz estar a implementar desde 2002.

Já agora, em abono da verdade, recorde-se o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.

Ou o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.

Ou o facto de mais de 40.000 angolanos terem sido torturados e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.

Ou o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 angolanos e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda.

Ou o o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província, Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.

Ou o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo assassinato perto de 300 civis.

Ou o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores.

Ou o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.

Ou o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA em todo o país.

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